Estátua de mulher sexualizada gera revolta e discussão sobre machismo
Feita de bronze em homenagem a um poema do século 19, a estátua é chamada de "ofensiva" e "humilhante" para as mulheres
A inauguração de uma estátua em homenagem a um poema do século 19, o “La Spigolatrice di Sapri” (“A Respigadora de Sapri”, em tradução livre), do autor Luigi Mercantini, deu início a uma série de debates sobre machismo na Itália.
Isso ocorreu por conta da forma hipersexualizada que a imagem de uma mulher foi esculpida. O corpo é envolto por um vestido transparente e o braço da mulher cobre os seus seios.
As linhas foram escritas do ponto de vista de uma respigadora, pessoa que coleta grãos deixados nos campos pelos colhedores. A personagem deixa seu emprego e se junta à expedição fracassada de Carlo Pisacane, revolucionário italiano, contra o Reino de Nápoles, que deixou 300 mortos.
A estátua é “uma ofensa às mulheres e à história que ela deveria celebrar”, afirmou a deputada Laura Boldrini. Em seu Twitter, a integrante da Câmara dos Deputados pelo Partido Democrata de centro-esquerda, disse ainda: “Como as instituições podem aceitar a representação das mulheres como um corpo sexualizado? O chauvinismo masculino é um dos males da Itália”, alertou.
Repercussão
Algumas integrantes do Partido Democrata em Palermo divulgaram uma nota pedindo a demolição da estátua. “Mais uma vez, temos que sofrer a humilhação de nos ver representadas sob a forma de um corpo sexualizado, sem alma e sem qualquer conexão com as questões sociais e políticas da história”, dizia o texto.
Para Monica Cirinnà, uma senadora do partido, a escultura é “um tapa na cara da história e das mulheres que ainda são apenas corpos sexualizados”. “Esta estátua da respigadora nada diz sobre a autodeterminação da mulher que optou por não ir trabalhar para se levantar contra o opressor Bourbon”, explicou no Twitter.
No Facebook, o prefeito da cidade, Antonio Gentile, defendeu a estátua justificando que a mesma foi “feita com habilidade e interpretação impecável” por Emanuele Stifano, artista responsável pela obra. Ela ainda afirmou que sua cidade “não estava disposta a questionar seus valores, princípios e tradições”.
Na mesma rede social, o artista alegou estar “chocado e desanimado” com as críticas. Ele defendeu seu trabalho ao dizer que sua intenção era “representar um ideal de mulher, evocar o seu orgulho, o despertar de uma consciência”. Segundo ele, o projeto foi aprovado pelas autoridades.