Mulheres jornalistas recebem mais do que o dobro de ofensas no Twitter que os homens na mesma profissão. Os termos mais usados contra as profissionais, na tentativa de deslegitimar o trabalho, são os seguintes: comunista, ‘jornazista’, ridícula e canalha. Além disso, o racismo contra negras também apareceu entre as ofensas.
O estudo levou em consideração 200 perfis de jornalistas brasileiros na rede social e busca compreender quais são os padrões de ataque aos profissionais em ambientes digitais, como foco em questões de gênero e raça.
A Revista AzMina e o InternetLab, junto com junto com Volt Lab e INCT.DD, com apoio do ICFJ (International Center for Journalists), foram responsáveis pela pesquisa, que concluiu que as profissionais que atuam na cobertura política são ainda mais expostas aos ataques nas redes sociais.
No levantamento, 7,1 mil tuítes foram identificados com conteúdo ofensivo em 133 perfis de jornalistas mulheres e de 67 homens por meio de uma amostra de aproximadamente 8 mil publicações, que foram realizadas de 1º de maio até 27 de setembro deste ano.
Jornalistas homens receberam 8% de mensagens hostis, enquanto 17% dos ataques foram destinados às mulheres. Suas características físicas, idade, relações de parentesco e histórico são mencionados pelos agressores, que questionam a capacidade de análise das profissionais.
Os xingamentos direcionados aos homens são similares aos feitos contra as mulheres, mas incluem também ofensas direcionadas a familiares do gênero feminino.
De dez profissionais no ranking elaborado pelo estudo, seis são mulheres. Eliane Cantanhêde, do Estado de S. Paulo, e Vera Magalhães, O Globo e Roda Viva, lideram a lista. As jornalistas Miriam Leitão, também do jornal O Globo e da Rede Globo, Daniela Lima, CNN Brasil, e Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, aparecem em 4º, 5º e 6º lugar, respectivamente. Em nono está Cynara Menezes, do Socialista Morena.
A lista ainda tem nomes, como Natuza Nery e Andreia Sadi, da GloboNews, Mariliz Pereira Jorge, Folha de S.Paulo, Rachel Sherazade, Metrópoles, e a cineasta indígena Sandra Terena.
Em entrevista a Folha, Bárbara Libório, jornalista, gerente de projetos da revista AzMina e uma das coordenadoras do estudo, notou que além de ofensas sobre determinado posicionamento político, ataques misóginos focados na aparência, capacidade intelectual e relações afetivas das mulheres também foram relatados.
“Assim como em todos os outros temas, quando vamos falar de gênero existe uma interseccionalidade, um recorte de raça. Vimos tuítes que tentavam desqualificar as mulheres negras, como se elas só estivessem no cargo onde estão porque são negras”, disse.
O levantamento aponta ainda que mulheres encontram dificuldades em denunciar os ataques. “Elas falaram isso de sentir que são ataques orquestrados muitas vezes, mas tem aquela dúvida: quem vou processar? Para quem reclamar? porque muitas vezes eram perfis que não pareciam verdadeiros”, explicou Bárbara.