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Cada vez mais mulheres têm diabetes. Entenda os motivos

Estilo de vida e estado geral da saúde da mulher têm ligação direta com o surgimento do diabetes tipo 2

Por Raquel Drehmer
Atualizado em 17 jan 2020, 12h41 - Publicado em 14 nov 2017, 09h09
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  • Atualmente, 199 milhões de mulheres em todo o mundo têm diabetes. O número por si só já é alarmante, e indo mais a fundo na questão conseguimos ter uma dimensão melhor sobre o que ele significa.

    De acordo com a Federação Internacional de Diabetes, órgão ligado à Organização Mundial da Saúde (OMS), o grupo em que mais aumentam os casos da doença são as mulheres adultas. No Brasil, a tendência se confirma: nos últimos dez anos, o público feminino com diabetes passou de 6,3% para 9,9% (contra um crescimento de 4,6% para 7,8% entre os homens). Os dados nacionais são da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada pelo Ministério da Saúde.

    Por causa disso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) decidiram voltar as atenções para a mulher no Dia Mundial do Diabetes 2017 – 14 de novembro. O foco do ano é o tema “Mulheres e Diabetes: Nosso Direito a um Futuro Saudável”, com a intenção de alertar para os cuidados extras que as mulheres devem ter em relação à doença.

    Para entender por que as mulheres são maioria entre as vítimas do diabetes e o que a doença significa, conversamos com os endocrinologistas João Eduardo Nunes Salles, do Departamento de Diabetes da SBEM e membro da SBD, e Rosane Kupfer, chefe do Serviço de Diabetes do Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia (IEDE) e membro da SBEM.

    Rotina e saúde geral da mulher podem levar ao diabetes tipo 2

    A rotina de trabalho pesado, estresse, sedentarismo e alimentação inadequada contribui, e muito, para o surgimento de diabetes tipo 2. Sim, o fator emocional pode ser um gatilho para a doença. “A mulher está neste ritmo há algumas décadas, e se ela tiver uma predisposição genética à dificuldade de processar a insulina, poderá desenvolver a doença”, conta Rosane.

    Hardworking dedicated businesswoman
    Trabalho pesado, estresse, sedentarismo e má alimentação contribuem para o surgimento do diabetes tipo 2 (SebastianGauert/ThinkStock)

    A médica também ressalta que a síndrome dos ovários policísticos (SOP), condição endocrinológica que acomete de 5% a 10% das mulheres em idade fértil, é um fator que aumenta o risco de a paciente ter diabetes tipo 2. Isso se dá porque a SOP impacta negativamente na resistência à insulina.

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    Há que se considerar também, segundo João Eduardo, o crescimento da obesidade entre a população. “Do ponto de vista epidemiológico, a obesidade é totalmente ligada ao diabetes tipo 2 e atinge o sexo feminino de uma forma mais grave, porque as mulheres têm mais massa gorda que os homens”, diz. A explicação: essa massa gorda pode levar a distúrbios metabólicos que resultam no mau processamento da insulina e, consequentemente, no diabetes.

    Mas atenção: isso está longe de dizer que pessoas magras estão imunes ao diabetes ou que todas as pessoas gordas terão a doença. Uma pessoa magra que não cuide da alimentação e do estilo de vida pode vir a ser diagnosticada com diabetes tipo 2, enquanto uma pessoa gorda que se cuide e faça atividades físicas pode passar a vida toda sem saber o que é isso.

    As alterações hormonais da menopausa também entram nos fatores que tornam as mulheres maioria em incidência de diabetes. “Uma em cada três pessoas idosas têm diabetes”, crava João Eduardo. “As mulheres vivem, em média, oito anos mais que os homens, então o próprio envelhecimento está ligado ao aparecimento da doença em maior proporção entre elas.”

    A ligação entre diabetes melitus gestacional e diabetes tipo 2

    Durante a gravidez, mulheres que nunca apresentaram problemas com a insulina e não têm necessariamente um estilo de vida puxado e sem cuidados com a saúde podem desenvolver o diabetes melitus gestacional, uma condição que pode surgir a partir da 24ª semana.

