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Para ribeirinhos do Marajó, a esperança contra a pandemia está no SUS

As profissionais de saúde chegam a comunidades afastadas no interior do Pará após longas horas de viagem pelos rios amazônicos

Por Letícia Paiva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 set 2020, 15h09 - Publicado em 20 jul 2020, 09h00
Nascida em Belém, a médica Valdenora Andrade dedicou metade da sua vida aos cuidados da população do Marajó (Tarso Sarraf/CLAUDIA)
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Com suas dimensões continentais, o Brasil é repleto de lugares de tão difícil alcance que acabam sendo reservados à população que ali nasce e vive. No Arquipélago do Marajó, comunidades ribeirinhas, bem no interior do território, são separadas dos centros urbanos por trajetos extensos percorridos de barco. Nem assim ficaram imunes ao novo coronavírus, que, aos poucos, atingiu as entranhas do país. Indo de casa em casa, a rondoniense Handressa Mayra Rodrigues, 33 anos, faz o monitoramento da população local durante a pandemia. Médica da Estratégia Saúde da Família de Melgaço, ela chegou ali há pouco mais de um ano pelo programa do governo federal Mais Médicos. Em períodos normais, um posto de saúde fluvial visita os locais, e a população faz filas para receber todo tipo de atendimento. “Com o crescimento de casos, comunicamos à população um tipo de lockdown, que foi seguido”, conta ela sobre a cidade de 27 mil habitantes, que registrara 190 casos e sete mortes pela Covid-19 até 5 de julho.

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A médica Handressa Rodrigues, que testa a população do interior de Melgaço para Covid-19 (Tarso Sarraf/CLAUDIA)

Em meio ao temor de não ser possível oferecer tratamento a todos, a quarentena rígida também foi imposta à vizinha Portel, que teve 35 mortes entre seus 62 mil moradores. “Entramos em pânico quando, em maio, quatro de nossos pacientes morreram por não obter vaga para ser entubados”, diz Camila Guimarães, 30 anos, farmacêutica que compõe o comitê de combate à Covid-19 no município, onde ela nasceu. Camila também foi infectada, mas não precisou se internar. Na região, só há respiradores e leitos de UTI em Breves, que chegou a ocupar a terceira posição em número de mortes no estado e recebeu um hospital de campanha para atender seis cidades.

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A farmacêutica Camila Guimarães, que contraiu a doença em campo (Tarso Sarraf/CLAUDIA)

Apesar da dedicação dos profissionais de saúde, um atendimento emergencial, devido à geografia amazônica, pode levar quase um dia inteiro para se concretizar. A bordo de uma ambulancha, como é chamado o serviço de ambulância fluvial, a técnica de enfermagem Eliane Dias, 41 anos, busca doentes com suspeita de contágio – os chamados vêm via internet de um dos 11 postos de saúde no interior de Portel. “Por medo de que o familiar precise ficar isolado em um hospital longe de casa, muitos não nos chamam logo após os primeiros sintomas, e a situação se torna grave”, conta a paraense, que também atua no Samu terrestre.

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“Quando vim de Rondônia, lugar que causa estranheza aqui por não ter rios, esperava encontrar uma cidade frágil, mas vejo saúde de qualidade feita com recursos escassos”

Handressa Rodrigues, médica em Melgaço

 

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A técnica de enfermagem Eliane Dias percorre até sete horas de ambulancha para chegar a comunidades afastadas em Portel (Tarso Sarraf/CLAUDIA)
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Transitando entre os diversos municípios do Marajó ao longo de três décadas, a médica Valdenora Andrade, 65 anos, já havia enfrentado diversas crises sanitárias antes desta. “Além dos deslocamentos, lidamos com obstáculos como a falta de insumos até para procedimentos simples, como vacinação e curativos”, conta ela, que durante 20 dias atende em Breves e, no restante do mês, fica em Melgaço, onde passa o tempo todo no hospital. É uma vida dedicada a uma das populações mais carentes de acolhimento da Amazônia, que agora resiste a uma nova moléstia.

 

 

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