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Entrevista: americana sequestrada por 11 anos conta como buscou forças para viver

Michelle Knight foi a primeira de três sequestradas pelo americano Ariel Castro, um caso famoso no mundo. Por quase 11 anos, ela sofreu todo tipo de violência. Agora, lança livro no Brasil e fala sobre sua liberdade.

Por Bel Moherdaui
Atualizado em 22 out 2016, 16h33 - Publicado em 21 jul 2014, 22h00
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    Michelle Knight transformou toda sua história no livro Libertada – Memórias do Cativeiro de Cleveland (Fontanar)
    Foto: Deborah Feingold/Corbis Outline/Latinstock

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    Durante dez anos, oito meses e 15 dias, Michelle Knight viveu trancafiada na casa de Ariel Castro, o motorista de ônibus escolar que a sequestrou quando ela tinha 21 anos, a estuprou e a torturou repetidas vezes. Quando Michelle estava para completar um ano de cativeiro, Castro sequestrou mais uma garota. No ano seguinte, outra. Amanda Berry e Gina DeJesus tinham apenas 16 e 14 anos na ocasião. 

    As três se livraram do cativeiro, onde viviam quase sem banho, sem comida e sem dignidade, em 6 de maio de 2013: o sequestrador finalmente deixou uma porta mal trancada, Amanda escapou e chamou a polícia. Michelle agora conta sua história no livro Libertada – Memórias do Cativeiro de Cleveland (Fontanar), lançado no Brasil neste mês.
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    A obra é um retrato cru – e por vezes indigesto – da luta da americana de olhos e pele bem claros, uma gigante de apenas 1,40 metro de altura. A vida dela não foi dura só dentro daquele sobrado, embora a crueldade ali tenha alcançado níveis inimagináveis.
     
    Na infância, desde os 5 anos, ela havia sido abusada por um parente. Fugiu de casa para se livrar dessa agressão e dormiu até embaixo de ponte. No dia do sequestro, tentava chegar a uma audiência para recuperar a guarda de seu filho, Joey, fruto de um namoro rápido com um amigo da escola. O garotinho estava com 2 anos e havia sido recolhido pela Justiça.
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    No longo período enclausurada, Michelle engravidou de Castro cinco vezes e, por cinco vezes, foi espancada até abortar – Amanda deu à luz Jocelyn, que, quando escapou, já tinha 6 anos. As três garotas viviam trancadas, sem nenhum contato com outras pessoas, em geral acorrentadas em um dos imundos cômodos ou no porão. 
     
    Entrevista: americana sequestrada por 11 anos conta como buscou forças para viver

    Casa em Cleverland onde Michelle ficou presa durante 11 anos
    Foto: Divulgação

    Condenado à prisão perpétua mais mil dias encarcerado, Castro se enforcou um mês depois do julgamento. Quando foi libertada, Michelle tinha o maxilar deslocado pelos socos, problemas nos braços e uma grave infecção bacteriana. Perdera 21 de seus 59 quilos. Decidida a não reencontrar sua família, que nunca a acolheu ou a procurou, ela viveu em um abrigo nos seis primeiros meses da nova vida.

    Hoje, mora sozinha em um apartamento próprio e faz um curso de culinária. Mas Michelle se dedica especialmente a curtir os pequenos prazeres, como cantar, dançar e andar pela rua. Fez algumas tatuagens pelo corpo, incluindo duas grandes asas nas costas, e trocou de nome – passou a assinar Lily Rose Lee. A grande questão, e sobre a qual não está autorizada a falar, é se voltará ou não a encontrar o filho.
     
    Joey foi adotado aos 4 anos e vive desde então com a nova família. Por meio de uma advogada, Michelle fez contato, mas, por enquanto, só teve acesso a fotos do garoto, que agora tem 14 anos. “Meu Deus, ele se parece tanto comigo!”, disse ao ver os retratos, segundo conta no primeiro capítulo do livro (que pode ser lido na versão de CLAUDIA para tablet). A seguir, você confere a entrevista exclusiva que Michelle deu à revista. Sua fala de poucas palavras é emocionante. 
     
    Mesmo tendo sido submetida às maiores atrocidades por quase 11 anos, você continuou lutando para sobreviver. De onde veio essa força toda? 
    Quando você está em uma situação difícil, tem só duas opções: desistir ou sobreviver. Eu não queria morrer. 
     
    Em algum momento você fraquejou? 
    Houve horas em que cheguei a pensar que não aguentaria mais nenhum dia. Mas, daí, achava forças dentro de mim para continuar vivendo. 
     
    E de onde vinha toda essa força? 
    Do meu filho, das recordações que eu tinha do nosso tempo juntos. Imaginar o que ele devia estar fazendo naquela hora me dava esperanças para continuar lutando. 
     
    Houve algum momento de felicidade na casa? 
    Não diria felicidade, mas, em algumas ocasiões, celebrávamos aniversários com um pedaço de doce. Fora isso, nada ali era feliz. Na verdade, era tudo muito, muito difícil o tempo todo.
     
    Como você superou tanto sofrimento? 
    Não dá para esquecer o que passou. No entanto, dá para transferir essa energia para algo positivo, e foi o que fiz ao escrever esse livro. Quero que as pessoas saibam que, não importa o que estejam passando, é possível sobreviver. Mas não é fácil.
     
    Depois de tudo, você ainda tem medo de alguma coisa? 
    O pior que poderia me acontecer já aconteceu, e eu sobrevivi.
     
    Se pudesse voltar no tempo e sussurrar algo à jovem sequestrada Michelle Knight, o que diria a ela? 
    “Vai ficar tudo bem.”
     
    Trancada, você perdeu uma série de fatos históricos, como o tsunami na Ásia e a morte de Michael Jackson. O que mais a surpreendeu ao sair? 
    A evolução tecnológica é impressionante. Não canso de admirar.
     
    Como é sua vida atualmente? 
    Ótima! Viajei mais do que seria capaz de imaginar (no fim de 2013, ela até realizou o sonho de conhecer a Disney). Adoro acordar de manhã, fazer meu café e olhar pela janela. É meu momento favorito do dia. As pessoas se esquecem de apreciar a liberdade de andar lá fora. Imagine só se isso fosse tirado de você. 
     
    Quais seus planos para o futuro? 
    Estou adorando meu curso de culinária. Um dia ainda vou abrir um restaurante. 
     
    E qual é o seu maior desafio daqui para a frente? 
    Descobrir quem eu sou agora. Mas isso leva tempo. 
     
    Hoje você é feliz? 
    Como todo mundo, tenho dias bons e dias ruins. E sou grata por viver cada um deles. Sou feliz por ter minha vida. 
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