“Quando nasce uma criança, nasce também uma culpa.” Essa frase ilustra a pressão que acompanha a parentalidade. Com responsabilidades, demandas e incertezas no dia a dia, é comum que mães e pais experimentem altos níveis de estresse. O problema é que, a depender do nível, isso pode causar danos à saúde deles e de seus filhos.
O que é estresse parental?
O estresse parental ocorre quando os pais sentem que seus recursos emocionais, físicos ou financeiros não são suficientes para lidar com as exigências de cuidar de um filho.
“É uma resposta intensa ao acúmulo de responsabilidades. Além do esforço físico e mental, há a pressão de ser o pai ou a mãe ‘perfeito’, o que amplia ainda mais essa sobrecarga”, completa Marília Scabora, psicóloga e fundadora da Tribo Mãe.
Essa experiência pode acontecer com qualquer pessoa, mas fatores sociais, econômicos, culturais e as características dos pais e filhos impactam na presença e frequência do estresse parental. Tanto que ele é mais comum entre as mães.
De fato, um estudo da USP mostrou que quase metade das mães participantes da pesquisa (47,9%) apresentaram níveis altos de estresse parental já no primeiro mês de vida do bebê. Segundo Marília, isso acontece pois elas frequentemente assumem a maior parte das responsabilidades e enfrentam a pressão social de serem multifuncionais.
Por outro lado, “os homens também experienciam esse fenômeno, especialmente ao tentar equilibrar carreira e paternidade, ou quando não encontram espaço para expressar suas dificuldades.”
A falta de rede de apoio e a sobrecarga contínua podem levar a um nível mais severo de estresse, conhecido como esgotamento parental, onde o cansaço extremo toma conta, tornando os pais emocionalmente distantes dos filhos.
E nisso também há disparidade de gênero. Um estudo da Universidade de Ohio (EUA), publicado em 2022, revelou que 68% das mulheres relatam exaustão parental, contra 42% dos homens.
Quais são os impactos do estresse parental?
Esse estresse impacta tanto os pais quanto os filhos. “Nos adultos, pode levar ao esgotamento, ansiedade e irritabilidade. Para as crianças, o ambiente tenso afeta o vínculo e o desenvolvimento emocional,” ressalta Marília. E a dinâmica costuma entrar em um ciclo: pais estressados reagem impulsivamente, sentem-se culpados e o desgaste continua.
Thais Requito, professora de mindfulness e inteligência emocional, viveu a sobrecarga e os impactos dela ao conciliar os cuidados intensivos com a filha, Chiara, de 1 ano e 9 meses, e o trabalho remoto no fim da pandemia.
A legislação brasileira oferece apenas cinco dias de licença paternidade, o que fez o marido de Thais voltar a trabalhar rapidamente, enquanto ela tentava equilibrar o trabalho remoto com a maternidade e não aceitava a hipóteses de ter uma rede de apoio paga.
Os primeiros meses foram especialmente desafiadores. “Passava dias sem conseguir tomar banho ou lavar o cabelo, não dormia ou me alimentava bem. Era uma sensação aflitiva, não conseguir fazer uma refeição tranquila sem que ela acordasse e chorasse.”
Ao mesmo tempo, Thais queria ficar todo o tempo com a bebê e precisava cumprir seus contratos com os clientes. “Sentia a sobrecarga física e emocional enquanto tentava atender às demandas profissionais. A privação de sono e a falta de tempo para mim intensificaram o estresse,” compartilha.
Com o tempo, Thais encontrou formas de ajuste. “Decidi me entregar ao fluxo. Se ela acordasse na hora do meu banho, tomava banho depois. Quando aceitei que era temporário, nossa relação e meu bem-estar melhoraram. Também pedi mais apoio ao meu marido, dividindo com ele as responsabilidades.”
Essa opção, contudo, não é viável para todas as mulheres. O Brasil tem mais de 11 milhões de mães que criam seus filhos sozinhas, segundo o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). Muitas delas sequer têm dinheiro para bancar o trabalho de cuidado.
Mas, ainda que haja rede de apoio familiar, paga – com babás e cheques – e do marido, o estresse parental é inevitável. Em níveis controlados, porém, o estresse é natural e até ajuda os pais a responderem com eficácia a situações difíceis. A questão é o tamanho dele.
Thais concorda: “Não é possível evitar completamente o estresse, pois ele faz parte de quem somos. É uma resposta do nosso corpo quando estamos diante de situações que nos tiram do que é conhecido ou confortável”.
Como lidar com o estresse parental?
Marília orienta que, ao reconhecer o estresse parental, o primeiro passo é acolher essa realidade sem culpa. Buscar apoio — seja na família, entre amigos ou com profissionais — é essencial. Cuidar de si mesmo, estabelecer limites e dividir tarefas também ajuda a aliviar a pressão. Práticas como terapia e grupos de apoio podem ser um suporte valioso para pais que se sentem sobrecarregados.
Mas nada disso basta sem a distribuição justa de tarefas entre os pais, ou se a sociedade não cumprir seu papel. O provérbio africano “é preciso de uma aldeia inteira para cuidar de uma criança” nos lembra disso. Escolas, creches e ajudar os pais são importantes.
De todo modo, adotar mecanismos saudáveis, reduzir expectativas irreais e aceitar que não há uma forma perfeita de ser pai ou mãe para diminuir a intensidade do estresse.
“Permitir-se errar faz parte do processo. Uma pausa breve antes de reagir pode evitar impactos maiores na convivência familiar. Reconectar-se emocionalmente após momentos tensos é fundamental para o equilíbrio,” termina a especialista.
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