A menopausa precoce é uma realidade para muitas mulheres que, no auge de sua jornada adulta, precisam lidar com as consequências físicas e emocionais do fim da fertilidade antes da hora.
Bianca Doeler tinha 36 anos quando decidiu parar com a pílula anticoncepcional, que tomava há quase duas décadas, para engravidar. Foi quando descobriu que o seu ciclo menstrual era intenso e completamente irregular. Acompanhada dos clássicos fogachos — caracterizados por repentinas ondas de calor, sudorese e batimentos cardíacos acelerados —, a investigação médica levou a um termo que ela desconhecia: Insuficiência Ovariana Prematura (IOP), popularmente conhecida como menopausa precoce.
“Fiquei chocada, porque eu nem sabia que isso existia”, diz. “O que me pegou mais, na verdade, foi a questão da infertilidade, porque era disso que eu estava atrás.”
Ainda que não existam dados brasileiros, segundo a Sociedade Norte-Americana de Menopausa, 1% das americanas passam pela menopausa aos 40 anos ou antes.
O tema é permeado por desinformação, decorrente do estigma que acompanha a menopausa e outras experiências vividas por mulheres. Quando ela acontece antes da idade esperada, o desconhecimento é ainda maior: “Sendo uma mulher jovem, você não tem acesso a essas informações, não sabe o que está acontecendo. O que vem é do ponto de vista de uma pessoa de meia-idade, com filhos adolescentes. Eu não tinha nem filho, eu queria ter e tinha infertilidade. É um nível de maturidade e compreensão diferente”, ressalta Bianca.
Isso também se reflete no desconhecimento dos termos associados a esse diagnóstico. Juliana Olivieri, ginecologista especialista em ginecologia endócrina e membro da Associação Brasileira de Climatério, explica que a menopausa é uma data, enquanto o climatério é um período: “Costumamos fazer uma analogia com a puberdade. Puberdade é a entrada na vida reprodutiva e o climatério é a saída da vida reprodutiva. Já a menarca é a primeira menstruação e a menopausa é a última menstruação”.
A menopausa é confirmada após um período de 12 meses sem menstruação. A partir dos 45 anos, ela pode acontecer e é fisiológica. Se acontece entre os 40 e 45 anos, é uma menopausa mais prematura. Mas antes dos 40 anos é considerada patológica.
“A Insuficiência Ovariana Prematura é dinâmica, a paciente perde a fertilidade, mas não de uma forma definitiva. É um ovário que não produz mais hormônios como deveria. Dificilmente essa mulher vai ser fértil, mas pode haver aleatoriamente uma menstruação ou outra”, afirma a ginecologista.
Para as mulheres que desejam engravidar, a opção, atualmente, é a fertilização in vitro e a ovodoação. Bianca tinha apenas 5% de chances de engravidar naturalmente e optou pela ovodoação, um caminho mais certeiro e, para ela, com menos desgaste emocional e financeiro. “É uma questão de passar por um luto da ideia de uma gestação padrão”, afirma Doeler. Mas ela estava focada em conseguir engravidar, e felizmente a decisão e o processo não foram muito demorados. O tratamento foi realizado na Espanha e na primeira tentativa ela engravidou.
O peso da não-idade
O diagnóstico, em muitos casos, não vem de forma fácil e rápida. Juliana Zan, que tem 41 anos, foi diagnosticada em 2023. Porém, após uma retrospectiva, ela percebeu que desde os 37 anos convivia com os sintomas do climatério: insônia, crises de ansiedade, irritabilidade, aumento de peso, perda de memória, falta de libido, queda de cabelo, fogachos e, o mais significativo, falhas da menstruação.
Após passar por vários médicos e, inclusive, fazer um tratamento para fibromialgia por um ano devido a dores musculares que faziam parte dos sintomas da menopausa precoce, Juliana recebeu o diagnóstico de que já não estava mais produzindo estrogênio, um dos hormônios ovarianos.
“Não sou uma pessoa leiga, sou enfermeira por formação e trabalhei mais de 10 anos na área. Nunca passaram pela minha cabeça o climatério e a menopausa, porque não é algo que pensamos nessa idade.”
Diferentemente de Bianca, a infertilidade não era a principal preocupação para Juliana, que já é mãe. Ainda assim, receber a notícia foi desafiador: “Foi uma mistura de alívio com tristeza. Alívio porque foi a resposta para tudo aquilo que eu estava sentindo. Mas é aquele baque, porque a menopausa traz com ela o tabu da velhice da mulher”.
Dra. Juliana ressalta que o diagnóstico de menopausa precoce tende a ser difícil e requer tato, por isso geralmente ela conta com o apoio de psicólogos.
“Falo para elas que eu não estou preocupada com as taxas hormonais e com engravidar, isso a medicina resolve. O que eu não consigo mudar é a forma como elas vão lidar com isso. A cabeça é a parte mais importante. Isso é o que elas têm que trabalhar, e precisa de apoio, porque mexe muito com o nosso feminino”.
Uma das principais causas da IOP é autoimune, ou seja, pessoas com doenças autoimunes podem produzir anticorpos contra os próprios ovários.
Síndromes genéticas, como a Síndrome de Turner, também podem levar a uma menopausa precoce, assim como quimioterapia, radioterapia e cirurgia de retirada dos ovários. No entanto, existem várias situações em que não se sabe a causa, como é o caso da Bianca e da Juliana.
Tratamento para a menopausa precoce
Além da questão da fertilidade e dos variados sintomas, a menopausa impacta a saúde feminina a longo prazo. O ovário produz os hormônios estrogênio, progesterona e testosterona.
Enquanto a testosterona é produzida em outros lugares, como a glândula supra-renal e o tecido adiposo, o estrogênio e a progesterona são produzidos somente pelo ovário.
“A principal questão é a falta do estrogênio, que tem tudo a ver com a saúde óssea, cardiovascular e cerebral”, explica Juliana Olivieri. Por isso, um diagnóstico antecipado e um tratamento correto são fundamentais. “A opção número um é a reposição hormonal. Se são os hormônios que pararam de ser produzidos, é preciso repor estrogênio, progesterona e, eventualmente, testosterona”, afirma a ginecologista.
Entretanto, a reposição hormonal não pode ser realizada por todas as mulheres. O tratamento não é indicado para quem teve alguns tipos de câncer, como o câncer de mama, e pacientes que já tiveram trombose, aneurisma, AVC, eventos cardiovasculares ou que têm hepatite em tratamento.
“No caso de pacientes que não podem usar a terapia de reposição hormonal, nós as tratamos pelo nicho. Se precisa de prevenção de osteoporose, vamos agregar medicações para isso. Se precisa de cuidados cardiovasculares, vamos fazer um tratamento para isso”, acrescenta Olivieri.
Mudanças no estilo de vida também são importantes: alimentação saudável, exercícios físicos e sono regular. Algo que Juliana Zan segue à risca junto com a reposição hormonal, que trouxe muitos benefícios.
“Tenho 40 anos e estou na melhor fase da minha vida. Tenho duas crianças pequenas, preciso de energia. Tenho um casamento, preciso de disposição e de desejo sexual. Hoje as mulheres de 40, 50, 60 anos estão muito ativas, buscando realização pessoal e profissional. E elas precisam de qualidade de vida, devemos buscar e lutar pela qualidade de vida”.
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