Imagina só, você se prepara um ano para a sua primeira maratona e, na véspera do evento, fica menstruada. O que poderia ser um problema para muitas, tornou-se estopim para discutir o assunto. A norte-americana Kiran Gandhi, de 26 anos, passou por isso e resolveu escrever sua experiência com a corrida – que ela completou sem absorventes. A ideia surgiu quando ela foi surpreendida pelo sangramento e achou que poderia abrir mão do item de higiene para chamar a atenção sobre a causa, principalmente para alertar que parte da população mundial não tem acesso a ele por viver na miséria e em condições precárias.
Em depoimento, ela conta: “Corri com o sangue escorrendo pelas minhas pernas para as minhas irmãs que não têm acesso aos absorventes e para aquelas que, apesar de cólicas e dor, escondem e fingem que ela (a menstruação) não existe. Corri para dizer: ‘ela existe e nós a superamos todos os dias’”.
O caso ganhou grande repercussão na internet. A blogueira, que se formou em Harvard, hoje trabalha como baterista da cantora M.I.A e se diz feminista. A corrida arrecadava fundos para uma instituição de combate ao câncer de mama.
O tabu
O período menstrual não foi tabu, ele ainda é! Até hoje, existem mitos de que as mulheres ficam impuras, sujas, doentes e até mesmo amaldiçoadas durante esse período. Na Índia, por exemplo, ainda há muito silêncio sobre a saúde feminina. Um estudo feito por um fabricante de absorventes descobriu que 75% das mulheres ainda compram o produto envolto em embalagens ou jornais por causa da vergonha associada à menstruação.
Os resultados ainda mostram que uma em cada cinco garotas deixa de ir à escola quando menstruada – são mais de 3 milhões de indianas perdendo aula.
Alguns lugares pobres, como os países da África Oriental, ainda sofrem com higiene íntima. Muitas vezes, meninas têm de recorrer ao uso de jornais, panos, folhas e até lama para absorver o sangue, o que as coloca em risco de infecção e torna a ida à escola quase impossível.
E não é só em situações vulneráveis que encontramos esse tipo de problema. O Telegraph, um dos maiores jornais do Reino Unido, publicou uma série de relatos sobre o assunto vindos justamente de tenistas, esportista que têm que vencer barreiras – todos os meses. A campeã Petra Kvitova foi questionada em uma coletiva de imprensa a respeito de como os “assuntos de mulher” afetam as jogadoras enquanto alguns repórteres homens riam, encabulados.
Petra disse em uma entrevista que perdeu uma competição por estar se sentindo mal. Na sequência, ela emendou: “Eu acho que foi apenas uma dessas coisas que eu tenho, essas coisas de mulher”. A declaração, ainda que tenha sido simples e não tenha mencionado a palavra “menstruação” de fato, foi um grande primeiro passo nessa quebra de tabu dentro do universo esportivo.
Quebrando o preconceito
Assim como Kiran, muitos resolveram se mexer quanto ao assunto. Na Índia, um site tenta desmistificar a vergonha da menstruação. O Mensturpedia, portal feito por eles, apresenta histórias em quadrinhos e guias simples sobre puberdade, menstruação e higiene. Ele recebe mais de 100 mil visitantes por mês.
Em outros lugares do mundo, mulheres se reuniram para fabricar absorventes mais baratos e até a febre dos coletores menstruais já chegou ao Brasil. Além de ser sustentável e de economizar com o gasto de matéria-prima durante os períodos menstruais, com eles você gasta de uma só vez – higienizado de forma correta, ele dura de cinco a dez anos.
O campeonato de tênis Wimbledon, o mais tradicional do mundo, foi acusado de sexismo por ter como regra a roupa branca das jogadoras. A tenista Tara Moore declarou que acredita que a menstruação pode, sim, afetar o desempenho de mulheres. Ela ainda levantou outra questão dentro do esporte: será que não está na hora de haver uma alteração nas regras, para que as jogadoras possam, pelo menos, fazer mais intervalos para irem ao banheiro? Atualmente, as esportistas têm direito a apenas um intervalo por set. O medo de que a menstruação acabe passando para o uniforme branco é tanto que Tara já chegou a ter pesadelos com isso. Ela diz respeitar a tradição das regras, mas sugere que as pessoas comecem a pensar mais nessa questão.