Fernanda Chavez, ex-assessora de imprensa de Marielle Franco, é a única sobrevivente do crime que matou a vereadora Marielle Franco. A carioca e seu motorista, Anderson Gomes, foram mortos a tiros no dia 14 de março.
Em entrevista à RFI gravada em Roma, onde participou de atos na última semana ao lado da viúva de Marielle, Mônica Benício, a ex-assessora falou pela primeira vez – já se passaram seis meses do ocorrido – sobre o caso e dos acontecimentos até então.
Leia mais: Raquel Dodge cobra esclarecimento sobre assassinato de Marielle
“Eu fui acolhida na Espanha imediatamente após os assassinatos, num programa da Anistia Internacional de Madri que, em articulação com a Anistia do Brasil, me recebeu por dois meses. Foi fundamental para eu poder voltar à tona, foi uma situação muito traumática, muito violenta, muito difícil” declarou Fernanda.
Na entrevista, ela relatou ainda que, para sua segurança e de sua família, precisou manter sua localização em segredo: “Eu também não podia me manifestar pelas redes para evitar que minha localização fosse descoberta, a minha família não sabia bem onde eu estava. Mas eu não podia trocar informações por telefone, a minha filha não pode sequer se despedir da escola porque quando tudo aconteceu já era noite, ela já tinha chegado, estava se preparando para o dia seguinte e nunca mais foi à aula naquela escola.”
Sobre voltar ao Rio de Janeiro, Fernanda diz que está fora de seus planos. “Eu gosto do Rio, a cidade é maravilhosa, mas é uma cidade que não é boa para os seus cidadãos. Eu não posso voltar para o Rio. Eu vivo no Brasil hoje, mas não no Rio. Eu estou submetida a um programa de proteção de defensores e não posso ir ao Rio, sequer pude ir para votar nas últimas eleições, porque não é considerado seguro que eu retorne ao Rio”, relatou.
“São 9 meses e até agora você não tem nenhum resultado das investigações e quando você não sabe de onde veio você não sabe do que você tem que se proteger. Até isso me foi tirado, o direito de viver na minha cidade”, completa Fernanda.
Quando perguntada sobre a oposição, Fernanda fez uma crítica ao presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). “São quase 30 anos de parlamento e ele não fez absolutamente nada de relevante. É alguém que quando a Marielle foi assassinada, num crime claramente político, num Estado que estava sob intervenção federal militarizada, onde todo mundo se pronunciou – até o Papa – ele foi questionado e disse: ‘não tenho nada a dizer, não vou me pronunciar'”, concluiu.
Ao final da entrevista, a ex-assessora fala sobre o legado deixado por Marielle: “Ela se transformou em múltiplas sementes com potencial de semeadura surreal e seremos muitas Marielles, nascerão muitas Marielles. É isso: houve uma virada de chave, de paradigma, a gente vai ter que fazer alguma coisa e é agora.”
Investigações
As investigações sobre os assassinatos estão sendo conduzidas pela Delegacia de Homicídios do Rio e pelo Ministério Público do Estado. No entanto, a pedido de Dodge, a Polícia Federal também abriu um inquérito para apurar o envolvimento de agentes públicos e milicianos que estariam impedindo a apuração do crime. A Anistia Internacional reivindicou a criação de um mecanismo independente para monitorar as investigações.
Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, disse no dia 23 de novembro que tem certeza que políticos poderosos, agentes públicos e milicianos estão envolvidos no assassinato da vereadora. O secretário de Segurança Pública do Rio, Richard Nunes, espera que o caso seja solucionado em 31 de dezembro.
Leia mais: Ministro diz que “políticos poderosos” estão por trás de morte de Marielle