Fertilização traumática: o triste caso do casal que gerou bebê trocado
Dois casais recorreram ao procedimento de fertilização in vitro para gerarem um bebê, porém tiveram os embriões misturados
Duas famílias deram à luz filhos trocados na Califórnia após um erro cometido por uma clínica de fertilização in vitro, que misturou os embriões. O caso levou à abertura de um processo na Justiça contra o estabelecimento, que responderá por má conduta médica, quebra de contrato, negligência e fraude.
Localizada em Los Angeles, a clínica California Center for Reproductive Health (CCRH) foi procurada por Daphna e Alexander Cardinale em 2018 para realizar uma fertilização em vitro, método em que os óvulos da mulher são fertilizados por espermatozoides em laboratório e só depois são implantados no útero.
Entenda a diferença entre inseminação artificial e fertilização in vitro.
Em setembro do ano seguinte, nasceu uma menina, fruto da fertilização. No entanto, os pais notaram ainda no parto que o bebê não se parecia com eles e tinha uma pele mais escura.
Cerca de três meses depois, o casal decidiu fazer um exame de DNA. O mesmo determinou que não havia relação genética entre pais e filha.
“Fui privada da capacidade de carregar minha própria filha”, disse Daphna em entrevista à BBC na última segunda-feira (8).
“Eu estava dominada por sentimentos de medo, traição, raiva e desgosto. Não tive a oportunidade de criá-la e me relacionar com ela durante a gravidez, de sentir seus chutes”, disse aos jornalistas da BBC, ao relatar uma mistura de sentimentos entre apreensão e apego à criança.
O processo, que foi consultado pela agência de notícias Associated Press, diz que “os Cardinales, incluindo sua filha [mais velha, de 7 anos], se apaixonaram por essa criança e ficaram com medo de que ela fosse tirada deles. O tempo todo, Alexander e Daphna não sabiam onde estava seu próprio embrião e portanto estavam com medo de que outra mulher estivesse grávida de seu filho — e seu filho estivesse em algum lugar do mundo sem eles.”
Com a ajuda clínica, o casal conseguiu encontrar a família que gestou o seu embrião. Já nascido, o bebê também era uma menina, com apenas uma semana de diferença da data de nascimento da outra criança.
Quatro meses após o parto, as duas famílias se encontraram e decidiram formalizar na Justiça a troca dos bebês, o que aconteceu em janeiro de 2020. De acordo com Daphna Cardinale, esse foi um processo carregado de traumas.
“O horror dessa situação não pode ser compreendido”, relata o processo.
Durante a entrevista, Daphna ainda afirmou angustiada: “Em vez de amamentar minha própria filha, amamentei e criei um vínculo com uma criança que depois eu tive que entregar.” Em concordância, o pai, Alexandre comentou que “trocar as crianças fez tudo ficar ainda mais perturbador”.
Segundo a ação na Justiça, o casal agora faz tratamento para ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.