A relação entre os quilos extras e o câncer de mama vem sendo estudada por cientistas do mundo inteiro e uma nova pesquisa da Universidade College London, na Inglaterra, reforça o elo. O trabalho foi publicado no prestigiado British Medical Journal Open e contou com a participação de 93 mil mulheres, com idades acima de 50 anos e que já haviam passado pela menopausa.
Dessa vez os estudiosos inovaram: além de avaliar fatores de risco importantes para essa doença (como histórico familiar, uso de contraceptivos à base de hormônios e terapia de reposição hormonal), eles também tiraram medidas do tamanho da saia das voluntárias e investigaram o número da peça que elas usavam quando tinham 20 anos.
Após quatro anos de acompanhamento, os experts notaram que esse era um importante indicador da probabilidade de apresentar tumores nos seios após a menopausa. Isso porque o aumento de um número na peça de roupa, num período de dez anos, representava uma propensão 33% maior de ter câncer de mama. Se a mulher engordasse mais (dois números), o risco subia para 77%. Outro ponto que chamou a atenção dos especialistas é que o índice de massa corporal (IMC) se mostrou menos significativo do que a gordura que se acumula na região da cintura.
Qual é a relação entre obesidade e câncer de mama
Uma das explicações é que as gordurinhas concentradas no abdômen também fabricam estrogênio, hormônio que influencia, entre outras coisas, na produção de células mamárias. “Isso, somado à predisposição genética, contribui para que haja alterações celulares que levam ao câncer”, explica o ginecologista e obstetra Gilberto Uemura, professor da disciplina de mastologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de São Paulo, em Botucatu, no interior paulista.
E tem mais: sabe-se que a obesidade abre portas para processos inflamatórios, que também podem fazer com que as células dos seios se transformem em tumores e se proliferem.
Por que a menopausa agrava a situação
Mulheres acima dos 50 anos são mais propensas ao câncer de mama simplesmente por causa da idade, já que essa é uma doença cujo risco aumenta com o tempo. Mas se elas já passaram pelo climatério e, além disso, estão acima do peso, a probabilidade de desenvolver esse tipo de tumor cresce. “Nessa fase, a produção de estrogênio quase zera, e a testosterona acaba sendo transformada em hormônio feminino no tecido adiposo”, esclarece o cirurgião oncológico José Luiz Barbosa Bevilacqua, diretor de mastologia do A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo. Desse modo, o corpo da mulher sofre a ação estrogênica num período em que isso não deveria acontecer, o que aumenta o risco de tumores nos seios.
A importância de um estilo de vida saudável
Muitas vezes, o câncer de mama está ligado a fatores que não podem ser modificados, como a herança genética. Mas adotar hábitos saudáveis pode ser uma boa medida para afastar tumores nos seios. “Estudos mostram que mulheres que fazem, no mínimo, 150 minutos semanais de exercícios têm menos esse tipo de câncer”, diz Uemura, que também é membro da Sociedade Brasileira de Mastologia.
É claro que, ao praticar atividade física ou até comer de forma mais equilibrada, você não vai apenas minimizar o risco dessa doença, mas de tantas outras que também podem levar a ela a exemplo da obesidade.