Os números da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde relacionados ao suicídio são superlativos. A cada 40 segundos, uma pessoa tira a vida no mundo; no Brasil, 30 pessoas se matam por dia. São cerca de 800 mil suicídios por ano no planeta.
É importante entender a dimensão do problema e estar preparada para lidar com a situação quando alguém próximo aparentemente estiver com planos de tirar a própria vida, é preciso respeitar e não menosprezar a dor que o outro está sentindo. Suicídio, hoje, é considerado uma questão de saúde pública, e as possibilidades de prevenção devem ser disseminadas pela sociedade.
Mas nem sempre é possível agir ou mesmo perceber os sinais a tempo de impedir um suicídio de uma pessoa querida – pode ser um parceiro ou parceira, melhor amigo ou amiga, um familiar próximo. Ela se vai. E você fica. Com muitas dúvidas, talvez algum sentimento de culpa e depressão ou ansiedade como legados. Como lidar com o luto pós-suicídio?
O verbo do luto pós-suicídio: RESSIGNIFICAR
Em primeiro lugar, deve-se ter a compreensão de que seus sentimentos importam. Todos ficam em choque com o que aconteceu, é verdade, mas você deve se levar em consideração, sim.
“Não é egoísmo pensar em si e em como ir adiante depois de uma situação extrema como esta. Para seguir em frente, é preciso ressignificar quem foi aquela pessoa na sua vida, além de elaborar internamente raiva, culpa, tristeza”, afirma a psicóloga Iara Santos, da Clínica Maia.
A psiquiatra Lívia Beraldo de Lima Basseres, mestre em psiquiatria pelo IPS-FMUSP (Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP), concorda e complementa: “É necessário ressignificar a própria vida e reorganizar o dia a dia. Sempre respeitando seu próprio ritmo, porque não existem regras de tempo de luto ou de que passos seguir para se recompor.”
Mas o que isso quer dizer na prática? Iara explica: “Ficam buracos, e o luto tem que ser vivido. É saudável vivê-lo, tudo bem ficar triste. Mas, ao mesmo tempo, se ocupar para preencher os vazios deixados por quem cometeu o suicídio. Ir foi uma escolha do outro; sua escolha é viver, e isso engloba procurar ser feliz novamente.”
Ou seja: a dor existe, e é natural que exista, mas, para o bem de sua saúde mental, seu viver deve continuar. De uma forma totalmente nova, ressignificada tanto no sentido da presença – agora ausência – da pessoa quanto no sentido´de compreender quem é você agora, sem ela.
Atitudes simples para passar melhor pelo luto pós-suicídio
Agora vamos à parte que pode ser aplicada no dia a dia para tornar o luto pós-suicídio menos dolorido e mais restaurador.
PROCURE:
– Fazer planos de curto, médio e longo prazo. Passeios, viagens, lista de livros para ler, de séries e filmes para assistir. Ocupar a cabeça com os detalhes desses planos ajuda a não fixar o pensamento no que passou e alivia a tristeza.
– Conversar com pessoas queridas que você saiba que vão lhe ouvir sem lhe julgar. Mesmo que elas não falem nada ou falem muito pouco que seja útil na prática, desabafar lhe fará bem.
– Manter sua rotina respeitando suas limitações emocionais. Se ir a algum lugar lhe fizer mal, por lembrar da pessoa, não vá. Se algum programa de TV lhe despertar tristeza, porque era algo de que ela gostava, não assista. Mas procure voltar ao trabalho e aos estudos o quanto antes, para manter a cabeça focada em outras coisas.
– Reconhecer se precisa de ajuda profissional. Se essas ações não estiverem surtindo efeito, pode ser que você precise de ajuda profissional especializada. Procurar uma psicóloga, uma psiquiatra ou ligar para o 188, número de telefone nacional do CVV (Centro de Valorização da Vida), que funciona 24 horas por dia, nos sete dias da semana.
EVITE:
– Dar trela para conversas que claramente só querem fazer especulação sobre o suicídio cometido. Sejamos sinceras: muita gente não tem interesse nos sentimentos de quem se matou ou de quem ficou e só quer fazer fofoca. Sendo você uma pessoa próxima do acontecimento, é natural que venham atrás de você para saber. Mas, diferentemente do papo com pessoas queridas, essas conversas não fazem nenhum bem para sua saúde mental. Corte mesmo, sem dó nem piedade e sem se preocupar se está sendo indelicada: essas pessoas não pensaram em delicadeza ao lhe abordar.
– Querer colocar alguém no lugar da pessoa imediatamente. Fosse afetivo, de amizade ou familiar, esse relacionamento vai deixar um lugar aberto, que em algum momento será preenchido. Não tente colocar qualquer pessoa no lugar à força: será sofrido para ela – que, de certa forma e até inconscientemente, estará sendo “usada” – e para você – que logo perceberá que não é a mesma coisa e ficará frustrada.