Câncer de ovário: atenção aos sintomas e ao histórico familiar
Exames de rotina com profissionais especializados e aconselhamento genético são essenciais para a busca do diagnóstico precoce e do tratamento adequado
Entre os tumores ginecológicos, o câncer de ovário é o segundo que mais atinge as mulheres – ficando atrás apenas do tumor de colo de útero. Dados do Instituto Nacional de Câncer de 2020 mostram ainda que ele ocupa o sétimo lugar na lista dos tumores que acometem o público feminino.1 “Apesar de não ter uma incidência alta, a mortalidade é muito expressiva”, diz o doutor Gustavo Fernandes, diretor de oncologia da Dasa, maior rede de saúde integrada do Brasil.
Esses números alarmantes podem ser justificados, pelo menos em parte, pelo diagnóstico geralmente tardio. “Sempre que falamos sobre a conscientização sobre uma doença, colocamos o rastreio como algo significativo – e esse é o grande desafio do câncer de ovário. Por não existir um método de diagnóstico precoce, frequentemente ele é descoberto em estágio já avançado”, completa o especialista. Ao contrário do câncer de útero, que pode ser rastreado com o papanicolau, e o de mama, com a mamografia, para o câncer de ovário ainda não existe um método de rastreio – por isso, o acompanhamento com ginecologista e o histórico familiar são tão importantes.
A doença pode acometer mulheres em qualquer idade, mas sabe-se que a incidência aumenta com o tempo. “O pico da doença acontece, normalmente, entre os 50 e 60 anos”, afirma a doutora Cecília Longo, oncologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e do Hospital São Lucas Copacabana, ambos no estado do Rio de Janeiro. Outro fator de risco é o componente genético. “A mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 predispõe a chance de evolução dos cânceres de ovário e mama. Por isso, mulheres com histórico desses tipos de tumor na família devem estar mais atentas”, orienta a médica.
Sintomas e a importância dos exames
Os sintomas do câncer de ovário podem ser vários e, em geral, são inespecíficos. “Os ovários são glândulas que estão na pelve, ao lado de cada tuba uterina. Quando o tumor começa a crescer, ele pode gerar a compressão dessas estruturas e provocar dor abdominal, dor irradiada para a coluna, alteração do hábito intestinal, perda de peso e aumento do volume abdominal”, explica a doutora Cecília.
Por não existir um rastreamento específico para esse câncer, os sinais clínicos são aliados do diagnóstico precoce. “É muito importante compartilhar suas queixas com o especialista, principalmente as que estão relacionadas a alterações no volume abdominal e no ciclo menstrual, além de não ignorar o histórico familiar”, alerta o doutor Gustavo.
“O ultrassom transvaginal é um aliado desse rastreio, já que também avalia os ovários. Acende-se um sinal de alerta se eles estão aumentados ou com cistos de características suspeitas”, afirma o doutor Romulo Varella, radiologista do CDPI e chefe do centro de imagem do Hospital São Lucas Copacabana, no Rio de Janeiro. Além desse exame, a ressonância magnética também permite identificar e avaliar melhor as características dos cistos.
No entanto, não basta ter atenção aos exames certos: o profissional que os executa também faz a diferença na hora de diagnosticar a doença. “O ultrassom é um exame chamado de ‘operador independente’, ou seja, a experiência do médico que o realiza é bastante impactante na capacidade de identificar alterações. Para a ressonância, existem especialidades. É importante que seja um radiologista especialista em imagem pélvica e abdominal”, explica o doutor Romulo. “A Dasa é referência em genômica e tem um portfólio amplo para identificar fatores genéticos que predispõem a diversos tipos de câncer, não só de ovário”, completa o especialista.
De olho na hereditariedade
Cerca de 10% das pacientes com câncer de ovário têm uma síndrome de natureza genética, ou seja, de mutação nos genes BRCA1 e BRCA2, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. O doutor Tiago Kenji, diretor técnico do Instituto de Oncologia Santa Paula (Iosp), em São Paulo, lembra da importância dos testes genéticos, que, nesse caso, são painéis de câncer hereditário – Painéis NGS. “Eles são feitos a partir de uma simples coleta de sangue. Muitas famílias têm riscos aumentados por conta da genética e não o sabem”, afirma.
Os Painéis NGS, que identificam mutações nesses genes, servem para guiar o tratamento de uma paciente que já tenha desenvolvido o câncer de ovário, mas também para aconselhamento genético e acompanhamento médico mais próximo das outras mulheres da família que possam ter herdado a mesma mutação, ajudando a prevenir novos casos. “É importante lembrar que esses genes também podem estar mutados em homens, o que aumenta a predisposição a cânceres como o de próstata”, afirma o doutor Cristovam Scapulatempo Neto, diretor médico da Dasa Genômica.
O tratamento
Sim, existe tratamento para o câncer de ovário, e ele varia de acordo com o estágio da doença. “Geralmente, o cuidado inclui uma cirurgia realizada por um profissional especializado em tumores ginecológicos”, diz a doutora Cecília. A quimioterapia também é avaliada pelo oncologista e indicada de forma personalizada, de acordo com as particularidades do caso de cada mulher.
Além disso, já existem medicamentos direcionados para a mutação específica dos genes BRCA1 e BRCA2. “São as terapias-alvo, uma evolução no tratamento de vários tipos de câncer. Elas envolvem medicamentos que são direcionados especificamente para aquele tipo de tumor”, afirma a doutora Cecília.
Para auxiliar no tratamento desse tipo de câncer, a GeneOne, até então o braço de genômica da Dasa, foi o primeiro laboratório de genômica do mundo a validar o HRDOne, teste genômico que analisa uma amostra do tumor para avaliar a indicação de uma terapia-alvo. “Os carcinomas de alto grau do ovário, quando apresentam mutações nos genes BRCA1 e BRCA 2 ou quando possuem instabilidade genômica, podem ser tratados com drogas chamadas inibidores de PARP. Na primeira linha de tratamento, eles aumentam em quase 20 meses a sobrevida livre de progressão da paciente, comparados ao tratamento padrão”, explica o doutor Cristovam.
“Como o câncer é uma doença muito complexa, tanto para o paciente quanto para a sua família e os profissionais envolvidos, falamos que nunca tratamos apenas dele. E, por isso, ter o cuidado realizado em um centro especializado em oncologia faz toda a diferença”, conclui a doutora Cecília.