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“Não podemos ter vergonha”, diz brasileira após abuso na Tailândia

Bruna Fornasier dormia em um hostel quando acordou com um homem tocando sua genitália. Após a denúncia, ela aguarda o desfecho do caso

Por Da Redação
Atualizado em 1 jun 2017, 13h10 - Publicado em 1 jun 2017, 13h07
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  • A atriz brasileira Bruna Fornasier, 25 anos, iniciou uma viagem pelo sudeste asiático em abril. Ao longo de um mês e meio, passou por Hong Kong, Bali, Cingapura, Malásia e Tailândia.

    No último país, entretanto, viu um episódio terrível protagonizar seu sonho: foi vítima de um abuso sexual dentro do quarto do hostel em que estava hospedada.

    Após o ocorrido (descrito abaixo), publicou uma mensagem em seu Facebook e, com o engajamento da rede social, conseguiu localizar seu agressor e levá-lo às autoridades — processo descrito como lento e desgastante.

    A jovem agora aguarda o desfecho de seu caso para decidir se continua o passeio, uma vez que tinha planos de seguir para Laos, Vietnã e Camboja. Sua luta é pela justiça e para que seu algoz não faça mais vítimas.

    Leia na íntegra o depoimento concedido pela atriz à BBC Brasil.

    “Estava fazendo uma viagem pelo sudeste asiático. Cheguei à Tailândia no dia 26 de maio e fui a um albergue que era super-renomado em todas as redes sociais, um “party hostel”. Cada quarto tem cerca de 10 cubículos. As camas são fechadas nas laterais e só é possível a entrada e saída através de um acesso protegido por uma cortina, onde ficam os pés da cama.

    Saí naquela noite. Fui à uma festa e voltei sozinha ao albergue por volta de 1h da manhã. Deitei no meu cubículo e dormi. Acordei, assustada, quando senti um cara em cima de mim, colocando a mão dele dentro da minha vagina. Quando percebi o que estava acontecendo, gritei para ele sair. Ele disse que ia enfiar o pênis dentro de mim. Comecei a chutá-lo e ele saiu.

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    Pela manhã, expliquei a uma pessoa encarregada do albergue que havia sido vítima de abuso sexual. Ela perguntou se eu queria ir à polícia, mas naquele momento eu estava abalada, queria desaparecer.

    O gerente foi chamado e eu pedi os dados do meu agressor, um indiano. Ele me pediu que eu preservasse o nome do albergue caso eu decidisse escrever nas redes sociais o que havia acontecido. Essa era a única preocupação dele. Fiquei indignada. Peguei minha mala e me hospedei em outro hotel.

    Contei o que havia acontecido à minha família e publiquei um post no Facebook relatando o abuso. Meu post repercutiu muito. Nunca imaginei que seria assim. Quando publiquei, minha intenção era de que todas as pessoas conhecidas soubessem do ocorrido. Queria transformar essa história horrível em um alerta para outras pessoas.

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    Decidi formalizar a denúncia contra o abusador. Fui à polícia turística e encontrei uma oficial que me orientou a fazer a denúncia na delegacia. Da delegacia fui encaminhada ao hospital para fazer exames. O médico disse que minha vagina tinha um corte, estava um pouco inchada. Aquilo não provava nada, claro.

    Fui encaminhada a uma psiquiatra. Ela assinou um laudo que confirmava que eu havia sido vítima de abuso sexual. Isso permitiu que os policiais locais finalmente me levassem a sério.

    Prestei depoimento na delegacia por mais de cinco horas. Me perguntaram quantos dedos o cara colocou na minha vagina. A policial de turismo estava comigo e traduzia tudo. Foi um processo lento e desgastante.

    Por meio do Facebook, duas pessoas me alertaram terem visto o estuprador na ilha de Kho PhiPhi. Um deles tirou uma foto do agressor e me enviou o endereço onde ele estava hospedado. Passei as informações à polícia. Tremi e chorei. As redes sociais me salvaram.

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    No dia seguinte, fui informada de que ele já estava sob custódia policial. Fui à delegacia acompanhada de três policiais mulheres. Tive que confirmar que aquele jovem sorridente que conversava com os oficiais tinha me violentado. Senti medo e repulsa e preferi que ele não me visse.

    No depoimento, ele teria dito que estava bêbado, que se sentou na beirada da minha cama e colocou a mão na minha perna e então eu lhe disse “vai embora, vai embora”. Essa foi a versão dele. Ele insistiu em falar comigo na delegacia, mas não aceitei.

    A advogada do renomado albergue apareceu na delegacia e me informou que posso ser processada pela postagem feita no Facebook caso não cheguemos a um acordo. Eles alegam que o trabalho deles foi afetado pelo que eu disse. Mas foi a minha postagem que me permitiu encontrar meu agressor. Agora quero que o hostel pense em como agir para evitar que isso se repita, ou seja, usar o meu caso a favor da sociedade.

    O processo contra o meu agressor ainda está em andamento. Os oficiais me informaram que ele será levado à corte tailandesa e terá que ficar um mês preso. Se optar por pagar uma fiança de 200 mil baths, cerca de US$ 6 mil, poderá aguardar em liberdade o julgamento, mas não poderá sair da ilha de Krabi nem do país.

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    Depois de um mês ele será levado novamente à corte. Se assumir o que fez terá de cumprir uma pena. Não sabemos por quanto tempo. Se não assumir, terá de ficar em Krabi até que o caso seja resolvido.

    Para mim é uma vitória. Algumas pessoas disseram que seria muito difícil levar isso adiante porque eu não tinha testemunhas ou provas. Mas eu tinha que fazer alguma coisa, encorajar a outras mulheres que já passaram por isso ou alertar as que ainda serão vítimas de abuso.

    Não podemos ter vergonha de “o que as pessoas vão pensar de mim?”, não. Somos vítimas.

    Eu poderia estar desmaiada de bêbada, pelada, não importa. Muita gente não conta ter sido vítima de abuso sexual e eu entendi o porquê. Foi muito sofrido. Porém, se nos mantivermos fortes, é possível.

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    Denunciar pode inibir a ação de estupradores. Eles saberão que as mulheres já não ficarão caladas e eles terão de pagar pelo o que fazem.

    Acredito que denunciar ajuda, sim, a diminuir a cultura do estupro. Não podemos, além de ser vítimas, assumir um papel de terapeuta do agressor. Quanto mais a palavra estupro sair, mais ajudamos a romper o tabu de falar sobre isso. Quanto mais exposto, mais fácil será combater e caminhar contra a cultura da violação sexual.”

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