Todo mundo procrastina de tempos em tempos. Isso é completamente normal, pois não somos máquinas. Há dias em que estamos mais cansados, ansiosos ou melancólicos. E como todos sabem, as emoções acabam tendo uma influência direta em nossa produtividade.
Porém, a situação passa a virar um problema quando — frequentemente — não conseguimos encontrar foco ou organização para realizar as tarefas do dia a dia. Vamos deixando as coisas para depois e, quando percebemos, nos deparamos com uma avalanche de ansiedade e culpa provocadas pelo acúmulo de obrigações.
Quando a procrastinação chega neste ponto, precisamos agir para que a condição não se transforme num ciclo vicioso que apenas traz mal-estar. Está se identificando? Então calma, não se desespere. Para nos ajudar a escapar dessa condição, Claudia bateu um papo com Gustavo Arns, professor da pós-graduação em Psicologia Positiva da PUC-RS. Confira:
O que realmente significa procrastinar?
Antes de mergulhar nas dicas, precisamos entender o que de fato é a procrastinação. Gustavo esclarece que procrastinar nada mais é do que deixar para depois. E isso pode ser feito de duas formas:
- Passiva: quando não estamos fazendo nada e, mesmo assim, não realizamos a tarefa. Ou então, adiamos algo por motivos de lazer e descanso.
- Ativa: quando nos ocupamos com outras coisas para não fazer aquilo que realmente precisávamos realizar. Até estamos trabalhando, mas não com aquilo que precisaria ser feito naquele momento.
Procrastinação não é preguiça
Segundo o especialista, é comum ouvir as pessoas dizerem que a procrastinação é sinônimo de preguiça. Porém, isso está bem longe de ser verdade: “Existem causas psicológicas para a condição. A pessoa pode ser muito perfeccionista, e acaba tendo dificuldades em executar tarefas, pois nunca estará satisfeita. Ou então, a baixa autoestima faz com que ela não realize obrigações por medo da reprovação”, explica.
E claro, Gustavo também pontua que procrastinar pode estar ligado à questões de disciplina, pois há uma dificuldade em manter uma rotina regrada. Nestes casos, a procrastinação acaba se transformando num hábito.
“Também não podemos excluir as causas fisiológicas, como o TDAH, que é a dificuldade de manter o foco numa tarefa específica”, relembra.
O prazer da procrastinação é efêmero
Claro, a sensação de não fazer nada — ou trocar uma obrigação por algo divertido — pode proporcionar um prazer imediato. Porém, é importante lembrar que esse alívio é apenas um amortecimento: “Essa sensação de leveza é efêmera, e mais tarde virá recheada de culpa e angústia. Fora a ansiedade de não ter feito o que precisávamos. Ou seja, esse mecanismo acaba virando um estado de mal-estar interior, que se transforma num ciclo vicioso que apenas reforça emoções incômodas”, alerta Gustavo.
O professor revela que alguns estudos indicam que a procrastinação é uma falha em nossa regulação emocional. “Como ela está ligada ao trabalho e estudos, pode ser interessante resolver a questão do humor ao invés da tarefa. Irei frisar novamente: procrastinação não é preguiça. Ninguém faz isso porque quer, até porque essa condição vem para nos proteger de alguma dor, que pode estar conectada à tarefa ou a própria dificuldade em realizá-la.”
É imprescindível investigar a condição: caso contrário, podemos cair num excesso de culpa, nos julgando pouco responsáveis ou capazes. Para Arns, isso toca em feridas emocionais que, em casos mais graves, podem nos levar a quadros ansiosos e depressivos.
Confira a seguir, um passo-a-passo incrível para escapar da procrastinação:
1. Liste suas tarefas
Gustavo aconselha que, antes de sair tentando resolver tudo, nós façamos uma lista com todas as nossas pendências.
2. Defina prioridades
Depois de listar, comece a organizar as tarefas por ordem de prioridade. “‘Quais são as mais urgentes?’ ‘Qual é a primeira que precisa ser resolvida?’ Após responder esses questionamentos, está na hora de dar um micropasso.
3. Micropassos
Assim que identificar aquela pendência que precisa ser resolvida — e que pode estar sendo alvo de procrastinação há algum tempo — identifique o que está ao seu alcance naquele dia e faça imediatamente.
“Não deixe para mais tarde, porque estamos falando de uma atitude que vai trazer bem-estar e a sensação de que somos capazes. Isso aumenta a autoconfiança, que é essencial para a realização de qualquer obrigação. Quando nos sentimos confiantes, é muito possível que consigamos dar o segundo micropasso”, clarifica.
4. Divida a tarefa
Assim que der o primeiro micropasso, divida a obrigação em várias mini tarefas. Assim, é possível identificar o quanto do trabalho está completo, e o que você precisará fazer para concluí-lo. “Isso fará o dever parecer muito menor do que realmente é”, aconselha.
“Essa etapa é importante, porque algumas pendências não dependem apenas de nós. Às vezes, precisamos de algo que não está ao nosso alcance. Ou seja, teremos que pedir ajuda a alguém que pode demorar para nos auxiliar. Aliás, isso faz parte deste segundo micropasso: pedir ajuda”, declara Arms.
5. Faça uma coisa de cada vez
Não adianta querer resolver tudo ao mesmo tempo. De acordo com Gustavo, o famoso “multitasking” é um grande vilão para o nosso bem-estar e produtividade. “A produtividade é melhor quando nos concentramos exclusivamente em uma tarefa. Quando terminamos, aí sim podemos ir para a próxima.”
O professor revela que, semelhante a um computador, o nosso cérebro leva um tempo para se concentrar completamente. “Há estudos que indicam que demoramos 11 minutos para focar novamente em uma tarefa ao sermos interrompidos. Então, quando estamos fazendo algo e aparece uma notificação do whatsapp, levaremos 11 minutos para nos concentrar integralmente. Ah, e a concentração só irá acontecer se não fomos interrompidos de novo nestes 11 minutos”, brinca.
Em outras palavras, o foco e a atenção são elementos essenciais para pararmos de somar pendências e deixar de procrastinar.
6. Identifique as tarefas “chatas”
Arns aponta que há tarefas em nossa rotina que simplesmente não gostamos de fazer, seja por falta de habilidade ou porque demandam muita energia. “Todos nós temos aquelas obrigações que só de pensar já nos fazem perder energia. E são justamente esses deveres que provocam a procrastinação”.
Por isso, o professor indica que não tenhamos vergonha de pedir auxílio ou ajuda para quem possui mais afinidade com aquilo.
7. Olhe para dentro
Se ainda estiver com dificuldades para realizar algo, tente refletir sobre a tarefa. O especialista afirma que, frequentemente, a adversidade em resolver algo está ligada a como nos sentimos acerca daquele dever.
“Às vezes, você pode estar muito distante daquilo que ama ou quer fazer na sua vida. Então, o problema não está nas pendências, e sim em sua atividade principal.”
Aliás, Gustavo reitera a importância de nomear o que estamos sentindo, pois nem sempre estamos sofrendo de procrastinação. “Podemos estar com uma questão de saúde física ou psicológica. Quando nomeamos o nosso problema, conseguimos agir de forma mais clara. Caso contrário, a dificuldade é difusa, e não conseguimos dar conta do problema porque não sabemos qual é o problema. Essa pode ser a hora de buscar ajuda psicológica”, indica.