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Indústria da moda se posiciona contra guerra na Ucrânia

Marcas como Armani, Balenciaga ou Nike se somam ao movimento internacional que pede o fim do conflito e tenta isolar economicamente o país de Putin

Por Joana Oliveira
Atualizado em 6 mar 2022, 13h32 - Publicado em 6 mar 2022, 13h30

O início da guerra na Ucrânia, com a invasão da Rússia no dia 24 de fevereiro, surpreendeu a indústria da moda em meio às semanas de desfiles em Milão, Londres, Nova York e Paris. As marcas, que geralmente não perdem tempo em posicionar-se nas redes sociais a favor de diversos temas sociais, demoraram dessa vez. Três dias depois do primeiro ataque russo, o único gesto significativo havia sido o de Giorgio Armani, que fez suas modelos desfilarem em completo silêncio como sinal de solidariedade ao povo ucraniano na semana de moda de Milão, que terminou na última segunda-feira. Depois disso, modelos e estilistas passaram a fazer manifestações nas entradas das passarelas, pedindo o fim do conflito, e várias pessoas que participaram dos eventos chegaram aos desfiles com diversas placas em apoio à Ucrânia. As imagens de ataques a civis e bairros residenciais, assim como a posição de empresas gigantes, como a Apple (que anunciou o fim da venda de seus produtos no mercado russo), fez com que marcas como Balenciaga, Nike, Net-a-porter e outras se somassem ao movimento internacional que tenta isolar o país governado por Vladimir Putin.

A Balenciaga, que geralmente apaga todas as publicações em suas redes sociais antes de lançar uma nova coleção, excluiu as postagens e deixou apenas a imagem de uma bandeira da Ucrânia em sua conta no Instagram. Na manhã deste domingo, a imagem foi substituída pelo vídeo do desfile da marca na semana de moda de Paris, ao final do qual as modelos entraram com vestidos longos, um amarelo e outro azul, as cores da bandeira do país que está sob ataque russo. Nas cadeiras, camisetas nas mesmas cores estavam disponíveis para os convidados, além do texto-manifesto de apresentação do desfile, assinado por Demna Gvasalia, diretor criativo da empresa, que é natural de um território independente da Geórgia. “A guerra na Ucrânia me lembra o maior trauma da minha vida, quando em 1993 a mesma coisa aconteceu na minha terra natal e eu virei eternamente um refugiado”, escreveu, acrescentando: “Esse desfile não necessita de explicações. Ele é dedicado à resistência e à vitória da paz e do amor”. A Balenciaga tem usado suas redes sociais, principalmente os stories, para informar exclusivamente sobre a guerra. 

Net-a-porter, uma gigante do comércio eletrônico de luxo, fechou suas lojas on-line na Rússia. “Devido à situação atual, não podemos concluir novas compras em seu país. Todos os pedidos foram suspensos até novo aviso”, lê-se no site russo da marca. A Nike fez o mesmo: “Atualmente, a Nike não pode garantir a entrega de produtos para seus compradores na Rússia”, diz o comunicado da empresa que, no momento, redireciona os clientes locais para suas lojas físicas. Já a Adidas informou que suspende o patrocínio da seleção russa de futebol, vestida pela marca desde 2008.

Duas convidadas da Semana de Moda de Milão homenageiam Ucrânia ao posar com bandeira do país.
Duas convidadas da Semana de Moda de Milão homenageiam Ucrânia com bandeira do país. (Getty/Getty Images)

A marca húngara Nanushka, que também desfilou em Milão na semana passada, interrompeu todas as vendas na Rússia e diz que, apesar de respeitar o povo desse país, “é impossível fazer negócio” com ele, com base nos “valores morais” da empresa. “Esta é uma decisão financeira relevante para a Nanushka e esperamos uma solução rápida para reconstruir essas relações”, disse o CEO, Pèter Baldaszti. Os oligarcas russos e suas famílias são, afinal, grandes clientes da moda de luxo e ninguém ignora o impacto de sua participação na renda da indústria. O papel do país é tão relevante nesse setor que, em meio à onda de notícias falsas sobre o conflito na Ucrânia, havia rumores de que empresas italianas estariam pressionando a União Europeia para manter as exportações de bens de luxo fora das sanções econômicas aplicadas contra o país de Putin. O presidente da Camera della Moda, Carlo Capasa, negou: “Representamos todas as marcas de moda e não exercemos nenhuma pressão, o governo decidirá as medidas a serem tomadas e nós as cumpriremos e nos adaptaremos a quaisquer restrições que sejam impostas.”

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No boicote ao mercado russo, edição ucraniana da Vogue se pronunciou, pedindo ajuda das empresas de moda e beleza: “Como resultado da agressão militar sem precedentes da Federação Russa e da crise crescente ajuda humanitária na Ucrânia, a Vogue UA insta a todos os conglomerados e empresas internacionais de moda e luxo a cessar qualquer colaboração no mercado ofensor com efeito imediato”, pede a publicação no Instagram. A postagem, na qual foram marcados vários anunciantes da revista, exortou-os a tomar partido: “Mostrar consciência e escolher a humanidade sobre o ganho financeiro é a única posição razoável que se pode tomar para enfrentar o comportamento violento da Rússia. A Vogue UA pede que a indústria global da moda não fique em silêncio durante esses tempos sombrios, pois a comunidade da moda tem uma voz forte.”

A mais recente iniciativa de membros da indústria é um manifesto contra a guerra assinado por mais de 1.500 apoiadores, entre estilistas, fotógrafos e editores de revistas. O abaixo-assinado é encabeçado por nomes como o  do fotógrafo britânico Nick Knight, a designer italiana Angela Missoni e o estilista britânico Christopher Kane: “Como designers, estilistas, fotógrafos, professores, estudantes, pesquisadores, modelos, artistas, designers gráficos, diretores criativos, agentes, escritores e editores, lutamos continuamente por um mundo onde a expressão criativa, o intercâmbio cultural e a colaboração possam florescer. A violência da invasão na Ucrânia vai contra tudo o que defendemos. Esta guerra não traz nada além de destruição, sofrimento e tristeza”, diz o texto.

“A moda tem poder. A moda é uma indústria de trilhões de dólares, com gigantesca influência cultural, econômica e até política. Em tempos de crise, é fácil descartar esse poder, chamá-lo de supérfluo, frívolo, surdo, hipócrita ou não-essencial. Mas nossas cadeias de suprimentos conectam países em todo o mundo, nossa mídia alcança massas de seguidores em todos os lugares, nossa linguagem compartilhada de criatividade é universal. Somos uma indústria repleta de talentos, habilidades, redes e conexões. Essas ferramentas sempre podem melhorar a vida das pessoas ao nosso redor – seja em larga escala ou íntima. Onde quer que você esteja hoje, não vire as costas, não feche os olhos”, pede o manifesto.

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