O que é o Transtorno de Personalidade Borderline
Muito confundido com depressão e bipolaridade, ele atinge majoritariamente mulheres
O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) afeta cerca de 6% da população mundial, mas muitas vezes seus sintomas são confundidos com outras doenças. As principais consequências para o paciente com o transtorno são a automutilação, o uso de drogas e de álcool e, em casos extremos, tentativas de suicídio – sendo que até 10% deles chegam a se matar.
Exatamente por ser pouco conhecida, ainda não existem números confiáveis sobre o TPB no Brasil e, geralmente, os pacientes são diagnosticados de forma errada, como casos de depressão ou de bipolaridade. O equívoco leva à medicação errada e ao tratamento ineficiente.
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Conversamos com Beatriz Moura, psicóloga especialista em Borderline para definir melhor o transtorno. Segundo ela, o primeiro passo é conhecer a doença para, assim, identificar as melhores medidas a serem tomadas. Segundo a especialista, muitos países já possuem uma tecnologia que, a partir de exames de neuro-imagem, identificam a doença. Fora do Brasil, portanto, é muito mais fácil chegar a números sobre o transtorno, já que ele pode ser visto pelos médicos.
No geral, o TPB é mais comum entre mulheres, afetando 75% das pacientes que apresentam distúrbios. Ainda que alarmante, o número mostra também um panorama de como os homens enxergam doenças mentais e seus tratamentos.
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As mulheres normalmente buscam mais meios de cuidar da saúde mental, recorrendo a especialistas e buscando informação. No entanto, os homens tendem a não procurar ajuda e acabam respondendo ao transtorno com álcool e drogas.
De acordo com Beatriz, o paciente com TPB tem mais incidência de comportamentos impulsivos e perigosos, distanciando-se ainda mais daqueles com bipolaridade, por exemplo. Essas emoções também oscilam muito mais durante o dia: são constantes, às vezes com espaço de tempo de 1 hora. “O paciente com Borderline é extremamente emotivo e explosivo. A mudança de humor é frequente. Em um momento ele é impulsivo, noutro está com raiva e logo em seguida sente felicidade”, afirma a psicóloga.
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É por esses motivos, inclusive, que o paciente tem uma enorme dificuldade com relações interpessoais. As pessoas com o transtorno são muito intensas e instáveis, dificultando o convívio próximo com o paciente.
Assim como nas relações, o paciente com o transtorno nem sempre sabe lidar com o êxito nas atividades que desempenha. Segundo Beatriz, chega a ser comum que eles abandonem ou destruam seus alvos e metas, justo quando eles se aproximam. “O paciente não tem uma vida social boa, ou um trabalho bom. E quando ele tem alguma experiência em qualquer um dos cenários, ele se sente angustiado porque nem tudo é o que ele imaginava que seria”, diz a especialista. Dessa forma, a pessoa não se sente capaz de desempenhar alguma função e acaba se sabotando.
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Muitas vezes, isso acontece porque, dentro da cabeça do indivíduo com TPB, as coisas são muito confusas. Essa auto-sabotagem também pode ser vista nos relacionamentos amorosos – eles acham que não são dignos do amor de outra pessoa. Além de tudo, ainda temem o abandono e vivenciam sentimento crônico de vazio com frequência.
A especialista explica que as causas do Borderline são diversas, desde genética até experiências emocionais precoces, como abuso na infância ou negligência grave na família. Esses indícios também são, na verdade, o que mais podem distinguir um paciente com Borderline de um paciente com Bipolaridade.
Por mais que esses sinais sejam indicadores de que algo está realmente errado, muitos pacientes acabam sendo rotulados como alguém que está querendo chamar a atenção. Mas, o que muitas pessoas às vezes não entendem, é que nem os próprios pacientes compreendem a si mesmos. Dessa forma, em casos extremos, eles se machucam para escapar da dor.
“É importante que as pessoas vejam como um transtorno de personalidade. A pessoa não está fingindo. Ninguém consegue fingir por tanto tempo”, explica Beatriz. “Se uma mulher for diagnosticada aos 18, e não tiver o tratamento correto, ela ainda vai passar pelo transtorno até os 40. E isso é apenas uma média”.
Por todos esses motivos e pela falta de conhecimento sobre o Transtorno de Personalidade Borderline, a especialista frisa a enorme importância de um tratamento conciliado entre o terapeuta e o psiquiatra. “Quem diagnostica no começo é o psiquiatra, é quem vai dar os remédios. Mas é a terapia que vai fazer com que a pessoa reconheça a doença dentro de si”, explica.
É na terapia que o especialista vai psicoeducar o paciente, para que ele aprenda a lidar com as próprias emoções. É nesses momentos que se explica o que é o transtorno para o paciente e para a família. “É preciso que o paciente e os familiares tenham noção que a terapia é de suma importância, sem a terapia você não vai avançar”, diz Beatriz.
Pelo transtorno ser algo interno, os pacientes não sabem o que está acontecendo. Eles precisam saber todo o processo, desde o sistema nervoso até as incidências da impulsividade. Por isso é necessário que exista o acompanhamento de um profissional. Com as mulheres, inclusive, é importante saber o ciclo menstrual. Esse conhecimento explica o que a mulher estará sentindo, o porquê de ela estar mais nervosa ainda. O psicólogo, portanto, vai ajudar os pacientes a se sentirem acolhidos. E, segundo Beatriz Moura, existe um retorno muito bom depois do tratamento, com o conhecimento da doença e o acompanhamento.
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