Álcool no pão de forma pode ser perigoso?
Pesquisa do Proteste encontra álcool em pão de forma e quantidade poderia levar motorista a flagrante no bafômetro
Um estudo publicado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) deixou em alerta os brasileiros que consomem pães industrializados. Isso porque a pesquisa apontou que marcas populares de pão de forma têm alto teor alcóolico.
O ponto mais chamativo da pesquisa, e que a fez virar assunto de debate, foi que em três marcas pesquisadas pelo Proteste, a quantidade de álcool poderia levar motoristas ao flagrante por embriaguez em testes do bafômetro.
O resultado alarmante fez com que a associação criasse um portal de informações. Intitulado “Tem Álcool o pão“, o site apresenta os resultados da pesquisa e faz um apelo pelo direito dos consumidores de saberem que estão consumido uma alta quantidade de álcool sem ter conhecimento.
“A preocupação se intensifica quando falamos em crianças e adolescentes, e por isso foi lançada a campanha: se tem álcool, todo mundo tem direito de saber”, reitera Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Por que pães têm álcool na composição?
O álcool é um componente presente entre os ingredientes, pois toda fabricação de pães passa pelo processo de fermentação, que é quando os açúcares da massa são fermentados e transformados em álcool etílico e gases. Grande parte desse álcool é evaporado quando em contato com o calor do forno.
Contudo, o relatório do Proteste (*Relatório Técnico e Mercadológico Proteste, 29/02/2024) mostra que, quando chega ao consumidor, alguns pães contêm teores alcóolicos elevados. Sendo assim, a adição de álcool ao pão estaria vindo de outra fonte.
Como o pão é um alimento extremamente perecível, a associação afirma que, para evitar o mofo e garantir que o pão chegue até nossas casas intacto, a indústria usa conservantes diluídos em álcool e borrifados no produto antes de embalar.
“No entanto, quando essas aplicações são exageradas, o pão fica com um teor de etanol muito elevado”, explica o relatório.
Quais são as marcas analisadas pelo Proteste?
O levantamento analisou o teor alcóolico de 10 marcas de pães de forma vendidas em supermercados pelo Brasil. São elas: Pulmann, Visconti, Bauducco, Wickbold 5 zeros, Wickbold sem glúten, Wickbold leve, Panco, Seven Boys, Wickbold e Plusvita.
A partir das análises, foi descoberto que seis seriam considerados alimentos alcóolicos, se houvesse essa classificação. No produto analisado da Visconti, por exemplo, a porcentagem de álcool encontrada foi de 3,37%. Já na Bauducco, a porcentagem foi de 1,17%.
No Brasil, a legislação exige que bebidas com teor de etanol acima de 0,5% sejam classificadas como alcóolicas. Ou seja, um volume muito menor do que o encontrado nos pães.
O Proteste alega que o estudo mostra que alguns pães brasileiros deveriam ter um aviso na embalagem: “CONTÉM ÁLCOOL”.
“Se os profissionais de Saúde Pública estipulam limites para a presença de álcool em medicamentos fitoterápicos e se exigem avisos em bebidas com 0,5% de álcool ou mais, por que ninguém avisa sobre os pães?”, questiona o Proteste.
Outro risco da falta de informação na embalagem é a de pessoas estarem consumindo álcool sem ter conhecimento. “Com isso, crianças, gestantes e lactantes, por exemplo, estão consumindo álcool sem saber. O consumo de álcool durante a gravidez, lactação e por crianças pode ter diversos riscos significativos para a saúde, como risco de aborto espontâneo, parto prematuro e baixo peso ao nascer”, alerta Amanda Figueiredo, nutricionista clínica pela USP.
Pão interfere no teste do bafômetro?
Na pesquisa, a associação analisou o risco de um motorista ultrapassar o limite no teste depois de comer duas fatias de pão: três marcas representaram riscos.
Isso porque, pela lei, um teste do bafômetro não pode passar de 0,04 mg/l. De 0,05 mg/l a 0,33mg/l é considerada infração gravíssima e acima disso crime de trânsito.
O que diz o DETRAN?
Em nota publicada em julho deste ano, o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) afirmou que os pães de forma industrializados não apresentam risco e a notícia trata-se de uma fake news: “Não há qualquer prejuízo, ao contrário do que tem se propagado. O único risco é de desinformação, como deixam claro especialistas em medicina, nutrologia e trânsito”, diz o comunicado oficial.
Além disso, o departamento alega que “a pesquisa da Proteste não fez qualquer experimento com o aparelho usado para medir a alcoolemia em motoristas“.
Sendo assim, segundo o Detran, qualquer relação entre a ingestão de pão de forma e o teste positivo no etilômetro é uma “inferência” – ou dedução –, como o próprio estudo diz: “Poderíamos inferir que a contribuição de massa em gramas de álcool de 2 fatias da amostra analisada das marcas (…) poderia incorrer em riscos a motoristas em testes de bafômetros”.
Mas é importante ressaltar que, de fato, quem acabou de comer um pão de forma poderia ter um resultado positivo no teste, se confrontado com um etilômetro em uma Operação Direção Segura Integrada (ODSI).
Entretanto, conforme alerta o departamento, trataria de um “falso positivo”, que também pode acontecer com o consumo de bombons de licor, vinagres, enxaguantes bucais e outros produtos com álcool.
“Volátil, de fácil evaporação, esse etanol é eliminado pelo organismo em questão de minutos. Assim, ao repetir o exame, possibilidade que o artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) assegura como direito à contraprova, o condutor testará negativo“, afirma o Detran de São Paulo.
O que alegam as marcas?
Em nota, a Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, diz que “adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento” e que “segue toda a legislação e regulamentações vigentes”.
Já o Grupo Wickbold, também detentor da marca Seven Boys, alega seguir “protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle” e que “cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas”.
O que o consumidor pode fazer?
Segundo a endocrinologista e metabologista Tassiane Alvarenga, o importante é sempre buscar informação para entender o que, de fato, está consumindo. “Ao ler a embalagem, procure por termos como ‘álcool’ ou ‘etanol’ na lista de ingredientes”, recomenda a especialista.
“Lembre-se de conferir se há menção a conservantes que possam ser dissolvidos em álcool, como propionato de cálcio ou sorbato de potássio”, observa Thais Mussi, endocrinologista pela SBEM e Nutróloga pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Para entender melhor a embalagem, a nutricionista Amanda Figueiredo dá a dica: “Os ingredientes são listados em ordem decrescente de quantidade, isso significa que o primeiro ingrediente é o mais presente no produto. Também, quanto menor a quantidade de aditivos alimentares, melhor”, explica.
Conforme explica Amanda, alguns conservantes utilizados em alimentos podem conter ou estar associados ao álcool, seja como solvente ou parte do processo de fabricação. “Às vezes, os nomes químicos específicos dos conservantes são listados, o que pode dar uma dica sobre a presença de álcool. Porém, não é uma regra.”
Conforme afirma Tassiane Alvarenga, “é importante lembrar que a presença de álcool em alimentos fermentados é uma ocorrência natural e geralmente não prejudicial.”
Segundo ela, a transparência das empresas e a regulação pelos órgãos competentes são fundamentais para garantir a segurança dos alimentos. Além disso, educar o público sobre os processos de fabricação de alimentos pode ajudar a desmistificar muitos mitos relacionados à segurança alimentar.
Ela indica também verificar as informações fornecidas pelo fabricante sobre o processo de fabricação e qualquer menção ao uso de álcool. “Se tiver dúvidas, entre em contato com o serviço de atendimento ao consumidor da marca pode ser útil”, explica.
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