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Mulheres contam suas histórias de novos casamentos pós-divórcio

É cada vez mais comum casar duas ou até mais vezes. Afinal, mais do que um parceiro para a vida toda, o que se busca, hoje, é felicidade.

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 26 out 2016, 15h31 - Publicado em 26 out 2016, 09h00
 (Deborah Stevenson/)
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Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 14% das uniões civis realizadas em 2004 no país, ao menos um dos cônjuges era divorciado ou viúvo. Dez anos depois, o número pulou para 24% – e deve seguir aumentando. Por um lado, os recasamentos são um claro reflexo da desmistificação e da simplificação do divórcio.

Longe de ser o sinal social de fracasso e motivo de escândalo que foi no passado, especialmente desde a lei de 2010 (que descomplicou e encurtou o processo) ele é quase que só mais um passo natural da vida de quem busca a própria felicidade e satisfação – grupo esse que só aumenta.

Por outro, é também uma marca da nossa época, em que os relacionamentos são menos estanques e, de acordo com o desejo dos parceiros, mais suscetíveis a quebras. Assim, cada vez mais, a esperança do “para sempre” vai sendo transferida, ao sabor das circunstâncias, para os enlaces posteriores. “As pessoas tendem a entrar nas uniões seguintes menos ingênuas”, acredita o psicanalista Luiz Alberto Hanns, de São Paulo.

“Há os que repetem os erros, mas a maior parte aprende e fica mais tolerante. Antes de entrar na nova união, muitos já entenderam que precisam sentar e conversar claramente sobre filhos, valores, o padrão de vida que querem ter, como imaginam o futuro, do que não gostam na rotina…” Nem isso impede, é claro, a avalanche de sentimentos. “Casei pela primeira vez porque estava completamente apaixonada e, das outras vezes, porque, bem, estava completamente apaixonada”, conta, aos risos, Helene Sayegh, acupunturista, 76 anos, de Peruíbe (SP), que conheceu seu quarto e atual marido pela internet. A seguir, conheça outras histórias de recasamentos:

 

Paixão e razão

Silvia Tocci Masini, 54 anos, pedagoga e editora de livros, de São Paulo, 2 casamentos

“Troquei alianças pela primeira vez aos 29 anos. Quando decidi me separar, cinco anos depois, uma psiquiatra amiga da família perguntou por que mesmo eu tinha me casado – e não consegui responder. Gostava dele, mas acho que casei por casar, como se fosse um desdobramento natural do namoro.

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No dia a dia, acabei presa a uma solidão a dois. Era uma relação morna: a gente não discutia; porém, também não vivia muitos momentos de prazer. Mesmo quando se sabe o que quer, o fim é difícil. Mas não foi traumático: sobrou um querer bem. Aos 40 anos, casei novamente. Dessa vez, o motivo foi claro: estava apaixonada. Conheci o Zé em um evento do trabalho. Ele me chamou para sair três vezes e recusei em todas. Não era charme. Eu simplesmente não estava aberta a um relacionamento. Resolvi ceder e me lembro de pensar: ‘Agora estou perdida’.

Minhas relações, incluindo os namoros, sempre foram saudáveis, e essa não é diferente. Desde que perdi minha irmã, de 12 anos, meu conceito de vida mudou: acho importante ser alegre, levar as coisas do jeito mais leve possível. Quando um relacionamento começava a ser complicado, resolvia terminar.

Eu e o Zé somos muito ligados, amigos, há diálogo, adoramos ficar em casa assistindo a um filme, cozinhar juntos. Penso que casar é ótimo. O ser humano não nasceu para viver sozinho, mas para estar com alguém. Aprendi que não basta gostar, é preciso achar a pessoa certa, com quem nosso estilo de vida se encaixa.”

Em busca de um príncipe

Andreia Veiga, 43 anos, empresária, do Rio de Janeiro, 3 casamentos

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“Aos 20 anos, grávida e sem nem conhecer direito meu namorado, casei na igreja, com a maior festa. Confesso que estava esperando um conto de fadas, mas, no dia a dia, percebemos que éramos incompatíveis. Sou muito independente; já ele ouvia demais os pais. Adoro novidade, e ele não gostava nem de sair para comer fora! Faltavam carinho, amor, tudo. Entrei em depressão, engordei. Ficamos juntos por quatro anos.

Passei um ano solteira antes de conhecer meu segundo marido. Aí, foi tudo diferente, uma paixão louca. Mais uma vez, eu esperava um conto de fadas. E nossa relação era legal, cheia de amor, prazer. Até que ele cismou de ter outras mulheres. Terminei depois de aguentar não uma, mas várias traições. Foram sete anos casados.

Quatro anos depois, conheci o Alexandre, com quem estou desde então. Agora, sim, realizei o conto de fadas que tanto desejei aos 20 anos. Meu marido corresponde a todas as minhas expectativas: lealdade, amor, monogamia, prazer, cuidado, paixão. Nós nos conhecemos no trabalho – tenho três escolas, e ele era o novo professor de educação física. Foi avassalador. Alexandre era casado e, uma semana depois de ficarmos pela primeira vez, ele se separou.

