Se você considerou algum tipo de medida anticoncepcional, é possível que tenha ouvido uma amiga recomendando um dispositivo intrauterino, ou DIU. O método, o mais eficaz contraceptivo reversível do mercado, cresceu exponencialmente em popularidade na última década, apesar de ainda ter baixas taxas de uso.
Existe até mesmo um pequeno subgênero de relatos pessoais sobre a decisão de usar um DIU, de testemunhos a histórias de problemas.
Laura MacIsaac, ginecologista e diretora da divisão de planejamento familiar do hospital Beth Israel, em Nova York, diz que percebeu um aumento do interesse das mulheres sobre DIUs. Parte da explicação tem a ver com boca-a-boca — mulheres que o recomendam para as amigas (ou escrevem sobre o dispositivo na internet) —, mas também tem a ver com uma mudança demográfica entre os médicos: na geração passada, a maioria dos ginecologistas eram homens, mas agora, segundo MacIsaac, 80% dos membros do American College of Obstetrician and Gynecologists com menos de 40 anos são mulheres. E 40% das ginecologistas que usam contraceptivos preferem o DIU, comparado com apenas 6% das mulheres em geral.
“Há 15 anos, ginecologistas não diriam: ‘É o que eu uso’”, diz MacIsaac, que usa um DIU Mirena e antes era adepta do Paragard. “É uma intimidade diferente quando uma médica pode falar da sua própria experiência.”
O resultado? Na prática, “um homem de 60 anos começa sugerindo o anticoncepcional, e uma mulher de 30, o DIU”, diz MacIsaac. Apesar de a pílula ser mais comum e mais familiar, os DIUs “funcionam melhor e são preferidos pelas mulheres”, segundo MacIsaac.
Médicos mais jovens também podem estar mais atualizados sobre as diretrizes profissionais do American College of Obstetrician and Gynecologists, que mudaram as recomendações para os médicos: oferecer primeiro DIU e outras métodos contraceptivos reversíveis e de longa duração para mulheres jovens. A Academia Americana de Pediatria recentemente fez o mesmo.
É claro que ginecologistas e autoridades de saúde de ambos os sexos e idades também são fãs do DIU — gravidez não-planejada ainda é motivo de grande preocupação nos Estados Unidos, que têm os maiores índices dos países industrializados. E os DIUs têm eficácia 20 vezes maior que a pílula ou adesivos na prevenção da gravidez, segundo um estudo de 2012 publicado no New England Journal of Medicine.
Será que você deveria usar um DIU? Para começar, o básico: eles são pequenos dispositivos em forma de “T” inseridos no útero. Nos Estados Unidos, existem três tipos disponíveis: o Mirena e o Skyla usam hormônios que podem impedir a ovulação; engrossam o muco cervical, criando uma barreira; e criam uma parede fina que impede a implantação de óvulos fertilizados. O Paragard usa cobre, que é tóxico para o esperma e deixa as paredes uterinas “lisas”, ou seja, é difícil que um óvulo grude nelas.
Pró: É o mais eficaz na prevenção da gravidez
Este pró é provavelmente o fator mais importante. Simplesmente o DIU é o melhor contraceptivo. A pílula tem um índice de falha de 6% — ou seja, seis de cada 100 mulheres que tomam anticoncepcional vão engravidar em um ano —, enquanto o índice do DIU fica entre 0,2% e 0,8%.
“Colocar e esquecer” é a grande vantagem do DIU. A pílula não tem um problema em si; ela falha simplesmente porque depende do fator humano. É preciso lembrar de comprar e tomar as doses diárias. E ela também pode sofrer de interações com outros medicamentos. Os DIUs simplesmente estão lá — não exigem manutenção nem atenção e garantem anos de proteção contra gravidez indesejada. Além disso, são reversíveis, ou seja, se você quiser ter um filho, basta retirar o dispositivo. A FDA, agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos, aprova o Skyla para um uso de três anos, o Mirena para cinco e o Paragard para até 10 anos.
Pró: As mulheres continuam usando o DIU
No que foi provavelmente o estudo mais elegante sobre métodos anticoncepcionais já realizado, uma equipe de pesquisadores liderada por Jeffrey Peipert, da Universidade Washington, em Saint Louis, permitiu que mulheres usassem, sem custo, o método anticoncepcional de sua escolha. Depois de um ano, ele observou como andava o uso dos contraceptivos entre as mulheres que não queriam engravidar mas continuavam sexualmente ativas. Como o custo não fazia parte da equação, os pesquisadores determinaram que a continuidade dependia apenas de preferência pessoal e conveniência.
Entre as usuárias de DIU, o uso continuado por um ano foi de 88%; entre as que escolheram a pílula, perto de 50%.
Contra: Exigem um procedimento clínico (que pode ser doloroso)
Ginecologistas e algumas enfermeiras podem inserir o DIU. O procedimento exige dilatação da cérvix, que é a abertura do útero. Muitas mulheres sentem dor, e algumas sentem tontura ou até desmaiam depois da colocação, segundo a ONG Planned Parenthood.
Pró: Há menos efeitos colaterais dos hormônios – mesmo com os DIUs hormonais
Muitas mulheres usam DIU porque tiveram más experiências com os efeitos colaterais dos hormônios contraceptivos, particularmente o estrógeno, que pode ter efeitos sobre o humor e a libido e levar ao aparecimento de acne e coágulos sanguíneos. O DIU de cobre é completamente livre de hormônios. Mas o Mirena e o Skyla também são diferentes de outras formas de contracepção baseadas em hormônios, pois não contêm estrogênio e liberam a progesterona localmente. Segundo MacIsaac, baixíssimas quantidades do hormônio são liberadas no sistema circulatório.
Contra: Pode mudar sua menstruação… para o pior
A principal razão pela qual as mulheres retiram o DIU antes do previsto tem a ver com mudanças na menstruação. Muitas mulheres que usam Paragard têm fluxos mais intensos, especialmente nos primeiros meses. Algumas relatam cólicas mais fortes, segundo MacIsaac.
O Mirena, por outro lado, pode causar fluxos muito pequenos, e às vezes até mesmo nenhum fluxo; 20% das mulheres que usam esse tipo de DIU não menstruam e, para muitas delas, essa é uma vantagem. Algumas mulheres não gostam de não menstruar, segundo MacIsaac, portanto a retirada do dispositivo acontece nos dois grupos.
Pró: custa pouco
Uma das razões pelas quais as mulheres param de tomar a pílula ou tomam de forma irregular é o custo: pode ser difícil comprar o anticoncepcional todo mês. Um DIU exige um certo investimento logo de cara, mas, ao longo de um ano, o custo é comparável ao da pílula, dos adesivos e dos aneis. Como o DIU pode durar até dez anos, é uma economia considerável. “Até mesmo um ano pode valer a pena”, diz MacIsaac. “Sugiro que minhas pacientes considerem o DIU um método que dura um ano ou mais – se você não quer ter um filho no próximo ano, é candidata a um dos três tipos de DIU.”
Matéria publicada em Brasil Post