De todas as agonias que podem ser sentidas por nós, seres humanos, uma das piores é a sensação de não conseguir respirar. Essa é uma verdade que foi escancarada pela convivência com a Covid-19 nos últimos meses.
Agora imagine lidar com falta de ar regularmente. Parece lastimável, não? Mas, infelizmente, essa é a realidade de cerca de 20 milhões de asmáticos no Brasil.
Comumente manifestada na infância, mas também podendo se apresentar durante a vida adulta, a asma, além de impedir o indivíduo de ter qualidade de vida, fazendo com que o mesmo se limite na realização de atividades, também faz com que, em casos extremos, haja a necessidade de se ausentar do trabalho ou da escola, necessitando de internação médica.
Segundo o banco de dados do Sistema Único de Saúde, ligado ao Ministério da Saúde, a doença é responsável, em média, por 350.000 internações no Brasil anualmente. Sendo assim, ela é o terceiro fator que motiva as internações no país. O mais agravante é: não existe uma cura.
Diagnosticada com asma grave na fase adulta, a atriz e apresentadora Taís Araújo sabe bem o que é conviver com a doença.
“Fazia uma semana que eu tinha dado à luz a minha filha quando a asma se apresentou pela primeira vez. Eu perdi a minha voz por completo, não conseguia falar. Eu andava e percebia um chiado no peito, que fazia com que eu tossisse muito. Depois vinha uma falta de ar incontrolável. Até então, eu não identifiquei como um problema, só achei estranho”, conta a atriz em entrevista a CLAUDIA.
“Sempre vinha uma crise de tosse super forte e agoniante”, diz
Sobre a infância, a atriz conta que sempre teve problemas respiratórios. “Eu nasci com sete meses, porque minha mãe era fumante e continuou com o tabagismo na gestação. Sempre tive muita rinite, sinusite e outras inflamações comuns, mas asma nunca”, afirma.
Apesar do episódio de falta de ar após o nascimento de sua filha, Taís só procurou um médico meses depois, quando vivenciou uma crise de asma durante o trabalho. “Eu estava fazendo o programa Mister Brau e toda vez eu acabava os ensaios com muita falta de ar, mas naquele dia foi uma crise muito forte e uma pessoa da produção falou que eu tinha asma. Eu neguei, achei absurdo, porque achava que asma era coisa de criança, mas a pessoa insistiu e ainda garantiu que eu estava tendo uma crise. Foi então que eu procurei um pneumologista que me diagnosticou e passou uma medicação”, descreve.
O equilíbrio entre a vida agitada e a medicação foi difícil de ser alcançado. A atriz relata que mesmo realizando o tratamento e usando a popular “bombinha”, ao final das gravações, ensaios e atuações ela sempre tinha crises de falta de ar. Até que um dia, foi necessária a internação.
“Eu estava indo para o ensaio da 2ª temporada do Mister Brau, mas eu tossia e sentia muita falta de ar. Foi quando o Lázaro [Ramos, seu marido] parou e falou ‘não dá pra gente ir, você não está conseguindo nem respirar.’ Entrei em contato com o meu médico e ele me mandou ir para o hospital. Chegando lá, fui internada”, relembra.
“Eu tinha a peça O Topo da Montanha para fazer naquela mesma semana, mas eu não pude ir. Lembro que eu, a doida do trabalho, cheguei a falar para o médico que eu precisava ir para São Paulo, mas de acordo com ele, não havia condições, pois eu não estava saturando bem. Só consegui sair de lá do hospital uma semana depois, no dia do aniversário da minha filha”, relata a atriz.
Medicação como aliada
“Não conseguia trabalhar, nem sequer dar uma fala sem sentir falta de ar. Era um sentimento de impotência constante”, desabafa Taís Araújo
“Os sintomas da asma, naquela época, eram coisas que eu nunca havia tido na minha vida. Só que desde que eu comecei a ter, me atrapalhava demais, poque eles não se apresentavam só quando eu estava nervosa ou cansada, era o tempo todo. Até que a gente conseguiu controlar”, diz.
Ela, que hoje toma medicação regularmente, destaca o quão importante foi ter tido acesso à medição e a um acompanhamento.
“Meu médico sempre fala ‘quem tem problema respiratório é igual a quem tem pressão alta, tem que usar remédio, um pouquinho todo dia’, ainda mais no meu caso que é asma grave. E tem que ter uma continuidade, porque é isto que vai garantir que não se tenha crises”, aponta Taís, que já chegou a ter a gravação de uma novela suspensa por conta de um declínio respiratório.
#RespireLiberdade
Nomeada embaixadora da campanha #RespireLiberdade (@respire.liberdade), criada para despertar a atenção para os perigos e desafios no tratamento do quadro, a artista, logo após ter tomado a primeira dose da vacina contra a Covid-19 junto com o seu grupo de comorbidades, se destacou como uma incentivadora das pessoas asmáticas na busca pelo tratamento e quebra dos estigmas sociais.
“A sociedade cria estigmas. As pessoas olham uma bombinha e pensam ‘credo, que horror’, mas para nós, asmáticos, a realidade não funciona desta forma. No dia-a-dia é muito mais leve, é uma forma de controle, de não ser tomado pela angústia de não poder respirar”, aponta a atriz.
A perspectiva de quem vê o remédio é totalmente diferente da de quem o usa. Ele me tira da angústia de não conseguir respirar, normaliza a minha respiração. Talvez para quem veja eu fazendo bombinha seja assustador, mas para mim é um alívio.
Taís Araújo
“Eu já vivi situações muito graves, desconfortáveis e angustiantes com a asma e eu acho que é muito bom você saber que tem como controlá-la, a fim de poder viver tranquilamente. Eu não quero mais ficar internada por causa dessa doença. É muito ruim e horroroso. E eu sei e quero que as outras pessoas também saibam que o que evita as internações é o controle, que só é feito através da medicação”, finaliza.