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Carla Silva, a mulher que transforma vidas por meio do boxe

A instrutora e técnica gaúcha ensina a luta para meninas e mulheres como forma de trabalhar a autoestima e confiança

Por Joana Oliveira
3 nov 2022, 11h49
Carla Silva, professora e técnica de boxe para mulheres.
Carla Silva, professora e técnica de boxe para mulheres.  (Wendy Andrade/Reprodução)
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A gaúcha Carla Silva, de 45 anos, sempre gostou de esportes. Durante sua infância, ficava vidrada nas competições de boxe transmitidas na televisão. “Eram os anos de ouro daquele esporte no Brasil”, lembra ela. Mas foi só aos 20 anos que ela mesma se atreveu a vestir as luvas e aprender os golpes. A partir daí, não parou mais de lutar, em muitas frentes. Fez cursos na Federação Brasileira de Boxe para ser instrutora e técnica, treinou campeões estaduais e deu aulas em academias até abrir, em 2014, seu próprio centro de treinamento (CT) em Esteio, interior do Rio Grande do Sul. Suas alunas foram as maiores incentivadoras para que Carla abrisse o próprio negócio. “Nas academias, havia muitos comentários machistas. Aí, improvisamos aulas numa garagem e depois consegui inaugurar o CT”, conta. De início, eram 12 alunas matriculadas. Carla investiu 50 reais para fazer uma faixa de propaganda, fez algumas publicações no Facebook e, no primeiro mês, já dava aula para 30 pessoas. Ela é mais uma empreendedora de um grupo de mulheres incríveis que você conhece no projeto Potencializadoras, uma parceria especial entre CLAUDIA, PretaHub e Meta.

Carla conta que ela trabalhou muito com atletas homens, principalmente em campeonatos, mas “virou uma chavinha” em sua cabeça quando percebeu que muitas mulheres a procuravam querendo emagrecer. Isso a incomodou. “Ficava preocupada com esse desejo de entrar num padrão estético, então passei a ressaltar outros benefícios do boxe. Porque essas mesmas mulheres também relatavam que se sentiam mais relaxadas depois dos treinos, que dormiam melhor…”, relata. Ela tem um projeto em que ensina o esporte a meninas de 9 a 16 anos, mas também dá aulas para senhoras. Sua aluna mais velha tem 68 anos. “Sempre misturo as turmas, coloco as mais jovens para treinar com as mais velhas, as que têm mais condições socioeconômicas com as que têm menos. Tudo para mostrar que o foco lá não é alcançar o corpo perfeito, mas o resgate da autoestima.

E a própria Carla precisou dessa força e consciência, mais do que nunca, quando enfrentou um câncer de mama, em 2019, e passou por uma mastectomia. A rede de mulheres do CT que leva seu nome passou a fazer treinos em praças e parques da cidade para angariar recursos para seu tratamento e isso a motivou a não desanimar. Durante a recuperação, vestiu as luvas e começou a ensaiar alguns golpes leves. Não demorou para que voltasse à sua antiga forma. “Meus médicos ficaram tão impressionados que me convidaram para dar aulas de boxe a outras mulheres que estão se recuperando da doença. Às vezes, treinamos no jardim do hospital e outras pacientes, que ainda estão fazendo quimioterapia, nos assistem pelas janelas. Acredito que isso dá esperança e mostra que o câncer de mama não é uma sentença de morte“, diz.

Mãe de dois filhos uma jovem de 25 anos, que foi três vezes campeã gaúcha de boxe. e um adolescente, de 14—, Carla sempre muito por si mesma e pelos outros, mas só reconheceu seu próprio potencial quando recebeu as mentorias da Feira Preta, do PretaHub. “Isso me fez ver quantas mulheres eu carrego comigo.” Graças ao projeto, ela está desenvolvendo sua própria marca de roupas esportivas, a Lutiis, que será fabricada por costureiras que são mães solo. “Para mim, é muito importante dar oportunidade e fortalecer o trabalho de mulheres que, como eu, lutam. Um trabalho que muitas vezes não é devidamente valorizado”, comenta. Carla quer trazer cada vez mais mulheres para o ringue consigo. Como tantas outras mulheres negras empreendedoras, ela nunca quer andar sozinha. 

O projeto Potencializadoras é uma parceria do PretaHub, da CLAUDIA e da Meta para contar histórias de mulheres negras empreendedoras. A fotógrafa baiana Helen Salomão e Wendy Andrade se uniram para retratar 15 mulheres que fazem parte da Aceleração de Negócios de Empreendedoras Negras, iniciativa idealizada pela Meta e pela PretaHub. 

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