Usando apenas muletas, Marinalva de Almeida, de 39 anos, completou com destreza os 15 km da tradicional corrida de rua São Silvestre em 2012. O feito raro é apenas um dos que acumula em sua trajetória como atleta: ela é a atual recordista brasileira em salto em distância sem prótese, já teve recordes em arremesso de dardo, e agora irá representar o Brasil na Vela durante os Jogos Paralímpicos do Rio, que começam esta semana. Além da dedicação ao esporte, a atleta tem uma carreira de modelo – defendendo a existência de mais referências inclusivas de beleza.
Há poucos dias da competição – ela veleja na categoria Skud-18 em dupla com Bruno Landgraf – Marinalva treina na baía de Guanabara, onde acontecerão as provas da vela a partir do dia 7 de setembro. “É visível que nós melhoramos muito em pouco tempo”, diz ela, que espera, pelo menos, um sétimo lugar na final, a frente de mais de dez duplas, portanto. “Se surgir a oportunidade, vamos buscar a medalha. Milagres acontecem, só precisamos de um pouco de sorte”.
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Aos 15 anos, Marinalva sofreu um acidente rodoviário que resultou na amputação de sua perna esquerda. “Com essa idade, até o fato de você estar com espinhas no rosto pode ser um drama, imagina uma mudança tão grande”, lembra. Ela foi introduzida aos esportes pelas assistentes sociais que acompanhavam seu tratamento. Depois do acidente, reaprendeu a andar de bicicleta e aprendeu a nadar. “Tudo era muito novo, ainda estava por acontecer. Com o esporte, o mundo se abriu para mim”, conta. A partir daí, passou por diversas modalidades, como natação, atletismo e halterofilismo.
Por um bom tempo, os esportes foram deixados de lado. Marinalva se casou aos 16 anos e teve três filhos, estabelecendo-se no interior do estado de São Paulo. Natural do Paraná, na época do acidente, ela morava no Mato Grosso do Sul. Há cinco anos, decidiu retornar aos treinos. O curto período foi suficiente para que conquistasse marcas relevantes em diferentes provas. Uma de suas próximas metas, projetada para o ano que vem, é participar da Corrida de São Silvestre de prótese: “Falam que não é possível correr de prótese com uma amputação tão alta como a minha, já que nenhuma mulher nunca conseguiu. Quero provar que isso é possível, eu sinto que é possível”.
Em meio a rotina de treinos, Marinalva atua como modelo e faz parte de uma agência de modelos inclusivas, isto é, que possuem alguma deficiência. Ela destaca a importância de mulheres como ela serem representadas em campanhas: “Existem mulheres lindíssimas e que, por acaso, têm alguma deficiência. Podemos mostrar sua beleza e garra de forma real”. O fato de ainda não existirem grandes ídolos paralímpicos brasileiros, sobretudo mulheres, é creditado por ela a essa baixa representatividade. “Não nos vem à cabeça nenhuma grande atleta paralímpica, não vemos essas pessoas em campanhas” comenta.