A convivência dele com meu filho é ótima. Não gosto de nada morno, monótono, e ele é exatamente como eu: ama viagens de última hora, faz surpresas toda hora. Nunca sei como vai ser o dia de amanhã. Para dar uma ideia de como somos, renovamos nossos votos todos os anos, desde o primeiro. Já me vesti de noiva em Paris, Tahiti, Jerusalém… Tenho seis alianças, uma para cada ano.

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Todas têm nossa data de aniversário, 25 de outubro, gravada. Para mim, no casamento, o essencial é ter paciência e se doar, transformando o outro na coisa mais importante da sua vida. Ele escolhe a cor do meu esmalte, eu escolho como fica a barba dele. Gosto dessa coisa de um falar e o outro completar; acredito em almas gêmeas. Se não for assim, não vale estar casada!”

Sempre leve

Margareth Mendes, 50 anos, consultora pedagógica, de Aparecida (SP), 4 casamentos

“Foi por vontade de sair da casa dos meus pais que subi ao altar com meu primeiro namorado, às vésperas de completar 20 anos. Nunca havíamos viajado juntos; foi tudo de uma vez. Logo notei que não estávamos na mesma sintonia; eu me sentia só. Nosso filho tinha 5 anos quando falei: ‘Não quero mais’. Nunca tive medo, até porque queria dar o exemplo de coragem para meu pequeno. Aos 33 anos, conheci meu segundo marido, um homem bonito e tranquilo.

Apaixonei-me perdidamente e, com ele, descobri a felicidade, a cumplicidade do dia a dia. Viajamos, fizemos festas, churrascos. Quando nossa filha tinha 3 anos, comecei a percebê-lo diferente: muito crítico, não achava nada bom o suficiente. Então, ele me contou que se apaixonara por outra mulher. Com 38 anos, pensei: ‘Chega, vou aprender a viver sozinha’. Coloquei o foco na criação dos meus filhos e a alegria do dia a dia nunca me deixou. Eis que, aos 44 anos, em uma festa do bairro, conheci meu terceiro marido. Dançamos a noite toda. Logo me apaixonei. Mas ele me traiu, e eu não podia suportar aquilo novamente.

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Depois de três anos sob o mesmo teto que ele, eu me vi novamente sozinha. Outra vez, não alimentei a tristeza. Claro que sofria, mas procurava me concentrar nas minhas atividades. Na volta de uma viagem a Buenos Aires, onde fiz mestrado, encontrei meu quarto marido: viúvo, ele já era um velho amigo.

Durante nossas caminhadas e longas conversas, percebi que estava apaixonada mais uma vez. Vamos completar três anos de união. Vejo com naturalidade o fim dos relacionamentos. A mulher tende a se culpar, mas acho que temos de valorizar as coisas boas, não levar a vida tão a sério. Sou amiga até dos ex que me traíram. É preciso saber perdoar os outros e a si mesma.”

Meus filhos, os filhos dele

Yara P., 48 anos, médica, de São Paulo, 5 casamentos

“No último ano da faculdade, eu me casei por paixão e vontade de sair de casa. Um ano depois, nasceu nossa filha; mais um ano se passou e nos separamos. O rompimento foi simples. Eu sabia que só gostava dele como amigo, como gosto até hoje, e também que ele continuaria sendo bom pai. Um ano e meio depois, reencontrei um namorado de adolescência, engravidei e casamos. Mas me separei com nosso filho ainda bebê, aos 26 anos, desapontada com o sujeito que ele se revelou quando a cegueira da paixão se foi: mau caráter, tanto que nunca sustentou o filho, sumiu.

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Na época, fiquei preocupada com como iam me enxergar. Minhas amigas mal tinham se casado, e eu com um filho de cada ex… Mas toquei a vida, realizada com a maternidade e a profissão. Fiz mestrado e doutorado morando com as crianças e contando com o apoio dos meus pais. Tive alguns namorados até que, aos 29 anos, estava com meu terceiro marido, um cara legal, que se dava bem com as crianças. Quando ele começou a viajar demais a trabalho, fiquei louca por outro homem, um advogado que fazia terapia no prédio onde atendo. Essa separação foi terrível pela pressa de ficar com ele. Eu estava fora do meu juízo! As crianças tiveram dificuldade em assimilar a mudança. A nova relação era tumultuada e, um dia, ele me disse: ‘Entrei na idade do lobo’.

Até a separação definitiva, ele saiu de casa e voltou algumas vezes. Foi muito doído, até por ter que ficar longe da minha enteada. Aos 41 anos, não achava que fosse casar de novo. Então, conheci meu quinto marido: seis anos mais novo, empresário, dois filhos, leve, entusiasmado. Há cinco anos moramos juntos.

Ele tem a guarda compartilhada dos dois filhos, e adoro as crianças dessa nossa família, que é um mosaico. Acho que quem fica a vida toda satisfeito na mesma relação tem sorte. Por outro lado – e aí estou falando só de mim –, vários casamentos deixam a vida mais interessante. Como mulher, com certeza ganhei, mas sei que meus filhos pagaram um preço por isso. Só que essa é a mãe que eles têm.”

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