Uma auxiliar de serviços gerais de 37 anos registrou um boletim de ocorrência após ter sofrido ameaças e injúria porque pediu para uma moradora, que voltava da praia, usar a entrada correta no edifício onde ela trabalha na Praia Grande, no litoral de São Paulo.
“Falaram que eu sou faxineira, que eu deveria ficar no meu lugar de faxineira. Me mandaram calar a boca e que minha vida ia ficar difícil depois disso […] Se eu fosse branca, tenho certeza que teriam mais simpatia comigo. Dava para ver no jeito que ela falava”, desabafou a mulher em entrevista ao G1, que, com receio de retaliações, preferiu não se identificar.
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A vítima contou também que sofreu dois episódios de humilhação, ambos na última semana, no prédio onde trabalha. O caso começou quando a mulher limpava o saguão de entrada e notou que uma moradora estava voltando da praia pela entrada social, o que é proibido pelas regras do condomínio.
“Em nenhum momento mandei ela voltar ou coisa assim. Eu estava orientando ela para que, na próxima vez, ela soubesse por onde passar. Tenho ordem do síndico”, relatou. Segundo a regra do edifício, quem volta da praia deve usar o elevador de serviço.
A mulher lembra: “Ela simplesmente virou para mim e disse: ‘cala a boca, eu entro e saio por onde eu quiser. Minha mãe pagou R$ 300 mil no apartamento aqui, eu faço o que quiser aqui dentro’. E começou a gritar e a me mandar calar a boca, na frente de todas as outras pessoas que estavam por lá”.
Após ser orientada, a auxiliar de serviços gerais decidiu registrar a ocorrência na ata do condomínio. No dia seguinte, porém, ela recebeu um telefonema de sua empregadora pedindo para que relevasse o ocorrido.
Na mesma manhã, a família da moradora a procurou e a funcionária relata ter sido humilhada novamente. A mãe, o pai e o irmão da mulher apareceram no edifício para continuar a discussão do dia anterior. “Vieram transtornados, agressivos. Começaram a rajar injúrias e a me ameaçar. Perguntaram quem eu era pra mandar a filha dela voltar pra trás”, contou.
Ela conta que tentava explicar o que aconteceu, mas era interrompida constantemente com diversas humilhações. “Me mandavam calar a boca, que ela não ia acreditar em uma faxineira, disse que sou faxineira e deveria ficar no meu lugar, de faxineira”, lembrou.
“Fiquei paralisada, pensando ‘meu Deus, qual é o meu lugar de faxineira? Qual é esse lugar que a faxineira tem?’ Fiquei pensando qual é esse lugar que a faxineira tem que frequentar, onde eu deveria estar pra essa gente”, contou a auxiliar de serviços gerais.
Durante a discussão, ela conta que percebeu que, por ser uma mulher negra, a humilhação era ainda pior. “Eu sou negra. Ela olhava pra mim querendo [me xingar], mas ela se segurava. Se eu fosse branca, eu acho que teria um pouco mais de empatia”, analisou.
Preocupada com o que poderia acontecer, a vítima decidiu registrar um boletim de ocorrência por injúria e ameaças no 1º DP de Praia Grande.