Depois do casamento, a opinião da mulher deve sempre coincidir com a do marido? Votar nos mesmos candidatos que ele se torna uma obrigação? É natural compartilhar visões semelhantes com quem você se relaciona, mas é preciso refletir sobre até que ponto adotar tudo o que o outro diz como verdade é saudável.
A influência masculina no voto feminino
Não é incomum encontrar mulheres que reproduzem as falas do marido, escolhem seus candidatos a partir do que o parceiro indica ou ocultam o que pensam para evitar confusões. A influência do homem sobre a mulher em suas escolhas eleitorais existe desde que elas conquistaram o direito ao voto, o que no Brasil ocorreu em 1932.
O problema é que a política é uma expressão direta de nossas crenças e valores, e a não participação implica em perdas de direitos, de acordo com Gabriela Sabino, autora de Política, substantivo feminino: um despertar para o protagonismo das mulheres na democracia.
Em vez de exercer seu direito ao voto de forma independente, muitas acabam preservando um sistema que privilegia outros interesses. “Não votar em quem defende suas prioridades pode resultar em políticas públicas que não refletem as mudanças que você deseja ver na sociedade“, explica Gabriela. Isso perpetua um ciclo de exclusão, onde as decisões são tomadas por aqueles que já detêm o poder, agravando as desigualdades.
O que está por trás do “desinteresse” das mulheres por política
Essa dinâmica é ainda mais complexa do que parece. “As pessoas formam opiniões com base em vivências, valores e influências externas. A socialização, as relações familiares e as experiências culturais moldam essa construção”, afirma a psicóloga Marilia Scabora. A autoestima e a confiança no próprio julgamento também desempenham papéis fundamentais.
O comportamento de replicar as opiniões, sem questionar o que foi dito, faz parte da educação que milhares de mulheres recebem desde muito pequenas. “A falta de estímulo para desenvolver uma voz própria desde a infância, ou a necessidade de manter a paz no relacionamento, contribuem para essa dinâmica”, comenta a especialista em gênero.
Não seria diferente na política. “Historicamente, é um espaço de exclusão feminina, moldado por normas patriarcais que afastam as mulheres de debates e decisões de poder”, segundo Mayra Cardozo, mentora de mulheres e especialista em gênero. “Desde a infância, elas são socializadas para acreditar que sua esfera de atuação é a doméstica, e não a pública.”
Essa socialização as desmotiva a participar da política, alimentando a ideia de que não são capazes ou que sua voz não importa nesse contexto. “Além disso, muitas vivem em relacionamentos onde suas opiniões são desvalorizadas ou existe um controle explícito sobre o que elas podem ou não expressar.”
A sub-representação feminina na política
Quase metade do eleitorado brasileiro afirmou que familiares e amigos influenciaram sua decisão no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022, segundo o Impec. Isso contrasta com a sub-representação feminina: as mulheres, que são mais da metade da população (51,13%) e 53% do eleitorado, ainda ocupam menos de 18% dos cargos eletivos, de acordo com o IBGE e o TSE.
Muitas dizem não se interessar por política e não conseguem dar suas opiniões, algo que Gabriela considera um problema. “A política afeta desde os direitos trabalhistas até questões como saúde, educação e segurança. Para as mulheres, essa participação é essencial para romper ciclos de sub-representação e promover igualdade de gênero e justiça social”, completa.
Por outro lado, o fortalecimento da autonomia financeira feminina tem crescido. Políticas públicas, acesso a direitos como a PEC das Domésticas e expansão do discurso feminista têm empoderado financeiramente uma nova geração de mulheres, e permitido que mais delas possam criar e compartilhar seus posicionamentos.
Com isso, milhares já votam de acordo com seus próprios interesses, embora isso tenha gerado mais debates em casa. Há relatos nas redes sociais de mulheres que são até vigiadas por seus filhos durante o ato de votar, por exemplo.
Como se manter atualizada sobre política?
Para romper esse ciclo e acompanhar o cenário político, é fundamental seguir fontes confiáveis de notícias, como jornais, podcasts e canais no YouTube, segundo Gabriela. “Acompanhar o trabalho de ONGs e movimentos sociais também ajuda a entender melhor o que está em jogo. Além disso, participar de debates públicos e fóruns pode ser uma forma de engajamento.”
Mas por onde começar? A especialista indica iniciar aprendendo sobre o sistema político do seu país – como funcionam as eleições e os papéis dos três poderes. “Livros introdutórios, como Política para Leigos, podem ser uma boa base, e há sempre a opção de se aprofundar em teorias e ideologias políticas.”
Ela ainda recomenda cursos e grupos de estudo para desenvolver uma compreensão mais ampla e aprofundada sobre política ao longo do tempo. “A política é um processo contínuo de aprendizado, que vai além dos períodos eleitorais.”
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