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O que é esclerose múltipla e quais são os sintomas

A esclerose múltipla é uma doença degenerativa sem cura, cujos sintomas surpreendem pessoas jovens, principalmente mulheres, na faixa dos 20 aos 40 anos, provocando falhas de conexão entre os neurônios

Por Cristina Nabuco (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 14h40 - Publicado em 29 ago 2014, 22h00
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    Repentina na maioria dos casos, a esclerose múltipla começa sem alarde. Mas os primeiros sinais diferem. Pode haver leve dormência no braço ou formigamento na perna, fraqueza ao segurar um copo, suave tremor nas mãos ou ligeira dificuldade para escrever, caminhar e falar. Às vezes, surgem sintomas que parecem apontar em outra direção, como urgência urinária – aquela sensação de que não vai dar tempo de chegar ao banheiro – e intestino preso. Tudo desaparece em um período de dois dias a duas semanas. Então, a culpa recai no stress, na falta de sono, em um mau jeito. Os episódios se repetem até que um sintoma mais intenso, como paralisia de parte do corpo ou perda da visão, faz soar o alarme e leva ao médico.

    Em 2000, no meio de uma apresentação da peça Os Monólogos da Vagina, em São Paulo, a atriz Cláudia Rodrigues começou a ficar com a mão dormente. Foi levada ao hospital, com receio de que estivesse enfartando. Como na época ela estava trabalhando muito, os médicos suspeitaram que a dormência fosse resultado de estresse, mas, depois de alguns exames, descobriram que ela tinha esclerose múltipla.Com o diagnóstico, vem o choque. “A doença assusta, não só por causar surtos imprevisíveis, mas por atingir pessoas, muitas do sexo feminino, que estão crescendo na profissão, iniciando um casamento, às vezes com planos de viajar e ter filhos”, explica o neurologista Álvaro Pentagna, de São Paulo. “Inconformadas, elas já se imaginam numa cadeira de rodas.”

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    Anos depois do diagnóstico, Cláudia precisou sair do seriado global A Diarista, no qual fazia sucesso como a divertida doméstica Marinete, porque enfrentava dificuldades para falar e para andar. Ser obrigada a deixar de atuar levou a atriz à depressão e ao isolamento. Em 2012, dois anos depois da interrupção do seriado e de um tratamento com remédios, fonoaudiologia e fisioterapia, a comediante conseguiu controlar os sintomas e recebeu liberação médica para trabalhar. Ela então voltou para a televisão para interpretar a empregada Sirene em Zorra Total. Nesse ano ela está também nos teatros com a peça “Muito viva”. São a dedicação à profissão e o apoio da família que a ajudam a conviver com a doença, que não tem cura.

    Doença atinge mais mulheres do que homens

    A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica que compromete o sistema nervoso central e atinge 2,5 milhões de pessoas no mundo – sendo 30 mil no Brasil -, em uma proporção de três mulheres para cada homem. Segundo a Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, a faixa de maior incidência é dos 20 aos 40 anos. Mas claro que quem tem não precisa se conformar com a possibilidade de degeneração dos neurônios e de incapacitação. “Mesmo que não exista cura, hoje o tratamento, se for adequado e precoce, pode evitar sequelas e permitir uma vida normal”, diz Álvaro Pentagna. Nos últimos 20 anos, houve avanços graças à definição de critérios diagnósticos e a novas opções terapêuticas.

    A doença tem origem autoimune: as células de defesa do organismo atacam a bainha de mielina, capa de gordura que envolve as ramificações dos neurônios com o objetivo de protegê-las e facilitar a propagação de estímulos. “A bainha funciona como o plástico isolante que encapa o fio elétrico”, compara Pentagna. Com a agressão, ela se inflama, os impulsos nervosos perdem força e os surtos acontecem. Causas possíveis são herança genética – quando há histórico familiar, o risco cresce de quatro a cinco vezes – e fatores ambientais, como infecções virais, falta de exposição ao sol e tabagismo. Uma pesquisa da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, publicada em julho no periódico Neurology, demonstrou que o stress desencadeia e agrava as crises.

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    Novos surtos

    No início, o corpo consegue reparar a área destruída; daí, o sintoma desaparece sem deixar marcas. Mas, se os surtos se repetem, causando danos no mesmo local, a mielina atingida vira uma espécie de cicatriz, o que prejudica a comunicação entre os neurônios. Pior: existe o perigo de a doença evoluir para quadros progressivos. Um paciente pode ter lesões em pontos diferentes – e em fases distintas -, visíveis na ressonância magnética. “O tratamento reduz a atividade inflamatória para minimizar os sintomas, impedir novos episódios e evitar a progressão”, diz Pentagna. As drogas, fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), comumente apresentam efeitos colaterais significativos. Fisioterapia e terapia ocupacional auxiliam na recuperação.

    A médica Doralina Guimarães Brum, do Departamento de Neuroimunologia da Associação Brasileira de Neurologia, alerta que o desespero e a falta de conhecimento têm levado um grupo de pacientes a trocar medicações de efeito comprovado por métodos controversos. “O perigo de não tratar direito é ter um surto grave e o dano temporário se tornar permanente”, adverte. O sensato é procurar médicos conceituados, centros de referência e associações de pacientes em vez de ficar consultando o dr. Google”.

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