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Mitos e verdades das alergias respiratórias

Antes era um caso aqui, outro lá. Agora, é fácil se deparar, em todos os lugares, com os espirros ou a falta de ar, comuns nas crises alérgicas. Saiba por que essas doenças, envoltas em mitos, estão avançando e o que fazer para tê-las sob controle.

Por Cristina Nabuco (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 14h39 - Publicado em 3 jun 2015, 14h02
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As alergias respiratórias preocupam o Brasil e o mundo: segundo a Organização Mundial da Saúde, 400 milhões de pessoas sofrem com rinite alérgica e 300 milhões têm asma, também conhecida por bronquite alérgica ou asma brônquica. A expectativa é de que as duas doenças, principais manifestações desse tipo de alergia, continuem em alta. Mesmo assim, é de espantar que permaneçam cercadas de mitos. Para ajudar a desfazê-los, todo ano a Organização Mundial de Alergia promove uma semana dedicada ao tema. A última, em abril passado, chamou a atenção para o impacto negativo das doenças e mostrou que o tratamento adequado pode evitar transtornos como indisposição, queda de produtividade (falta à escola e ao trabalho), prejuízos nos relacionamentos, baixa autoestima e depressão. Além deles, a rinite, em geral, causa complicações que incluem dor de cabeça, sinusite e conjuntivite. Já a asma pode ser fatal: são sete mortes por dia no nosso país, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Conhecer melhor o inimigo – separando a informação falsa da verdadeira – é o primeiro passo para reverter esses números.

Rinite e asma são a mesma doença

Não. Rinite é a inflamação das vias aéreas superiores (nariz). Provoca espirros, secreção, obstrução nasal, coceira e lacrimejamento. Asma é a inflamação das vias aéreas inferiores (brônquios). Ela se manifesta sob a forma de chiado e aperto no peito, falta de ar e tosse. Quem tem rinite possui 40% mais risco de desenvolver asma – e, entre os que apresentam asma, 80% também sofrem com rinite alérgica. Como outras manifestações alérgicas, ambas são deflagradas por uma resposta intempestiva e exagerada do sistema imunológico a substâncias inofensivas para a maioria das pessoas. Os fatores desencadeantes das crises, em geral, são os mesmos e o processo inflamatório é similar. “Por não matar, como a asma, a rinite alérgica é negligenciada. Mas seus sintomas prejudicam o sono e o rendimento das atividades escolares e profisisonais”, diz a pediatra Luisa Karla de Paula Arruda, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). “Não é normal ter um ‘resfriado’ que consome uma caixinha de lenço por dia”, alerta.

Há vários culpados

Sim. Elas resultam da soma de fatores genéticos e ambientais (contato com alérgenos, substâncias que o sistema imunológico do alérgico erroneamente interpreta como perigosas). Luisa Arruda atribui a explosão dos casos aos altos índices de poluição, ao sedentarismo e à menor permanência das pessoas ao ar livre. Os principais alérgenos estão em casa: ácaros, poeira, fungos, baratas, pelos e elementos presentes na saliva de animais.

Controle ambiental é indispensável

Sim. É preciso reduzir as probabilidades de contato de um alérgico com a substância capaz de provocar a reação exagerada. Para isso, a alergista Solange Valle, chefe do Serviço de Imunologia do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sugere uma arrumação geral na casa: forrar com capas impermeáveis colchões e travesseiros, que acumulam grande quantidade de ácaros; evitar ventilador de teto, que dissemina ácaros e poeira; lavar ou pelo menos expor ao sol roupas de frio; manter animais domésticos fora do dormitório. E, por fim, limpar a casa diariamente com pano úmido e produtos sem fragrância forte (água, sabão e álcool são suficientes). O principal: não fumar ali.

O cigarro piora o quadro

Sim. A fumaça, assim como o odor forte de tinta, irrita as vias aéreas, especialmente as do alérgico, que já tem a mucosa inflamada. Ele responde ao estímulo com mais intensidade e são grandes os riscos de entrar em crise. Bebês de grávidas fumantes também estão mais sujeitos a infecções respiratórias e asma.

O frio provoca mais crises

Sim. “A mudança do clima para frio irrita o aparelho respiratório dos alérgicos”, diz Solange Valle “Além disso, por causa das temperaturas baixas, ficamos ainda mais em ambientes fechados. Gripes e infecções virais agravam os sintomas.”

