A professora Ana Lúcia Martins (PT), primeira vereadora negra eleita em Joinville (SC), está recebendo ameaças de morte e insultos racistas nas redes sociais desde o resultado da eleição no último domingo (15). O caso está sendo apurado como injúria racial e ameaça.
“Agora só falta a gente matar ela e entrar o suplente que é branco”, dizia uma das ameaças. Depois de ser confirmada como primeira negra eleita na cidade, outra publicação foi feita, dizendo que “não há como comemorar uma petista no poder novamente em Joinville”.
Em seu Instagram, Ana Lúcia denunciou o ocorrido, informou que seus perfis nas redes sociais foram invadidos ainda no dia das eleições e disse ter recebido uma reação violenta a respeito de sua eleição de um radialista de uma rádio local da cidade. A vereadora ainda afirmou que o perfil fake que está fazendo as ameaças no Twitter deixa claro estar organizado em uma “Juventude Hitlerista”.
“Sabia que não seria fácil. Estava ciente que enfrentaria uma certa resistência em uma cidade que elegeu apenas na segunda década do século 21 a primeira mulher negra. Só não esperava ataques tão violentos e com aval de parte de pessoas que se declaram ‘profissionais da imprensa’, disse em nota.
Em entrevista à Folha, a delegada Cláudia Cristiane Gonçalves de Lima, da Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (Dpcami) afirmou que a investigação está em andamento, mas já há nomes de alguns suspeitos. “Existe indício de que os autores pertençam a uma célula de um grupo neonazista em Joinville. Estamos fazendo diligências para identificar. Já vislumbramos nomes, mas a investigação está em andamento”.
Em nota divulgada no Instagram, o PT de Joinville mostrou solidariedade à Ana Lúcia e afirmou que os ataques são “mecanismos de silenciamento e invisibilidade para impedir a denúncia”. “Reivindicamos proteção efetiva à Ana Lúcia por parte das autoridades de segurança pública do estado, para garantia da integridade física de nossa companheira”.
Nas eleições do último domingo (15), muitas cidades, como Cuiabá, Vitória e Curitiba, elegeram suas primeiras vereadoras negras, aumentando a representatividade nas Câmaras Municipais. Além das mulheres, houve o aumento de homens negros eleitos. Em Porto Alegre (RS), eles foram cinco. O vereador e candidato a prefeito Valter Nalgelstein comentou o fato em tom racista. Em suas redes sociais, ele negou a acusação e afirmou não ter sido preconceituoso.
“Muitos deles jovens, negros. Vereadores esses sem nenhuma tradição política, sem nenhuma experiência e nenhum trabalho e pouquíssima qualificação formal”, disse ele em áudio que circulou nas redes sociais.
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