Desemprego de mulheres negras é o dobro do que de homens brancos
Levantamento do Data_labe deste ano mostrou que raça, gênero e localização são levados em conta na hora da contratação
Nesta terça-feira (17), o laboratório de dados, Data_labe, que tem sede na comunidade da Maré, no Rio de Janeiro, revelou por meio do portal UOL que o desemprego de mulheres negras é maior do que o de homens brancos. Segundo os dados, raça, gênero e localização são aspectos decisivos na hora de encontrar uma oportunidade de trabalho.
O resultado do levantamento é fruto do cruzamento de dados das pesquisas “Pnad Contínua de 2017 a 2021” e “Pandemia na Favela – A realidade de 14 milhões de favelados no combate do coronavírus”, realizada pelo DataFavela em parceria com o Instituto Locomotiva, Central Única das Favelas (CUFA) e Favela Holding.
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Juntos, os estudos revelaram também que a situação é ainda pior para pessoas que moram na favela em relação às que vivem nos bairros elitizados. Quem sobrevive nas comunidades tem duas vezes mais chances de estar à procura de uma recolocação no mercado de trabalho.
Três categorias no mercado
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, além das pessoas empregadas que cumprem a carga de trabalho diária comum, há outras três categorias no mercado ocupacional trabalhista.
As desocupadas são aquelas que, apesar de ainda não conseguirem empregos, fazem trabalhos temporários e buscam outras alternativas de suprirem as contas até arranjarem uma oportunidade melhor.
Já as subocupadas possuem a jornada de trabalho inferior a 40 horas semanais, mas gostariam de desenvolver atividades por um período maior para dar conta de suas obrigações financeiras.
Por fim, temos as pessoas desalentadas, que são aquelas que querem trabalhar, mas que por alguma razão não buscam oportunidades de serviços.
Desocupação definida pela cor da pele?
De acordo com o levantamento do Data_labe, a possibilidade de mulheres negras estarem em situação de desemprego era de 9,2%, no primeiro semestre de 2021 em relação a homens brancos, que corresponde a 5,6%. A proporção mostra que, no país, o risco de desocupação da mulher negra é quase o dobro comparado a homens brancos.
A pandemia ainda piorou isso para o grupo de desalentados, que, no final de 2019, representava 4,1% da população. No quarto trimestre 2020, o dado subiu para 5,3%.
A probabilidade de desalento para mulheres negras em relação a homens brancos é de 35% , segundo o IBGE
Além disso, notou-se que 96% das famílias que mora em comunidades viu sua renda cair com a chegada da pandemia.
Luta contra o preconceito
Hiane Maria Lana da Luz, 24 anos, faz parte dessa realidade de pessoas que buscam um emprego no Brasil. A jovem negra sonha em ser modelo desde os 15 anos, mas, enquanto o sonho não se realiza, fazer trabalhos informais, os “bicos”, é a saída para ter um dinheiro na conta.
“Trabalho aos domingos na feira. Durante a semana, concílio serviços em casa de família, como cuidadora. Foi o que encontrei para manter a ajuda em casa e ao mesmo tempo correr atrás dos meus objetivos”, explica.
Hiane mora com a mãe e três irmãos. Nas buscas de uma vida melhor tanto para ela quanto para família, a jovem diz ter passado por uma situação nítida de preconceito.
“Fiz um processo seletivo e me deparei com o racismo evidente. A recrutadora me chamou e falou que eu não me encaixava no perfil da empresa. Ela sequer fez a entrevista completa. Me senti excluída, já que havia pessoas brancas concorrendo à vaga também”, comenta sobre episódios, que, infelizmente, são corriqueiros na vida de cidadão negros no país.