Esta quinta-feira, dia 14 de março, marca um ano do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em São Paulo, um grupo de pessoas se reúne na Praça Oswaldo Cruz, na região da Avenida Paulista para homenagear a ativista, aguerrida defensora dos Direitos Humanos.
O encontro foi marcado por cartazes, ilustrações de Marielle, placas e uma aula pública sobre o legado de Marielle conduzida por Jupiara Castro do Núcleo de Consciência Negra e da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL).
“Estou aqui como mulher preta, cidadã, transeunte que teve duas proximidades com Marielle, em um quilombo e em um congresso de afro-brasileiras no congresso de Harvard, onde ela não pode ir porque foi morta”, declarou Erica Malunguinho.
“Não adianta prender quem puxou o gatilho. Calaram Marielle porque ela era uma ameaça ao estado atual, ridicularizado no exterior e no brasil”, completou Jupiara Castro, representante da frente do Núcleo de Consciência Negra da USP.
Entre os presentes, também estavam Guilherme Boulos (PSOL) e o padre Júlio Lancellotti, que também discursou na ocasião:
“O Deus dos cristãos é o Deus libertador, que ouve o clamor dos oprimidos. Se o Deus que acreditamos é o Deus que se preocupa com os oprimidos, Deus é hoje uma mulher preta, com HIV. Deus não é binário, Deus é trinitário. É para todas as pessoas, não exclui ninguém, não oprime ninguém, ama num amor misericordioso e compassivo”, disse Lancelotti, que é monsenhor e pároco da Igreja São Miguel Arcanjo no bairro da Mooca.
Após a fala, os presentes fizeram um minuto de silêncio em memória a Marielle.
Já no Rio de Janeiro, os protestos aconteceram na região da Cinelândia, centro da cidade. Por volta das 8h, manifestantes espalharam flores pelas escadarias pela Câmara Municipal, onde Marielle trabalhava. Uma faixa amanheceu estendida na fachada do Palácio Pedro Ernesto.
Uma manifestação silenciosa foi realizada às 9h nas escadarias do Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Rio de janeiro (Alerj), na Praça Quinze, no Centro. Foram espalhados 365 girassóis pelas escadarias representando os 365 dias sem a vereadora.
Logo após os assassinatos brutais, CLAUDIA teve uma longa conversa com Monica Benicio, viúva de Marielle. Na entrevista, publicada em abril do ano passado, Monica revelou como conheceu seu grande amor e deu o tom do que viria a seguir: muita luta para honrar o nome Marielle Franco.
Entenda o caso
Marielle Franco foi morta quando saía de um evento na região central do Rio de Janeiro. Na última terça (12) foram presos o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz por suposto envolvimento no crime. O primeiro teria atirado em Marielle e em Anderson e o segundo seria quem dirigia o carro.
O veículo usado para o crime foi um Chevrolet Cobalt com placa de Nova Iguaçu e era clonado. Os criminosos emparelharam o carro dirigido por Anderson e efetuaram 13 disparos. Marielle levou quatro tiros na cabeça e o motorista foi atingido por ao menos três balas nas costas. No carro também estava a assessora de Marielle, que foi atingida por estilhaços.
Os investigadores mantêm silêncio sobre o rumo das apurações. Eles não descartam, contudo, a possibilidade de um outro indivíduo estar no carro dos criminosos nem de o crime ter sido encomendado.
Cerca de dois meses após os assassinatos, o jornal O Globo publicou uma matéria em que testemunhas relacionaram o crime ao vereador Marcello Siciliano (PHS) e ao ex-PM e miliciano Orlando Curicica. Os dois negam envolvimento na morte da vereadora e do motorista.
O então secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, disse em dezembro que Marielle foi morta pela milícia atuante no Rio de Janeiro por uma disputa de terras. Segundo ele, os milicianos se sentiam ameaçados pelo ativismo da vereadora.
“Era um crime que já estava sendo planejado desde o final de 2017, antes da intervenção”, disse o secretário ao Estadão em 14 de dezembro em referência à intervenção militar na cidade.
Cinco pessoas chegaram a ser presas no dia 22 de janeiro, entre eles um major da PM e um tenente reformado, por envolvimento em grilagem de terras na Zona Oeste do Rio.
Repercussão internacional
O assassinato brutal de uma vereadora que defendia negros, pobres, mulheres e a comunidade LGBT chocou o mundo todo. O crime foi notícia nos principais jornais. O The Guardian, por exemplo, ressaltou o fato de Marielle ser uma ativista e falar abertamente sobre a violência policial dentro de favelas na cidade do Rio.
A revista francesa Paris Match destacou a comoção gerada pela morte. O espanhol El País à época afirmou que “a onda de violência que sacode o Rio de Janeiro subiu mais um degrau”. Marielle também foi lembrada em atos público por todo o mundo.
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