Sabe quando não deixamos claro o que queremos em um relacionamento? Ou pior: damos um ghosting no crush sem justificar o motivo do afastamento? Tudo isso vai contra o significado da responsabilidade afetiva. O termo está se tornando cada vez mais popular, visto que a honestidade e clareza na comunicação vêm se tornando essenciais no mundo acelerado em que vivemos. Em outras palavras: ninguém tem tempo para “meias-verdades”.
Mas diferente do que você pode estar pensando, responsabilidade afetiva não é sinônimo de reciprocidade. Ninguém é obrigado a corresponder às expectativas do outro. Parece complexo? Então calma, que Claudia bateu um papo com a atriz e escritora Gabie Fernandes, que revelou tudo sobre essa habilidade emocional importantíssima. Confira:
O que é responsabilidade afetiva?
Gabie Fernandes explica que, por conta do romantismo vendido pela indústria do entretenimento, a nossa sociedade acredita que responsabilidade afetiva é a mesma coisa que reciprocidade. “Achamos que só por gostarmos de alguém, o outro precisa nos corresponder na mesma medida. Mas não é este o caso: responsabilidade afetiva é ser claro com o próximo sobre os nossos sentimentos e intenções”, esclarece a escritora.
“Só que tem outra barreira: estamos acostumados a achar que clareza é sinônimo de grosseria. Vivemos num mundo onde é muito difícil ser sincero, porque a maioria vai nos achar babacas”, afirma.
Para Gabie, não estamos acostumados a ouvir certas verdades. Por isso, sempre tentamos dar um “jeitinho” de abafar a situação. É aí que acontecem os “gelos” e os tão temidos “ghostings” — sumiços repentinos — nos relacionamentos.
Como ter responsabilidade afetiva no dia a dia?
Contudo, Fernandes declara que é normal ter dificuldades para colocar a responsabilidade afetiva em prática: “Não sabemos o que o outro está passando. Além disso, temos uma grande resistência em criar diálogos com quem não temos tanta intimidade. É um grande B.O para todos”.
Para exemplificar, Gabie revela algo que aconteceu com uma amiga: “Ela estava num bar com os amigos de seu ‘ficante’, e eles a incluíram nos planos para o carnaval. Mesmo não querendo ir, ela não conseguiu dizer ‘não’, e foi arrastando a promessa por algumas semanas. Quando ela finalmente conseguiu falar a verdade, se sentiu muito mal”.
Nestes casos, a atriz esclarece que é completamente compreensível não conseguir ser sincerona: “Tem uma frase no Ioga, que é quase um mantra, que diz assim: ‘Não podemos falar nada que não seja útil, verdadeiro e agradável’. Então, por mais que você não possa ir no carnaval, adapte essa verdade a esses pilares”, aconselha.
Gabie pontua que falar algo de maneira agradável não significa ter que agradar o outro. “Nos preocupamos muito com o que vamos falar, e esquecemos que o próximo irá escutar de formas diferentes. Portanto, pondere as suas palavras para não cair na armadilha da sinceridade com rancor. ‘Jogar verdades’ na cara não é algo positivo. Ser arisco não é o caminho. Faça isso de maneira branda”.
Porém, a escritora reconhece novamente o quanto é difícil reprogramar as nossas atitudes, pois fomos ensinados a fazer o contrário. “Desde cedo, aprendemos que devemos nos sentir culpadas por não fazer o que a sociedade quer. Abafamos as nossas dores para não magoar as pessoas. E não nos permitimos ser carinhosos com quem não queremos nada sério, temendo passar a ideia errada. O caminho mais simples, que é ser franco e gentil, não aprendemos”, declara.
Encontrando o equilíbrio
Não se engane: as ilusões são necessárias até certo ponto em quaisquer relacionamentos. “Precisamos gerar expectativas, se não tudo o que acontece na relação vira um grande workshop onde precisamos debater e esmiuçar cada coisa, cada frase dita. Não é bem assim”, elucida Gabie.
Para achar o equilíbrio e não ir aos extremos da responsabilidade afetiva, o conforto é um norte essencial: “Se você sente que está sendo mentirosa ou errada, é melhor falar sobre isso. Agora, se algo não fará diferença para nenhuma das partes, para que falar? Este é o verdadeiro conforto: saber até onde vai a verdade e até onde vai a gentileza”, conclui.