“Ali perdi meu pai”, foram essas as palavras que Erick Witzel, 24, usou para definir o que sentiu ao ver o então candidato Wilson Witzel, seu pai, em um ato de campanha em que uma homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco (PSOL) foi destruída.
O filho de Witzel, que define a relação com o pai como “fria e distante até aquele momento, mas pacífica”, relatou em entrevista ao UOL a decisão de se afastar ainda mais do pai quando viu o então candidato em um ato de campanha em que uma homenagem à vereadora assassinada Marielle Franco foi destruída.
Além disso, a vida de Erick, que é formado em gastronomia, virou de cabeça para baixo há pouco mais de dois meses, quando o então candidato ao governo do Rio de Janeiro revelou em uma entrevista ser pai de um filho transgênero – apesar do pedido feito de antemão pelo jovem para que o ex-juiz federal não tocasse no assunto durante a campanha eleitoral. “Eu não queria a minha imagem e a minha condição de gênero associadas às causas dele”, explicou durante a entrevista.
Desde então, Erick passou a sofrer ataques virtuais de apoiadores do governador eleito. “Daquela declaração até hoje, eu ‘ganhei um rosto’, um rótulo de filho trans do governador eleito. E não paro de receber ofensas e ameaças constantes no meu Instagram. Muitas vezes de perfis falsos que se dizem eleitores do meu pai, que falam que eu sou a vergonha da minha família, me mandam voltar para o armário, dizem que vão rir quando eu for parar no caixão”, contou.
O cozinheiro afirmou ainda que não falou mais com o pai e cogita formalizar uma denúncia na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática contra os agressores virtuais.
Com um sentimento bem distante dos ideais defendidos pelo pai, a participação de Witzel no ato no qual o deputado estadual eleito Rodrigo Amorim (PSL) exibiu uma placa destruída com o nome de Marielle gerou ainda mais revolta ao jovem:
“Quando eu ainda tinha Facebook [hoje mantem só o Instagram], vi a foto do deputado destruindo a placa. Ainda não aparecia o Wilson na imagem. Fui ao perfil dele e comecei a olhar as fotos do dia, investigando em que contexto aquilo tinha sido feito. Quando vi, o Wilson estava lá. Eles vibravam e cantavam“, descreveu Erick Witzel.
Erick relatou também sua admiração por Marielle e sua intenção daqui pra frente: militar pelos direitos dos transgêneros nas redes sociais e nas ruas.
“Quando Marielle morreu, eu a conhecia só de nome. Depois do assassinato, eu pesquisei mais sobre a vida dela e me encantei. Assistindo a esposa dela falando, chorei um dia inteiro. Pela primeira vez me senti absolutamente representado. Fiquei chateado por não ter participado mais ativamente disso tudo. Sempre fui muito receoso, me expunha pouco. Hoje vejo o quanto era infeliz por não levantar essa bandeira. Meu amigo, eu sou a bandeira que eu represento. Levantar a minha bandeira é me levantar. Com a morte da Marielle eu entendi isso”, diz ele.
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