Dores reais, muito reais, causadas por fatores emocionais. As doenças psicossomáticas são uma realidade e podem alavancar inúmeros sintomas em nosso corpo que não apontam para explicações orgânicas.
“A pessoas se queixam de falta de ar, palpitações, cefaleia, náusea, vômito, reações de urticária, diarreia, constipação, alteração no ciclo menstrual, e até situações mais complexas”, conta Cláudio Martins, psiquiatra e vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O diagnóstico geralmente ocorre por exclusão, após o paciente buscar ajuda em outras especialidades médicas, e não encontrar uma causa.
“Elas entram num circuito de busca de tratamentos que não são psiquiátricos, e ficam nessa romaria de sofrimento”, disse o médico, que ressalta, porém, que mesmo acompanhado por um psiquiatra, o paciente precisará passar por uma avaliação. “O diagnóstico na psiquiatria não é transversal, mas longitudinal, tem que ver a linha evolutiva da pessoa. Não é porque tem diarreia, que está com diagnóstico”, ressalta.
Mas o que causa essa doença? A explicação pode estar no seu entorno, na rotina, em traumas passados. “Eu costumo falar que o nosso psiquê funciona como uma panela de pressão. Para fazer um feijão, você vai ter que ferver bastante no fogo, e chegar ao ponto ‘x’ em que a válvula da panela alivia a pressão ou explode. Somos parecidos, e vamos colocando vários temperos da vida que aumentam a nossa pressão interna”, disse o psiquiatra.
Ele conta que percebeu um aumento no número de pacientes com doenças psicossomáticas devido à pandemia de Covid-19 e suas consequências, como a perda de familiares e o próprio medo da doença. “Isso aumentou a pressão interna”, explica. “As pessoas não identificam o que gerou [os sintomas], mas são uma série de fatores ambientais, na família, tensões de trabalho”.
Como outras doenças da mente, as somáticas também sofrem preconceitos, não só de familiares e pessoas que vivem próximas aos pacientes, mas até da comunidade médica.
“Parece que é feio padecer de transtorno mental, somático, inclusive”, disse. Ele sugere que a família e amigos acolham o paciente, e tenham empatia por sua condição. Evitem críticas, e busquem ressaltar suas qualidades.
“As famílias vão se cansando porque há uma queixa contínua, limitação das atividades na casa, tudo isso vai impactando nas relações dinâmicas”, disse.
“Não tem tratamento específico, é preciso ver o que domina mais, seja a ansiedade, depressão, falta de energia, irritabilidade, para buscar psicofármacos que possam atuar nessa área, eles auxiliam muito”, disse. O médico ainda sugere psicoterapia e suporte familiar. “É importante o enfrentamento, a busca de auxílio o quanto antes”.