A raiva é um sentimento tão natural quanto a felicidade, o medo e a ansiedade. Inclusive, reprimi-la pode ocasionar um sério adoecimento a longo prazo. Porém, não podemos ignorar que, em momentos de fúria extrema, tendemos a tomar decisões impulsivas que, quase sempre, acabam gerando arrependimentos mais tarde.
Sentir raiva é normal e aceitável, claro, mas não podemos ser dominados por nossos sentimentos a ponto de prejudicar a nós mesmos e aqueles que nos cercam.
Pensando nisso, entrevistamos Nina Ferreira, médica psiquiatra referência em neurociência, neuropsicologia e terapia cognitivo-comportamental, que traz dicas para controlar a raiva em momentos de explosão. Confira:
Por que sentimos raiva
Antes de mais nada, precisamos entender o processo psicológico por trás das nossas explosões de fúria. De acordo com a psiquiatra, a raiva é uma emoção que possui função de defesa. Portanto, todas as vezes que o nosso cérebro se sente ameaçado, desrespeitado ou invadido, nos sentimos furiosos.
Agora, o que despertará a raiva em cada pessoa irá depender, segundo Nina, de uma série de fatores, como genética, temperamento, personalidade, experiências primárias na vida (especialmente na infância e adolescência), padrões de maus tratos e sofrimentos emocionais. Todas essas vivências, em maior ou menor grau, vão gerando processos de gatilho que desencadeiam a fúria.
“O fato é: todos nós sentiremos raiva em algum momento, pois essa é uma experiência biológica inerente ao ser humano”, declara Nina Ferreira.
Como controlar a raiva
Sabe quando bate aquela raiva em que sentimos vontade de sair atacando Deus e o mundo? Por mais incontrolável que pareça, é necessário ter ferramentas para conseguir driblar a ira em seus picos mais intensos.
Ao não fazer isso, podemos colocar em risco as nossas relações familiares, amorosas e profissionais (além de, em casos extremos, prejudicarmos a integridade física alheia).
A seguir, Nina Ferreira lista os três macetes principais para se controlar em momentos de explosão:
1. Entenda seus pontos fracos
De acordo com a psiquiatra, mapear e compreender os nossos pontos fracos é a principal dica para nos controlarmos em momentos de explosão.
“Todo mundo sabe quais situações ou falas alheias costumam nos provocar raiva com maior facilidade. Então, o primeiro passo é você se preparar para, ou reduzir o risco dessa explosão acontecer, ou se distanciar do que possa lhe causar os acessos de fúria”, afirma.
Para Nina, o preparo frente a cenários estressantes nos dá ferramentas e habilidades para lidar com pessoas que nos enfurecem. Consequentemente, sentimos menos raiva. “Não é que ela não vá surgir, porém, será em uma intensidade menor. Assim, acaba sendo mais fácil regular a intensidade e a maneira como externalizamos as nossas insatisfações”, diz.
2. Perceba os sinais que o corpo te dá
Segundo a psiquiatra, todos nós temos manifestações físicas da raiva: “Para alguns, é uma dor na boca do estômago. Para outros, é um coração acelerado, uma dor no peito, pensamentos excessivos de ódio. Então, é necessário saber os sinais físicos que o nosso organismo emite, para que possamos nos conectar com esses avisos e tomar atitudes para nos proteger”, explica.
3. Se isole em momentos de explosão
A especialista pontua ser essencial procurarmos o distanciamento, o isolamento e o silenciamento ao percebermos a chegada da raiva extrema. “Quanto menos estímulos o cérebro tiver naquele momento, menos raiva ele vai sentir e mais rápido esse sentimento irá diminuir”, declara.
Ela indica que esse distanciamento da situação ou pessoa que nos engatilhe dure, ao menos, de 10 a 15 minutos. “Esse período é o suficiente para que os hormônios que geram a sensação de ira percam a intensidade. A partir daí, conseguimos nos acalmar”, indica.
Nina Ferreira reitera: não é possível evitar explosões de raiva. Contudo, podemos sim criar habilidades para manifestá-las de uma forma mais saudável.
Como sentir menos raiva no dia a dia
A psiquiatra afirma não existir melhor forma de sentir menos raiva do que buscar aumentar a nossa qualidade de vida. “Precisamos ter uma vida que nos satisfaz. Hábitos saudáveis, momentos de descanso, lazer e paz, reservar um tempo para o autoconhecimento. Tudo isso traz mais saúde mental. Quanto mais calmo e equilibrado estivermos, menos raiva intensa e situações de explosão vivenciaremos”, afirma.
Ela reforça, novamente, que o objetivo não é eliminar a raiva de nossas rotinas, pois estamos falando de uma emoção primária e até mesmo importante para a nossa sobrevivência. Porém, nas palavras da profissional, “precisamos sempre estar atentos aos nossos sentimentos logo que eles surgem, para que nada se agrave”.
Reprimir a raiva faz mal para a saúde
Por fim, Nina afirma que a raiva é uma emoção gerada e mantida por alterações de neurotransmissores e hormônios. Portanto, ao não olhar para ela, estamos potencializando disfunções em todos os órgãos do corpo, gerando problemas de saúde física e mental.
“A forma mais saudável de expressá-la, na verdade, é primeiro compreender a estrutura que está por trás dessa emoção, o que a fez aparecer e, então, esperar a emoção mais intensa passar, para que possamos compreender a vivência de um ponto de vista racional que nos permita tomar alguma atitude em relação àquilo”, declara.
Simplesmente ignorar ou fingir que não aconteceu jamais será o melhor caminho, segundo a psiquiatra. “Às vezes, não há grande solução, mas apenas o fato de você ter olhado para aquela emoção, ter lidado com ela, buscado formas de metabolizá-la, já é uma resolução eficaz”, conclui.
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