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As mudanças de hábitos que vão tornar o isolamento mais leve

Está contando cada dia de isolamento? E alimentando a lista do que fazer quando acabar? Esses hábitos podem ajudar a cuidar da mente e passar pela tormenta

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 7 Maio 2020, 15h25 - Publicado em 9 abr 2020, 19h45
 (Maria Elisa Zaia/CLAUDIA)
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Você está contando cada dia de isolamento? E alimentando a lista do que fazer quando acabar? Junte-se a todos os brasileiros – e italianos, americanos, indianos. Para aguentar o tranco, tem que cuidar da mente. Esses hábitos podem ajudar a passar pela tormenta.

 

Ao abrir os olhos pela manhã, um raro momento de tranquilidade. Com a absorção da luz do dia, chega a primeira lembrança: estamos vivendo uma pandemia. Todo o relaxamento conquistado nas horas de sono se esgota rapidamente. O corpo passa o dia tenso.

A preocupação com o novo coronavírus (será que eu ou alguém que eu amo vamos pegar?) se mistura à difícil tarefa de se adaptar a uma vida confinada dentro de casa com a família. Se, há alguns meses, alguém contasse essa história, você ia achar que se tratava de um conto distópico perturbador.

Contudo, é a realidade de mais de 1 bilhão de pessoas no mundo. “Estão sendo mobilizadas sensações que já conhecemos, como ansiedade, medo, angústia. Porém, pela primeira vez, assistimos isso
acontecer coletivamente. Não é um sentimento meu, mas de todos, o que gera outro assombro”, descreve a terapeuta ocupacional Luciana Surjus, coordenadora sudeste da Associação Brasileira de Saúde Mental. Ou seja, tudo bem estar assustada e não saber como reagir. Estamos todos nesse barco – que às vezes parece à deriva.

Essencial agora é conseguirmos nos fortalecer para aguentar a tempestade passageira. Não estamos falando aqui de seguir e imitar vídeos de treinos com garrafas de água e sacos de arroz, mas de criar mais resistência mentalmente e manter a cabeça saudável apesar de tudo.

“Nosso cotidiano é uma demonstração muito grande da nossa identidade, permite que finquemos os pés nas nossas raízes, exibe gostos, afinidades e crenças”, explica Surjus. É compreensível, portanto, que esteja sendo tão difícil para nós abrir mão do dia a dia, por mais insatisfeitas que fôssemos com nossa vida pré-pandemia. O segredo é adaptar elementos essenciais da rotina anterior e não esquecer que isso vai passar.

“O psicólogo pode contribuir neste momento orientando e oferecendo estratégias para quem está em casa com os filhos, sugerindo inclusive atividades”

ANA SANDRA FERNANDES, PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA
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Não fuja da terapia

Desde 2018 o atendimento psicológico online é regulamentado pelo Conselho Federal de Psicologia (CPF) – e isso quer dizer que há regras que precisam ser respeitadas. Qualquer profissional pode atender virtualmente, mas precisa ser cadastrado nessa modalidade. A lista com nomes autorizados está no site da organização.

“Normalmente, analisamos o plano terapêutico para a aprovação, mas, como isso pode levar alguns dias, estamos liberando a atividade imediatamente após o cadastro”, explica Ana Sandra Fernandes, presidente do CFP.

A sessão deve ser feita em ambiente fechado, com bastante privacidade, por áudio ou vídeo. Crianças também podem ser atendidas virtualmente, porém, assim como no tratamento no consultório, elas devem passar pela avaliação de um psicólogo e o responsável deve assentir.

 

Satisfaça o seu chamado social

Tem gente que adora ficar em casa sozinho, curtindo o prazer da própria companhia. Mas tudo muda de figura quando isso se torna obrigatório. Não é da nossa natureza viver em isolamento total e constante. Como seres sociais, precisamos da troca, da convivência, não importa a idade.

