“Não existem carreiras específicas para mulheres”
Abaixo, você confere o nosso bate-papo com a Paula Bellizia, CEO da Microsoft no Brasil
Foi na universidade que Paula Bellizia percebeu a falta de mulheres no mundo da tecnologia. Quando passou no curso de Análise de Sistemas, na Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (Fatec), em 1991, ela era uma das seis meninas em uma turma de 40 alunos. Mas não deixou o número assustá-la. Em vez disso, entrou de cabeça na área, estudou e hoje, aos 43 anos, ocupa o posto de CEO da Microsoft no Brasil. Antes disso, passou pela gigante de eletrodomésticos Whirlpool Corporation, pela Telefonica, foi diretora do Facebook e presidente da Apple Brasil. No ano passado, retornou à Microsoft, empresa em que trabalhou por 10 anos a partir de 2002. Apesar de ter explorado mercados diferentes, uma coisa viu em comum: a maioria de homens nesses lugares. “Por ter vivido em ambientes não tão diversos, acredito que, quando chegamos na posição de CEO, a melhor coisa que podemos fazer é ter políticas e ações para que essa diversidade aconteça de formas mais rápida.”, comenta.
Você sempre almejou se tornar CEO de uma grande empresa?
Assim que comecei minha carreira, sabia que queria ter uma posição de impacto. Não necessariamente CEO, mas algo que pudesse contribuir para o desenvolvimento das pessoas. Eu me identifiquei muito com a área de tecnologia e percebi que, quanto mais eu me apaixonava pelo assunto, melhor fazia o meu trabalho e mais pessoas influenciava. Então, comecei a almejar contribuir mais para a sociedade e para o crescimento de outros indivíduos. Voltei para a Microsoft porque sabia que aqui eu podia ir além do negócio porque tinha espaço para transformar o país e as pessoas.
Durante a sua trajetória, você teve ajuda de pessoas que estimularam o seu crescimento?
Eu tive mestres que viram meu potencial e apostaram nele. Foi assim que aprendi que nós, líderes, precisamos investir no potencial das pessoas. Por exemplo, quando eu estava grávida da minha segunda filha, fui selecionada para ser Diretora de Marketing e Planejamento Estratégico aqui na Microsoft. Eu estava com seis meses de gravidez e o responsável pela área na época acreditou que eu dava conta de substituí-lo por três meses enquanto ele tirava uma licença. Isso me deu muita confiança e a chance de aprender.
Você sentiu alguma resistência do mercado pelo fato de ser mulher?
Apesar de não ter vivido nenhum constrangimento, a diferença de meninos e meninas na minha sala da faculdade já sinalizava que não havia representatividade na área da tecnologia.
Quais ações de estímulo à diversidade você tem tomado dentro da Microsoft?
Depois que cheguei, decidimos estabelecer uma proporção de 50% de mulheres e 50% de homens entre os estagiários, e conseguimos. Dessa forma, passamos a ter melhor representatividade feminina desde o começo. Nosso próximo plano é demandar que, para cada nova contratação, exista um finalista homem e uma finalista mulher disputando a vaga. No final, o melhor é contratado, mas precisamos dar iguais oportunidades para homens e mulheres. Pessoalmente, também faço minha parte. Sou mentora de seis executivas, algumas delas de fora da Microsoft. Normalmente, quando a carreira avança, as mulheres estão no momento mais produtivo da vida familiar, então é quando mais precisam de suporte. Acredito que a troca de experiências e a ajuda no planejamento de carreira pode contribuir muito para o crescimento profissional. Este ano também comecei a receber a mentoria reversa de duas funcionárias da Microsoft que estão no estágio inicial da carreira. Tenho muito a aprender com a geração que está chegando.
O que considera essencial na hora de estimular outras mulheres?
É preciso mostrar que qualquer carreira é possível! Não existem carreiras para mulheres, carreiras para homens, carreiras para grupos A, B ou C. Depois, precisamos ajudar as mulheres a se preparar. Muitas vezes você tem certeza da carreira que quer seguir, mas não se prepara para as oportunidades, por isso outras pessoas avançam e você fica parada.