A ginasta Simone Biles, 20, sensação dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, publicou nesta segunda-feira (15) uma carta em suas redes sociais na qual revela ter sido abusada por Larry Nassar, 54, ex-médico da Federação Americana de Ginástica (USAG, em inglês). A carta foi reproduzida pelo site da “Folha de S.Paulo”
“Eu também sou uma das muitas sobreviventes que foi abusada sexualmente por Larry Nassar”, disse a ginasta vencedora de quatro medalhas de ouro no Rio.
“Este comportamento é totalmente inaceitável, abominável e abusivo, especialmente vindo de alguém em quem diziam que você devia confiar (…) Por muitas vezes me questionei. Eu estava sendo muito ingênua? Foi minha culpa? Agora eu sei responder a estas perguntas. Não. Não foi minha culpa. Não, e eu não devo carregar uma culpa que pertence a Larry Nassar, USAG e outros”.
A ginasta é considerada a melhor da atualidade e tem a vontade de competir na Olimpíada de Tóquio, em 2020.“Parte meu coração ainda mais saber que no meu trabalho no sonho de competir em Tóquio-2020, eu terei de retornar continuamente ao mesmo local de treino onde eu fui abusada.”
Em julgamento em dezembro de 2017, Nassar foi condenado a 60 anos de prisão por posse de pornografia infantil. Ele assumiu ter cometido abuso sexual em sete garotas e é acusado de molestar mais de 100 ginastas, inclusive campeãs olímpicas.
LEIA A CARTA NA ÍNTEGRA, publicada pelo site da Folha:
“Muitos de vocês me conhecem como uma garota feliz e enérgica. Mas ultimamente… eu tenho me sentido quebrada e quanto mais eu tento fazer a voz na minha cabeça se calar, mais alto ela grita.
Eu não tenho mais medo de contar a minha história. Eu também sou uma das muitas sobreviventes que foi abusada sexualmente por Larry Nassar. Por favor acreditem quando eu digo que foi muito mais difícil falar estas palavras em voz alta do que está sendo agora colocar no papel.
Há muitas razões pela qual eu fui relutante em dividir a minha história, mas eu sei que não foi minha culpa. Não é normal receber qualquer tipo de tratamento de um médico e se referir a ele horrivelmente como tratamento ‘especial’. Este comportamento é totalmente inaceitável, abominável e abusivo, especialmente vindo de alguém em quem diziam que você devia confiar.
Por muitas vezes me questionei. Eu estava sendo muito ingênua? Foi minha culpa? Agora eu sei responder a estas perguntas. Não. Não foi minha culpa. Não, eu não devo carregar uma culpa que pertence a Larray Nassar, USAG e outros.
É muito difícil reviver estas experiências e parte meu coração ainda mais saber que no meu trabalho no sonho de competir em Tóquio-2020, eu terei de retornar continuamente ao mesmo local de treino onde eu fui abusada.
Após ouvir histórias corajosas das minhas amigas e de outras sobreviventes, eu sei que esta experiência horrorizante não me define. Eu sou muito mais do que isso. Eu sou única, inteligente, talentosa, motivada e apaixonada. Eu prometi a mim mesma que minha história será muito maior do que isso e prometo que nunca irei desistir.
Competirei com todo meu coração e alma cada vez que eu pisar em um ginásio. Eu amo muito este esporte e eu nunca fui uma desistente. Eu não vou deixar que um homem e outros que o deram liberdade roubem o meu sonho e alegria.
Nós precisamos saber por que isso pôde acontecer por tanto tempo e com tantas de nós. Temos de fazer todos terem a certeza de que isso não vai acontecer de novo.
Como sigo meu trabalho para me recuperar da dor, eu gentilmente peço a todos que respeitem a minha privacidade. Este é um processo, no qual eu preciso muito tempo para superar
Beijos, Simone Biles”