Uma alternativa, portanto, é contar com as ferramentas digitais para manter o contato com o mundo externo, alimentar a rede afetiva que sempre foi importante pessoalmente. “Para as crianças é mais fácil, natural, mas até mesmo os idosos estão aprendendo a fazer chamadas por vídeo”, ressalta Luciana.

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Além das conversas banais com amigos e familiares, experimente participar de grupos com interesses específicos. Por exemplo, um que compartilhe técnicas de artesanato ou dicas de receitas ou até que faça meditação coletivamente.

 

Adapte-se como der

A primeira coisa a destacar é que cada um vai encontrar o próprio caminho para tornar o isolamento aceitável, ou seja, não existe uma regra que valha para todos. Entretanto, algumas ações podem acalmar a maioria. Estabelecer uma rotina é uma delas, pois aumenta a sensação de estabilidade.

Para alguns, o ideal é planejar os horários para o próximo mês, levando em conta todas as áreas da vida, incluindo bem-estar e momentos de folga, além do trabalho. Essa mesma sugestão pode fazer outras pessoas ficarem com o coração acelerado só de ouvir. É que a programação mental delas sugere projetar mais a curto prazo. Então vale organizar a semana ou até mesmo dia a dia.

“Faça o que vai deixá-la confortável e não piorar sua ansiedade. E lembre-se de que tudo isso pode ser revisto imediatamente se não estiver agradando”, recomenda Luciana.

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(Maria Elisa Zaia/CLAUDIA)
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Recorra a atividades lúdicas

Nos últimos dias, as postagens do Instagram mostram a vida dentro de casa, e o que é muitas vezes escolhido como entretenimento acaba fazendo um bem danado ao lado psicológico na busca por mais calma e equilíbrio. Quebra-cabeças gigantes, pintura, crochê e outras atividades manuais exigem concentração, tirando a atenção das notícias, do medo e das preocupações.

Também é uma ótima maneira de melhorar a relação entre idosos e crianças. “Estimule a criatividade e use-a para propor novas formas de passar o tempo. Dialogue com os outros, ouça sugestões e proponha atividades coletivas”, sugere Ana Sandra.

 

Lembre-se: vai acabar

Estudos científicos mostram que 90% das pessoas têm as mesmas reações após um grande trauma. Sofrem de ansiedade, apresentam distúrbios de sono, temem que o acontecimento se repita. “Porém, após quatro meses, há uma diminuição natural do mal-estar. A resiliência é natural ao ser humano. Somente se os sintomas persistirem será preciso buscar ajuda médica. Portanto, devemos ter em mente que vamos superar isso sem sequelas graves”, defende a psicóloga Luana Marques, professora na Universidade de Harvard.

Lembrar-se constantemente de que a situação é passageira garante alento e dá a sensação de que há certo controle sobre o que estamos vivendo – o que costuma ser um fator tranquilizante pra muita gente.

 

Volte-se para dentro

Não querendo ser a otimista cega, mas existem coisas positivas nessa experiência que estamos tendo. “Com a rotina acelerada, acabamos nos esquecendo de nos dedicar à convivência familiar. É a oportunidade de nos reconectarmos em casa”, afirma Ana Sandra. Organize momentos para todos ficarem juntos, jogando algo ou assistindo a um filme. Converse, conte histórias e fale sobre sentimentos – há quanto tempo vocês não fazem isso?

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Para além da diversão, ações coletivas ajudam a acalmar a mente. “Se estamos no modo multitarefa, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, o cérebro fica acelerado. Qualquer meditação o acalma, mas também funciona manter-se no momento presente e focar em uma atividade. Dessa forma, você ativa o córtex pré-frontal, responsável pelo nosso lado racional, e evita que a ansiedade atinja níveis nocivos”, explica Luana.

Além disso, quando estão todos trabalhando por um mesmo propósito, cria-se ainda espírito de equipe. Alguém pica os ingredientes, outro cuida das panelas, um coloca a mesa e de repente o fluxo fica mais suave, a interação melhora.

 

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