Rafael Henzel: “O maior presente que Deus me deu foi a vida.”
O jornalista Rafael Henzel, um dos 6 sobreviventes da tragédia de Chapecó, deu emocionante depoimento sobre como superou a tragédia.
O jornalista e locutor Rafael Henzel, de 43 anos, foi um dos 6 sobreviventes do voo que levava a delegação do time Chapecoense a Medellín, na Colômbia. O avião caiu no dia 29 de novembro, causando a morte de 71 pessoas.
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Rafael quebrou 7 costelas, lesionou o pé direito e teve pneumonia durante o período de 20 dias que ficou internado na UTI. Após ter alta do hospital nesta última segunda-feira (19), o jornalista — que atualmente trabalha na rádio Oeste Capital FM — deu um depoimento comovente à Folha de S.Paulo sobre o incidente e sobre como vem superando, lentamente, o trauma de ver colegas de profissão partindo tão cedo. Confira trecho:
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“Horas depois, acordei, ainda no local do acidente, e vi os dois colegas que estavam ao meu lado sem vida [Renan Agnolin, 27, e Djalma Araújo Neto, 35]. Eu achei em príncipio que era um sonho e que iria acordar, porque estava dormindo na aeronave. Infelizmente, não foi isso que aconteceu.
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[…]
O que posso dizer é que lá ocorreu um milagre. Setenta e uma pessoas perderam a vida, apenas seis pessoas sobreviveram. No meu caso posso dizer que houve um milagre, já que o meu banco ficou preso entre duas árvores, caso contrário eu seria lançado mais à frente e sabe-se lá o que poderia acontecer.
Ainda não parei para pensar o que vai acontecer, qual é a minha missão. Eu só sei que para a comunidade chapecoense, que tem 210 mil habitantes, é fundamental a gente poder voltar a trabalhar, poder fazer o nosso jornalismo que é feito na Oeste Capital FM.
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Quero voltar a trabalhar no próximo dia 9 de janeiro. Quero estar junto com a comunidade para superar todos esses obstáculos, superar esse luto que se estabeleceu.
No próximo dia 25 [janeiro], vou narrar o primeiro jogo da Chapecoense no ano e seguir com a vida. Vamos buscar entender por que ficamos. Buscar essa mensagem de solidariedade, do exemplo que a Colômbia e Brasil deram.
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A gente vê tanta violência, brigas, mortes por motivos fúteis. A gente vê também tanta gente desistindo de tratamentos até menores do que o nosso. Não queremos servir de exemplos para ninguém, mas mostrar que é possível, com fé, acreditar.
A vida vai passando, vão ficando recordações e de repente a vida pode parar. Temos que viver com mais amor, viver mais com a família, apesar de que temos que trabalhar. Principalmente, radiar solidariedade, radiar o amor.
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Deus foi o grande responsável pela nossa vida, pela vida dos nossos amigos que ficaram. Temos que levar essa mensagem de fé. Quero que 2017 seja um ano maravilhoso para todo mundo.
Não tive medo de viajar de avião. Sei que não foi um problema mecânico e, sim, humano e, por isso, não terei dificuldade nenhuma de acompanhar a Associação Chapecoense de Futebol. O maior presente que Deus pode dar a mim e para a minha família é a minha vida.”