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Svetlana Tikhanovskaya, a professora que desafia ditadura na Bielorrússia

Aos 37 anos e sem nunca ter tido grande interesse em política, ela conseguiu se tornar uma das maiores opositoras do presidente Alexander Lukashenko

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
Atualizado em 11 ago 2020, 14h24 - Publicado em 11 ago 2020, 10h00
 (Tanya Kapitonova/Getty Images)
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Mais que para o povo, a política é feita pelo povo. Assim, a candidatura de uma professora e dona de casa para o cargo de presidente de uma nação não deveria causar tanta surpresa. Mas em um país como a Bielorrússia, que de seus 29 anos de existência, há 26 é governado pelo mesmo homem, a participação de Svetlana Tikhanovskaya nas eleições tem causado um rebuliço.

Concorrer nas eleições presidenciais nunca esteve exatamente nos planos de Svetlana. Aos 37 anos, ela havia deixado de trabalhar como intérprete para cuidar da casa e dos dois filhos que teve com o esposo, o blogueiro Sergei Tikhanovsky. Era ele, aliás, que a princípio seria um dos candidatos de oposição do atual presidente bielorrusso Alexander Lukashenko. Porém sua candidatura foi barrada antes mesmo que a campanha eleitoral tivesse início e Sergei foi preso, acusado de participar de protestos não autorizados no começo deste ano.

Foi então que Svetlana entrou em cena. Apesar de nunca ter tido o maior dos interesses em política, ela afirma ter aprendido muito sobre o próprio país e seus habitantes enquanto viajava com o marido, que percorria o país fazendo vídeos para seu canal no YouTube. Assumindo o posto de Sergei na corrida eleitoral, a professora rapidamente conseguiu coletar as 100 mil assinaturas exigidas para oficializar sua candidatura.

Ao contrário de outros opositores como o próprio Sergei, o diplomata Valery Tsepkalo, que fugiu para Moscou após alegadas ameaças de prisão e perda da guarda dos filhos, e o ex-banqueiro Viktor Babariko, acusado de peculato e fraude e preso em julho, Svetlana inicialmente não pareceu causar grandes preocupações em Lukashenko. Ao contrário, o presidente chegou a desdenhar dela, a classificando como uma “pobre garotinha” que estaria sendo manipulada por estrangeiros.

Com o avançar de sua campanha, porém, ela conquistou grande apoio interno. Em julho, mais de 63 mil pessoas compareceram a um de seus comícios na capital bielorrussa  Minsk. Outros tantos milhares assistiram seus discursos em cidades do interior, locais onde até então a oposição nunca havia tido muita força. Ela também conta com o suporte de Veronika Tsepkalo, esposa de Valery, e Maria Kolesnikova, que foi diretora de campanha de Viktor Babariko. Mas junto com o apoio vieram também as ameaças e, para diminuir os riscos, ela decidiu enviar seus dois filhos para outro país.

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Viktoria Tsepkalo, Svetlana Tikhanovskaya e Maria Kolesnikova formaram uma aliança contra o autoritarismo de Lukashenko (Natalia Fedosenko/Getty Images)

Mas, afinal, quais são as propostas de Tikhanovskaya para a Belarrússia? Elaborado no decorrer de sua campanha, seu programa eleitoral é conciso: ela deseja a independência do país, a liberdade dos presos políticos, inclusive a de seu marido, e a realização de eleições livres em seis meses. Fazer carreira política não está nos planos da professora, que já declarou que preferia estar fritando costeletas do que concorrendo à presidência.

Porém mesmo tida como uma das favoritas na disputa eleitoral, Svetlana nunca teve muita certeza de que teria uma vitória fácil, uma vez que o não são raros os relatos de adulteração de votos. Diante do resultado anunciado na madrugada desta segunda-feira (9) de que Lukashenko foi eleito para seu sexto mandato com 80.08% dos votos, ela mostrou-se cética. “Vou acreditar nos meus próprios olhos – a maioria era para nós”, disse em uma coletiva em Minsk.

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A professora afirmou que se considerava vencedora e que o processo eleitoral foi adulterado. Seus assessores também disseram que a oposição deseja uma recontagem dos votos e que irá manter diálogo com o atual governo sobre uma mudança pacífica de poer. “As autoridades deveriam pensar em como nos entregar pacificamente o poder”, sugeriu Tikhanovskaya.

Enquanto isso, ainda no domingo e em diversas cidades do país, manifestantes se reuniram para protestar contra a reeleição de Lukashenko. Ao menos 120 pessoas foram detidas e uma morreu durante os protestos, que foram duramente reprimidos pelas forças policiais locais.

Atualização:

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Svetlana Tikhanovskaya deixou a Bielorrússia no começo desta terça-feira (11), refugiando-se na vizinha Lituânia. Em uma mensagem de vídeo, ela afirmou ter tomado a decisão por conta própria e que está ciente de que muitos a condenarão e a odiarão por isso. “Pensava que esta campanha (presidencial) havia me endurecido e dado forças para suportar tudo. Mas, sem dúvidas, continuo sendo a mulher frágil que era no início”, disse.

A candidata também pareceu indicar que havia deixado o país para proteger seus filhos. Em outro vídeo, ela fez um apelo ao povo bielorrusso de que não arriscassem as próprias vidas fazendo protestos em praças públicas ou resistindo à polícia.

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Segundo informações da AFP, ela cruzou a fronteira do país por terra, durante a noite. Olga Kovalkova, uma das aliadas da candidata, afirmou que a saída foi forçada por pressão das autoridades e que Tikhanovskaya “não teve escolha”. A agência também conseguiu entrar em contato com Linas Linkevicius, ministro lituano das Relações Exteriores, que informou que Svetlana está “a salvo”.

O que falta para termos mais mulheres eleitas na política

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