Praticar atividade física, ter uma alimentação saudável, correr de bebida alcoólica e cigarro. Certamente, essas recomendações para evitar ou tratar doenças cardíacas são familiares a todos nós. Mas não é só isso, pelo menos é o que aponta o cardiologista Álvaro Avezum, cientista e diretor da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo). Para o coeditor da revista da entidade, o pensamento e as ações também interferem na reação do corpo.
Na publicação da Socesp, médicos são orientados a apresentar aos pacientes essa abordagem da espiritualidade e cardiologia comportamental e social. Em entrevista à Folha, o cientista disse que “enfrentar de forma positiva as situações adversas do cotidiano, usar sentimentos construtivos e edificantes nos relacionamentos (conjugal, familiar, trabalho e sociedade), tornar-se grato, mais altruísta, ter atitudes solidárias e perdoar não só evitam os males do coração como melhoram a enfermidade se esta já existe”.
A recomendação foi baseada em estudos epidemiológicos feitos na América do Norte, em que o sentimento de raiva foi relacionado com o surgimento de diabetes e insuficiência cardíaca. Além disso, outras pesquisas revelaram que a recuperação dos pacientes com cardiopatia foi otimizada com a gratidão, assim como o perdão foi associado com a redução de isquemia miocárdica e a taxa de mortalidade.
Avezum ressalta que independente se esses propósitos de vida são filosóficos ou religiosos,“há sentimentos positivos e negativos. É a maneira de enfrentamento das circunstâncias da vida. Você pode escolher enfrentar com tolerância, gratidão, perdão ou com raiva, ruminação e ressentimentos”, pontuou.
Fato é que esses sentimentos negativos são capazes de liberar hormônios e marcadores, como adrenalina e cortisol, que aumenta a atividade inflamatória, a coagulação no sangue dentro das artérias, favorecendo a trombose, infarto e acidente vascular cerebral, além de câncer e doenças autoimunes. “Egoísmo, falta de disposição ao perdão e ressentimento são considerados enfermidades, porque levam ao adoecimento”, alerta.
Sobre a relação de medicina e espiritualidade, o cientista revela que, nos EUA, houve um aumento 90% de universidades que adotaram o tema na grade curricular. Um movimento que também é observado no nosso país.
Também integrante do Gemca, Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o cardiologista sabe que dentro do consultório a desconfiança paira quando o assunto cardiologia comportamental. “É fundamental dizer que o médico deve evitar forçar a situação se o paciente não estiver aberto para isso. Nunca prescrever orações e rezas e nem ser conselheiro espiritual, discutir ou discordar das ideias religiosas do paciente”, explica.
Então, o que podemos esperar de recomendações dos médicos? As orientações devem mostrar caminhos mais saudáveis e leves para a rotina opções de atividades terapêuticos, como meditação e alongamento, associadas ao tratamento convencional.
“Estamos nos envolvendo cada vez mais em pesquisas para complementar essa visão integral do ser humano na sua responsabilidade do adoecimento e gerar evidências para um dia, modificar para melhor, o binômio saúde e doença”, informa o cientista Avezum.
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