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Estuprada diversas vezes, jovem de 17 anos morre por eutanásia na Holanda

Ela faleceu em casa, em uma cama que foi instalada na sala de jantar

Por Da Redação
Atualizado em 18 fev 2020, 07h53 - Publicado em 5 jun 2019, 11h17
Noa Pothoven
 (Instagram/Reprodução)
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Uma adolescente holandesa de 17 anos, chamada Noa Pothoven, afligida por transtorno de estresse pós-traumático, anorexia e depressão, morreu no último domingo (2) em sua casa, em Arnhem, leste da Holanda. A jovem foi vítima de abusos sexuais e estupros aos 14 anos e solicitou eutanásia, ato em que uma pessoa escolhe cessar sua vida por não suportar o trauma.

“Serei direta: dentro de dez dias terei morrido. Estou exausta após anos de luta, e parei de comer e beber. Depois de muitas conversas e de uma análise da minha situação, decidiram me deixar ir embora, porque minha dor é insuportável”, escreveu a menina no sábado passado em sua conta do Instagram.

A eutanásia é legal na Holanda desde 2002 e maiores de 12 anos podem solicitá-la se sofrerem de enfermidades sem cura e padecimentos insuportáveis. A partir dos 16 anos, não é necessária a autorização dos pais.

O desejo de Noa era deixar de sentir dor. “Não vivo há muito tempo, sobrevivo, e nem isso”, escreveu na mensagem final. “O amor é deixar ir embora. Neste caso, é assim”, acrescentou.

A adolescente aproveitou seus últimos dias para se despedir da família – dos pais, do irmão e da irmã – e dos amigos. Seu hobby era escrever e tinha porquinhos da Índia como mascotes.

A eutanásia foi realizada em sua casa, em uma cama que foi instalada na sala de jantar.

Passado traumático

Noa era uma menina alegre que tirava boas notas na escola. Mas tudo começou a mudar aos 11 anos. Foi quando ela sofreu sua primeira agressão sexual, durante uma festa escolar. Um ano depois, voltou a acontecer, desta vez em uma festa de adolescentes.

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Aos 14 anos, foi estuprada por dois homens em um beco da sua cidade. Na época, ninguém ficou sabendo. Só depois denunciou e sua mãe, Lisette, explicou que reviver o ataque foi demais para sua filha.

A partir de então, Noa passou a sofrer com anorexia e sua vida tornou-se um entra e sai de hospitais e centros especializados. Ao ter seu estado emocional comprovado, a adolescente foi internada à força em uma instituição durante seis meses, onde foi imobilizada e isolada para que não se lesionasse.

“Nunca mais voltarei para um lugar assim. É desumano”, desabafou Noa, tempos depois. Ao sair da clínica, porém, a anorexia piorou. Sua família denunciou a falta de lugares apropriados na Holanda para casos como o de sua filha. Foram seis meses de espera até que a admitissem em um centro especializado em transtornos alimentares. Ela acabou sendo hospitalizada com uma sonda nasogástrica.

Sua comovente história chegou aos meios de comunicação nacionais em 2018 e Noa publicou um livro, intitulado Ganhar ou Aprender, contando seu caso.

livro-noa
(Twitter/Reprodução)
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Momentos finais

Sua luta por tratamento adequado e as suas tentativas de suicídio mobilizaram a opinião pública holandesa. A mãe denunciou a falta de instituições para jovens com problemas físicos e emocionais e criticou os serviços de assistência social dedicados aos menores, “com uma burocracia e listas de espera que são de enlouquecer”.

Além disso, Lisette considera que o livro de sua filha deveria ser de leitura obrigatória para cuidadores, juízes e prefeituras, pois a dor psíquica derivada de um trauma não é reconhecida. Em março do ano passado, “Ganhar ou Aprender” ganhou um prêmio e Noa, na época, comentou: “Não sei se continuarei escrevendo”.

Há alguns meses, a adolescente listou que gostaria de “andar de moto, fumar um cigarro, beber álcool, fazer uma tatuagem e comer um chocolate”. “Faz anos que não os provo por causa da minha anorexia”, explicou.

Ao mesmo tempo, sem o conhecimento da família, entrou em contato com a “Clínica para Morrer” (Levenseindekliniek), uma instituição privada holandesa que pratica a eutanásia desde 2013, com autorização, mas fora do circuito da medicina pública.

A ela recorrem, especialmente, pessoas afligidas por sofrimentos psíquicos, os quais são mais difíceis de avaliar e que figuram na Lei de Eutanásia (2002). Essa permite a eutanásia, o suicídio assistido – em que o paciente ingere uma substância preparada pelo profissional – e a combinação de ambos.

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O médico pode se recusar ou, caso aceite, deve assegurar que o sofrimento do paciente é insuportável, que o pedido é feito de forma consciente e repetida, e deve consultar posteriormente outro colega. O desrespeito a essas normas acarreta penas de até 12 anos de prisão.

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