Após recorde de mortes diárias pelo novo coronavírus na última semana e boletins sendo disponibilizados mais tarde, o governo de Jair Bolsonaro alterou o formato de divulgação de mortes e casos de Covid-19. Agora, o site do Ministério da Saúde que apresenta os números oficiais deixa de informar o total de vítimas desde o início da pandemia – é possível consultar apenas quantos foram mortos ou diagnosticados no dia anterior.
Na prática, isso significa que quem consulta a plataforma oficial encontra números menores, que podem dar a impressão de que a pandemia está desacelerando. Na sexta-feira (5), foram 1 005 mortos, de acordo com a informação disponibilizada, mas a soma, que não aparece, ultrapassa 35 mil vítimas desde 17 de março. Quem buscar saber as mortes por regiões ou estados terá mais dificuldade de entender a dimensão da crise. Em São Paulo, por exemplo, o boletim apresenta 43 mortes referentes ao dia anterior, mas o estado já soma 8 842. Também não são mais apresentados gráficos sobre a evolução da doença no país.
Pelo Twitter, o presidente publicou nota afirmando que a mudança se dá para representar o “momento do país”, embora autoridades de saúde do mundo todo estejam adotando modelo que apresenta os números totais da pandemia. A decisão gerou críticas de que a decisão seria uma forma de ocultar dados mais graves da população.
Com a alteração, a principal fonte sobre a pandemia no Brasil deixa de existir. Eram esses os dados usados pela americana Universidade John Hopkins, referência no agrupamento de estatísticas globais da pandemia, em seu banco de dados. A instituição mantém um ranking sobre o volume de casos e mortes por países e as informações são usadas por cientistas do mundo todo. Agora, o Brasil desapareceu da contagem.
Desde a quarta-feira (3), quando o país registrou 1 349 mortes, os boletins têm sido divulgados mais tarde. No início da pandemia, eles saiam às 17h, em seguida às 19h e, agora, às 22h. Com isso, os números são divulgados quando os principais telejornais já terminaram. O presidente chegou a afirmar que “acabou matéria no Jornal Nacional”, mas, na nota explicando a mudança, a justificativa é que, assim, subnotificações são evitadas.