“Nasce um bebê, nasce uma mãe”. Depois do parto, as pessoas acreditam que tudo vai fluir, especialmente a amamentação: do hospital para casa, da casa para o quarto e, enfim, a mãe pode dar seu leite pelos próximos seis meses. Mas a maternidade não é igual para todas, e, no meio do caminho, muitos fatores podem alterar essa lógica. Foi, inclusive, o que percebeu Lore Improta.
O leite materno é a forma mais eficiente e econômica de combater os índices de mortalidade infantil e de proteger as crianças contra doenças, como diarreia, infecções respiratórias e alergias, de acordo com o Ministério da Saúde.
A OMS recomenda que os bebês recebam aleitamento materno exclusivo até seis meses de idade para a progressão plena do pequeno. É por meio dele que a criança ganha os anticorpos que irão protegê-la, um excelente exercício para o desenvolvimento da face e da fala e a redução dos riscos de asma e diabetes.
Não é exagero dizer que é o alimento mais incrível do mundo: feito sob medida, para cada bebê, cada fase, e que ainda nutre. Porém, diversas mães não conseguem concluir as orientações dos órgãos de saúde por dificuldades na produção de leite ou mesmo pela recusa do pequeno, segundo a fonoaudióloga Patrícia Junqueira, fundadora e diretora do Instituto de Desenvolvimento Infantil. Para ter ideia, no Brasil, a prevalência de aleitamento materno é de apenas 45,8% no primeiro semestre de vida, segundo estudo de 2019 da UFRJ.
A dificuldade de amamentar
Lore Improta faz parte dos outros 54,2%. A dançarina e influenciadora viu seu leite secar no quinto mês. “O processo de amamentação foi lindo e doloroso ao mesmo tempo”, conta. “A minha experiência foi bem difícil, principalmente nos primeiros 15 dias, porque é tudo muito novo. Além da forte dor para amamentar, tinha o medo e os questionamentos que ficavam passando em minha cabeça. Eu só chorava.”
Por outro lado, “essa experiência também foi linda. Me fez criar uma conexão muito forte com a Liz, e era tudo que eu precisava naquele momento, porque não sabia como seria a minha vida dali para frente”.
A pressão externa, nesses casos, pode ser avassaladora e contribuir para quadros de doenças mentais das mães. “Existe o mito de que mulheres perdem o contato com seus filhos quando não conseguem amamentar as crianças, o que não é verdade, mas deixa a mãe frustrada. A relação mãe-filho pode ser trabalhada de diversas outras formas”, diz Patrícia.
Essa imposição para que mães amamentam até a última gota de leite se torna ainda mais problemática quando pensamos sobre as ferramentas disponíveis para que elas façam isso. A lei trabalhista brasileira, por exemplo, prevê apenas quatro meses de licença maternidade. Se o retorno ao trabalho acontece aos quatro meses, e é preciso amamentar até os seis meses de vida, essa conta não fecha.
Mães que sofrem transtornos emocionais em decorrência do ciclo gravídico puerperal sentem na pele desafios que tornam essa dinâmica complexa, segundo a médica. Lore foi muito acolhida por sua família e seu marido, Leo Santana, mas a condição de fragilidade do pós-parto teve grande impacto.
“Eu tive baby blues, então chorava muito, e ter o acolhimento da minha família foi essencial para superar e ficar bem”, lembra a influenciadora. “A maior cobrança vinha de mim mesma, uma ideia interna que eu só pensava que precisava ficar bem para a minha filha, amamentar e cuidar dela.” E completa: “A cobrança na internet sempre existe, principalmente para as mulheres. Quando contei aos meus seguidores o que estava passando e falei que não estava sendo fácil, houveram muitos julgamentos, comentários maldosos e a comparação com outras mulheres, mas também tive acolhimento.”
“Alimentar, seja com o próprio leite ou não, é um ato de amor”, afirma Patrícia. E alternativas para que isso seja feito quando a mulher não consegue, preservando a saúde da mãe e do filho, estão sendo pensadas: o Brasil conta com serviços gratuitos oferecidos pelo SUS. Os centros de apoio à mulher e os bancos de leite podem ser procurados por quem precisa de ajuda e informação durante a amamentação.
“Acredito que se não tivéssemos que provar às outras pessoas que somos boas mães, o processo da maternidade seria mais leve”, opina Lore. Isso começa entendendo as escolhas ou a falta de oportunidade de escolhas que elas têm: “Lutei muito para conseguir amamentar a Liz, porque já precisei realizar duas vezes a cirurgia de redução de mama, então cada dia que conseguia era uma sensação de vitória. Mas parei de produzir leite. Não foi uma decisão minha, foi algo que aconteceu naturalmente”, termina.