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Marielle Franco, uma partida que ainda promove encontros

Para celebrar o legado da ativista e parlamentar, o Instituto Marielle Franco promoveu uma live emocionante com seus familiares e show de Elza Soares

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 jul 2020, 11h34 - Publicado em 27 jul 2020, 09h38
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  • Era madrugada de sexta-feira, 16 de julho, mais precisamente 00h40 quando teve início o trabalho de parto, que contou até com uma pizza. Sem muita demora, o nascimento foi concluído em pouco mais de duas, já que às 2h51 Eloah chegou ao mundo por meio de parto natural. Dez dias separaram a data de aniversário da bebê da data de sua tia, Marielle Franco, que completaria 41 anos hoje (27) se estivesse viva.

    “Irmã, que falta você me faz. Seu aniversário chegando, Eloah e Mariah lindas, e eu aqui sem você pra planejar meus próximos passos e festas. Mas mesmo assim, eu sigo acreditando em dias melhores, cuidando dos nossos, e agradecendo a Deus e Maria por tudo que estamos conseguindo fazer em seu nome. Te amo até o infinito e além”, escreveu Anielle Franco em um post no Instagram.

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    Quando fui jogada nesse pesadelo sem fim, muita gente me ajudou e eu sou grata por isso! Mas o movimento de mulheres negras que me acolheu, me inspirou, me guiou, me estendeu a mão, e me disse: “voa”, eu jamais vou esquecer! Minha homenagem com quem segue me inspirando e me guiando no dia de hoje – 25 de Julho – Dia da mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Ancestralidade importa, e eu que já não andava só, ganhei um reforço potente! Sigamos juntas por um mundo mais digno, justo e que nos respeitem! Te amo irmã! E por você, eu sigo ❤️ Vídeo do muso @medeirosraphael

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    Ao ser alvejada na saída de um encontro sobre juventude negra na Casa das Pretas, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, assim como Anderson Gomes, motorista que a esperava no carro, encontros deixaram de acontecer. Eloah não conheceu uma tia, Arthur não conviveu com o pai. São vastas os acontecimentos não concluídos e uma dor infindável, que pode se transformar, mas que não desaparece. Vira semente.

    A metáfora do legado deixado pela quinta vereadora mais votado no Rio de Janeiros em 2016 com uma semente, além de poético, é assertivo. Assim como um fruto ou uma flor, o processo de germinação exige tempo e condições ideais. No caso dela, a condição naturalizada do lugar onde nasceu e cresceu, a comunidade da Maré, a assustava. Em entrevistas, inclusive no seu vídeo de divulgação da candidatura, Mari (como era e é chamada carinhosamente por familiares e amigos) dizia que não queria a vida empurrada goela abaixo para negros, mulheres e periféricos. Dentro dessa condição estava a gravidez na adolescência. Quando ela se tornou mãe de Luyara, fruto do seu primeiro casamento, em 1998, o sonho de entrar na universidade passou por adaptações, mas ainda assim ela entrou na primeira turma do cursinho popular da Maré.

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    Em 2000, quando uma amiga foi atingida por um tiro durante tiroteio entre polícias e traficantes, a luta pelos direitos humanos foi incorporada de vez na rotina de Mari, que buscava uma vaga na faculdade, era mãe e trabalhava. Multi jornadas. Divorciada, no ano de 2002, agora Marielle era aluna do curso de ciências sociais na PUC-RJ, uma conquista das oportunidades que a preparam para o processo e que a concedeu uma bolsa por conta do sistema de cotas do ProUni. Formada, o próximo passo na sua carreira acadêmica foi o mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense, em que defendeu a dissertação sobre a realidade das comunidades cariocas, chamada “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro”.

    Além das causas periféricas, negras e das mulheres, Marielle também vivia e defendia os direitos garantidos a LGBTs+. Bissexual, em 2004, o amor por e com Mônica Benício floresce e as duas começam um relacionamento. Mas o encontro entre as duas aconteceu na juventude, quando foram viajar com uma turma de amigos da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, onde Marielle foi catequista. “Não tínhamos histórico de relação com mulheres e não entendemos que aquele afeto era diferente de amizade”, contou Mônica a CLAUDIA em 2018 sobre a transformação da amizade em namoro. Lembra que falamos sobre encontros que deixaram de acontecer? O delas seria no altar. O casamento das duas, que já moravam juntas desde 2017, aconteceria em dezembro, poucos meses depois da execução.

    O contato com grupos e partidos políticos principalmente pela experiência do cursinho popular e da faculdade proporcionou a parceria de Marielle com Marcelo Freixo. Em 2006, o parlamentar foi eleito e cientista social foi convidada para ser assessora parlamentar dele, cargo que permaneceu por dez anos. Além disso, a cientista coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em uma coligação entre PSOL e PCB, em 2016, Marielle se candidatou pela primeira como vereadora pelo Rio de Janeiro, tornando-se naquela edição a segunda mulher mais votada no país para esse cargo com mais de 46 mil votos.

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    As causas que defendeu na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, como direito das mulheres, negros, periféricos, LGBTs+ e principalmente a não intervenção militar e o combate às miliciais, geraram incômodo. O preço: sua vida. Com as investigações, a polícia constatou que o policial reformado Ronnie Lessa atirou contra a vereadora e o ex-militar Élcio Vieira de Queiroz dirigia o carro que perseguia Marielle. Em entrevista para O Globo, o delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, titular do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), diz que espera prender os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson ainda esse ano.

    Enquanto e para as investigações seguirem com seriedade, a família da parlamentar realiza uma luta diária, que ganhou mais um braço neste ano: o Instituto Marielle Franco. “Ajude a família de Marielle a lutar por justiça, defender sua memória, multiplicar seu legado e regar suas sementes”. É com esse chamamento que a organização convida a sociedade para somar nessa batalha de permanência não só do nome de Marielle, mas de encontros. Como falamos, a execução interrompeu a presença física, mas a perpetuação da caminhada por equidade continua. Por isso, a iniciativa promove concurso de produção de conteúdo feminista, um mapeamento de coletivos inspirados na vereadora, checagem de notícias relacionadas à Marielle a fim de evitar propagação de fake news e apoio a candidaturas de mulheres, negras e periféricas.

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    Para celebrar o legado de Marielle, suas sementes espalhadas, neste domingo (26), o Instituto promoveu uma live, em que a abertura emocionante teve a participação de seus familiares, Anielle Franco (irmã), diretora do Instituto, Luyara (filha), Eloah (sobrinha), Mariah (sobrinha), Marinete Francisco (mãe) e Antonio da Silva Neto (pai). “Momento de muita saudade, mas entendemos que temos celebrar”, comentou Anielle. A música que embalou a apresentação ficou por conta de Flávio Renegado e Elza Soares, que celebra também seus 90 anos de idade. Assista à live abaixo e conheça o trabalho do Instituto, que recebe e precisa de doações.

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