O corpo humano sofre alterações à medida que fica mais velhos. Entre elas, a voz, que é um dos aspectos mais importantes nas relações interpessoais, perde volume e potência. O envelhecimento da função vocal é chamado de presbifonia, que é específica da velhice.
A produção dos sons ocorre pela movimentação das pregas vocais. Elas vibram, em média, 100 vezes por segundo nos homens e 200 vezes por segundo nas mulheres para gerar a fala. Conforme os anos passam, a laringe e as musculaturas envolvidas nesse processo sofrem com a diminuição da massa, alterações hormonais e diminuição da capacidade pulmonar, de acordo com a otorrinolaringologista Beatriz Moraes. Essas alterações tornam o sofisticado sistema de produção do som menos eficiente.
Esse fenômeno, contudo, ocorre de maneira diferente entre os sexos. “Ele começa antes nas mulheres, mas a presbifonia acaba se tornando mais intensa nos homens, que sofrem mais com a atrofia da prega vocal”, segundo ela. Além disso, a voz delas fica mais grave, ou seja, grossa, enquanto a deles fica mais aguda, portanto fina.
O decorrer dos anos torna mais comum queixas como rouquidão, pigarro, cansaço ou desconforto para falar, menor capacidade de projetar a voz. “É preciso consultar um médico para identificar se esses sintomas não são fruto de um problema de saúde.”
É possível retardar?
A intensidade do envelhecimento da voz é multifatorial, por isso diferentes cuidados ajudam a retardar e minimizar esse impacto. “Uma delas é o treinamento vocal adequado e contínuo. Inclusive, é por isso que pessoas que tiveram ao longo da vida treinamento de canto sentirão menos os efeitos da presbifonia, por exemplo”, afirma a médica.
Treinar a projetar a voz de forma correta e fazer exercícios para aquecer é uma das indicações da otorrinolaringologista. “Mesmo aqueles que não trabalham diretamente com a voz, devem evitar esforçar a voz, evitando gritos e sussurros que levam a um aumento de tensão nas pregas vocais”, complera. Outras medidas simples são não pigarrear, caprichar na hidratação e beber muita água para aumentar a lubrificação das pregas vocais.
Bons hábitos alimentares, exercício físico e sono de qualidade são medidas primordiais também para os cuidados vocais. Mas outros fatores podem ocasionar na perda da potência da voz. “O refluxo faringolaríngeo e gastroesofágico podem piorar a voz pelo retorno do ácido. Algumas doenças degenerativas como o Parkinson podem levar a piora da qualidade vocal”, afirma Beatriz.
Existe tratamento?
É importante mencionar que existe tratamento para a voz envelhecida, sendo a fonoterapia um recurso importante. “Pense nos exercícios como um fortalecimento da musculatura laríngea e uso adequado. Casos mais severos, podem se beneficiar de tratamentos cirúrgicos, com injeção de substâncias na prega vocal”, indica a profissional.
Nem todo mundo sofre de presbifonia de maneira acentuada e existem aqueles que mantêm suas vozes jovens, mesmo tendo passado dos 70, por exemplo. É o caso de Caetano Veloso, Roberto Carlos e Sílvio Santos. “A saúde física e mental, a história de vida, aspectos próprios à constituição do indivíduo e o uso profissional da fala estão entre os fatores que interferem no envelhecimento vocal”, termina.