    De acordo com Rosane, “a gestação é uma condição diabetogênica, pois as alterações hormonais favorecem o aumento da glicose no sangue”. O diagnóstico é feito por meio de um exame de glicose em jejum e, a partir dele, é preciso haver um cuidado especial no pré-natal para resguardar a saúde da mãe e do bebê – que, sem cuidados, pode nascer com peso elevadíssimo.

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    Apesar de normalmente desaparecer depois do parto, o diabetes melitus pré-gestacional deixa sua marca. “É um pré-diabetes”, afirma Rosane, ao que João Eduardo complementa: “Esta mulher terá muito mais risco de ter diabetes tipo 2 depois da menopausa.”

    Entenda o que é diabetes

    O médico explica que diabetes é uma doença endocrinológica causada pela combinação entre a falta de insulina (ou a deficiência na ação da insulina no organismo) e o aumento da glicose no sangue. A insulina tem como função facilitar o trânsito da glicose pelas células; se ela não trabalha direito, a glicose começa a ficar acumulada no sangue, levando ao diabetes.

    O diabetes pode ser do tipo 1, que atinge 10% da população, ou do tipo 2, que acomete 90% das pessoas.

    Quando é do tipo 1, a doença tem causas genéticas e costuma se manifestar ainda na infância. Nela, as células que produzem insulina são destruídas e há sintomas fortes, como aumento das idas ao banheiro, muita fome e emagrecimento sem razão aparente, além de cansaço, fraqueza e dores nas pernas.

    Já o tipo 2, que é o mais frequente, normalmente surge na vida adulta, pelos motivos elencados ali em cima. Ele tem o problema de ser assintomático por muito tempo – os sintomas só aparecem quando a doença já está em um estágio avançado, afetando as retinas e os nervos.

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    “Metade dos pacientes não sabem que têm diabetes do tipo 2. Nestes casos, ele é detectado por causa de algum exame admissional ou exame pré-cirúrgico mais completo”, revela Rosane.

    Como é o tratamento do diabetes

    Woman giving herself insulin shot injection.
    A aplicação de insulina é obrigatória desde o início do tratamento do diabetes tipo 1; para diabetes tipo 2, pode ser necessária se o uso dos medicamentos não for feito adequadamente (DmitriMaruta/ThinkStock)

    Para quem tem diabetes tipo 1, o tratamento é desde sempre a aplicação de insulina.

    O tipo 2, inicialmente, é controlado por medicamentos e não obrigatoriamente precisará das injeções. “Mas, se a pessoa não se cuidar, vai acabar nas aplicações de insulina, sim. A maioria acaba”, diz a endocrinologista.

    “Um dos principais erros de quem tem diabetes tipo 2 é suspender a medicação sem orientação do especialista que acompanha sua saúde. A pessoa se sente melhor e acha que está curada. Mas diabetes não tem cura”, alerta João Eduardo.

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    Também faz parte do tratamento do diabetes tipo 2 a mudança no estilo de vida, deixando de lado o sedentarismo e o estresse.

    Consequências do diabetes não controlado

    Quando o tratamento é levado a sério, o diabetes é controlado e o paciente leva uma vida normal.

    Mas se a pessoa com diabetes se descuida constantemente, as consequências podem ser bem sérias, envolvendo um maior risco de doenças cardiovasculares (risco 10 vezes maior para as mulheres e 4 vezes maior para os homens), o comprometimento das retinas (segundo Rosane, praticamente todos deste grupo de descuidados desenvolvem retinopatia diabética) e das atividades dos rins (que causa a necessidade de hemodiálise para 30 a 40% dos pacientes).

    Havendo tratamento medicamentoso adequado e seguindo a indicação para mudar o estilo de vida, não tem por que correr estes riscos. Como os especialistas ressaltam, diabetes controlado é sinônimo de vida saudável. E é isso que todo mundo quer, não é mesmo?

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