Em um dia que as ruas foram tomadas por protestos pedindo a igualdade de direitos e o fim da violência de gênero, as delegacias especializadas em crimes contra elas ilustraram a necessidade do movimento: foram mais de de 420 ocorrências no dia 8 de março.
Em levantamento realizado pelo portal de notícias G1 em 22 capitais do país e no Distrito Federal, consta que foram registrados ao menos 422 boletins de ocorrência, que vão de injúria e ameaça até agressão física e estupro. Também foram denunciados casos de descumprimento de medidas protetivas, que é quando o agressor é impedido pela Justiça de se aproximar da vítima.
São Paulo figura o primeiro posto da lista com 52 casos – número que pode ser maior, já que três das nove delegacias da mulher da capital se recusaram a enviar os dados deste dia (2ª DDM Sul; 6ª DDM Campo Grande e 7ª DDM Leste). Na capital, só o posto localizado na região central emitiu 26 boletins de ocorrência – o que dá mais do que uma ocorrência por hora.
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Nem todos os casos são denunciados
“Em geral, o agressor de mulheres é um homem que não seria caracterizado como violento: é inseguro e tem pouca habilidade de argumentação. Ótimo da porta para fora, mas dentro de casa exerce o controle sobre a mulher – que pode ser demonstrado sob forma de humilhação, manipulação e chantagem emocional, não tão visíveis quanto tapas, socos e chutes. Após a violência, há um pedido de desculpas, vive-se uma fase de lua de mel, mas logo as agressões retornam, tornando-se cada vez mais frequentes”, explica Tatiane Moreira Lima, juíza da Vara de Violência Doméstica do Fórum do Butantã, em São Paulo.
A dúvida em relação à palavra da mulher e ao comportamento abusivo do homem afastam as vítimas da denúncia, que se calam por medo ou vergonha. Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no ano de 2016, 61% dos atos de violência contra a mulher foram cometidos por um conhecido – os agressores eram companheiros (19%) ou ex-companheiros (16%).
O mesmo estudo apontou que mais de 500 mulheres são vítimas de agressão física por hora no Brasil. E 52% das entrevistadas não procuraram a polícia após a agressão.