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Na escola, as crianças ficam vulneráveis

Nem sempre. “Está comprovado que crianças têm mais gripes e resfriados, no outono e no inverno, até os 3 anos; depois dessa idade, observa-se melhora”, diz Luisa Arruda. Nesse período, quem tem predisposição genética para alergia pode ter crises intensas; se os genes não trazem essa tendência, a convivência com os colegas não protege nem aumenta os riscos.

Todo antialérgico dá sono

Não. Para controlar as crises de rinite, são utilizados anti-histamínicos, já que a principal substância causadora dos sintomas é a histamina. Eles reduzem os espirros, a coceira, a coriza, e a obstrução nasal. A primeira geração de remédios (dexclorfeniramina, hidroxizina, clemastina, difenidramina) provoca sonolência, impedindo a realização de tarefas que exijam concentração. Os de segunda geração (desloratadina, cetirizina, fexofenadina, levocetirizina, rupatadina) não têm esse inconveniente. “Foram testados até em pilotos de avião”, avisa Solange Valle. Em rinites mais resistentes, pode ser necessário associar um corticoide nasal, de efeito local, que não oferece risco de ganho de peso, aumento de pressão arterial, diabetes e problemas de imunidade, como a versão de uso oral.

Os remédios só devem ser tomados nas crises

Não. “No caso da asma, o mais importante é o tratamento contínuo para evitá-las”, afirma Solange Valle. Ele consiste no uso de corticoides inalatórios (spray oral), com ação localizada, que podem ser indicados também para crianças e idosos – 60% dos pacientes respondem bem. Em casos graves, é comum adotar ainda um broncodilatador de ação prolongada, que facilita a respiração. Para os de difícil controle, a opção é um medicamento biológico, o omalizumabe, anticorpo monoclonal (feito de clones ou cópias do mesmo anticorpo) aplicado por via subcutânea que bloqueia o principal agente associado às alergias. Seu maior inconveniente é o alto custo. Iniciada a crise, a escolha recai sobre broncodilatadores de ação rápida, para abrir os brônquios, melhorar a respiração e aliviar o chiado. Contra crises mais persistentes, administram-se corticoides orais, mas por períodos curtos (de cinco a dez dias) devido aos efeitos colaterais (risco de retardo do crescimento na infância, hipertensão arterial, diabetes e catarata).

Quem tem asma só pode fazer natação

Não. Se a doença não estiver controlada, nenhum exercício físico será bem-vindo, sob pena de ocasionar uma crise. Nem a natação. “Mas, com o tratamento correto e as crises sob controle, os esportes estão liberados”, diz Luisa Arruda. Qualquer um, desde que a intensidade aumente gradativamente. “Exercícios melhoram a atividade respiratória e têm efeito anti-inflamatório.”

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As vacinas antialérgicas reequilibram o sistema imunológico

Sim. Mas não só elas. Imunoterapia é o terceiro pilar do tratamento da alergia, ao lado da medicação e do controle do ambiente. “Seu objetivo é frear as reações exageradas, modulando a resposta imunológica”, explica Solange Valle. Para isso, o alérgico é exposto a extratos com concentrações crescentes da substância à qual é sensível, o que aumenta sua tolerância e previne crises. Tratar a rinite por imunoterapia pode impedir o aparecimento da asma.

Homeopatia resolve

Há controvérsias. O virologista francês Luc Montagnier, um dos descobridores do vírus da aids, defende a adoção da homeopatia como terapêutica. Uma pesquisa financiada pelo governo suíço publicada em 2011 constatou a eficácia em doenças como a rinite alérgica. Mas cientistas do Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, na Austrália, revisaram 225 estudos e concluíram que a especialidade não seria eficaz contra nenhuma doença. Publicado este ano, o trabalho mostra que as pesquisas com resultados favoráveis tinham poucos participantes e eram mal conduzidas e compara a homeopatia a placebo (substância inerte).

Acupuntura ajuda

Sim. Divulgadas em fevereiro, as novas diretrizes da Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial para o diagnóstico e o tratamento da rinite sugerem que ela pode ser indicada a pacientes interessados em métodos não farmacológicos. Um estudo do Centro Médico da Universidade Charité, em Berlim, que acompanhou 422 alérgicos, publicado no ano passado, mostrou que os pacientes tratados com essa técnica milenar chinesa relataram alívio dos sintomas.

Chás surtem efeito

Não. O painel de especialistas não encontrou vantagens no uso de fitoterapia para alérgicos.

 

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