‘Nem tudo é rosa no Outubro Rosa. É preciso acesso ao tratamento’, Luciana Holtz
Especialistas conversaram sobre a jornada da paciente em tratamento oncológico e os impactos psicológicos, financeiros e sociais do câncer de mama
A jornada da paciente em tratamento oncológico envolve desafios financeiros, psicológicos e físicos. Na Casa Clã MAMA 2024, evento de CLAUDIA e Veja Saúde, especialistas discutiram esses impactos e os avanços do tratamento contra o câncer de mama.
A conversa contou com o oncologista Gustavo Werutsky, a enfermeira Claudia Klumpp e a psico-oncologista Luciana Holtz, fundadora e CEO do Instituto Oncoguia, em uma palestra mediada por Karin Hueck, escritora e editora-chefe de CLAUDIA.
Os impactos do tratamento contra o câncer de mama
“Quando a paciente recebe o diagnóstico de câncer, ela sai do consultório com uma enxurrada de informações e preocupações. Pensa no tratamento, na reação de sua família e em como manter o sustento. Perguntas como ‘Quem vai cuidar dos meus filhos? Como vou manter minha renda?’ surgem imediatamente’”, explica Gustavo.
O impacto financeiro, de fato, é significativo. Mais de metade dos lares brasileiros é chefiada por mulheres, e uma em cada oito das brasileiras são diagnosticadas com câncer de mama. Muitas vezes, as pacientes precisam abandonar o trabalho ou lidar com os elevados custos de saúde, agravando a situação de quem já sustenta uma família. “Esse impacto financeiro pode afastá-las do tratamento”, alerta Claudia.
Além disso, apesar do apoio emocional ser fundamental, muitas pacientes são abandonadas durante o tratamento. Uma pesquisa de 2009, realizada pelas universidades de Stanford e pelo Centro de Pesquisa Seattle Cancer Care Alliance, revelou que homens casados têm seis vezes mais chances de se separar ou divorciar de suas esposas logo após um diagnóstico de câncer.
Como a tecnologia pode ajudar no tratamento de câncer
Embora as transformações na vida das pacientes continuem sendo muitas, o tratamento avançou significativamente. “O câncer de mama de hoje não é o mesmo de 20 anos atrás, há muito mais tratamento”, diz o oncologista. “A gente não precisa mais pensar no câncer como uma sentença de morte”, completa Luciana.
E a tendência é melhorar. Isso porque a tecnologia tem desempenhado um papel crescente na detecção e no pós-diagnóstico. “A inteligência artificial pode ajudar na descoberta precoce do câncer de mama, por exemplo, e novas tecnologias estão sendo implementadas para aprimorar o tratamento”, comenta o especialista.
A necessidade de um tratamento individualizado
Outro ponto destacado foi a importância de individualização no processo. “Mesmo que o tumor de duas pacientes seja igual, suas vivências e desafios serão diferentes”, diz Claudia. Ter especialistas que cuidem da alimentação e das atividades físicas, de forma integrada, é primordial, além de um enfermeiro navegador, que orienta a paciente e a família durante toda a jornada.
O problema é que isso não chega para todas. “O tratamento integrado não deveria ser apenas um ideal, mas uma realidade”, defende a enfermeira. Luciana enfatiza a necessidade de cobrar acesso a esses serviços: “Nem tudo é rosa no Outubro Rosa. As mulheres precisam de acesso real ao tratamento, e nós temos que lutar por isso.”
Pacientes precisam ser informadas sobre o que acontece com elas
Outro ponto é que as mulheres devem estar informadas sobre todo o processo. “Criar estratégias para que elas se empoderem se seus tratamento é fundamental”, diz Claudia, que exemplifica: “Uma paciente, por exemplo, anotava na agenda tudo o que precisava fazer, todas as fases em que estava”.
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