A Europa vive uma crise migratória de enormes proporções. Guerras, pobreza extrema, repressão religiosa e política são alguns dos motivos que fazem milhares de pessoas saírem de seus países em busca de uma vida melhor no continente europeu. O mundo parece ter acordado para esse grave problema após o trágico caso do garotinho sírio que morreu afogado durante a fuga com sua família. A imagem chocou o mundo e chamou a atenção para uma das piores situações humanitárias da história.
Por que ele fugiu?
A Síria é um país localizado no Oriente Médio que está em guerra civil desde 2011. Mais de 240 mil pessoas morreram desde então e, dentro desse número, estão 12 mil crianças. A ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que mais de 7 milhões de sírios abandonaram suas residências dentro do país e quase 60% da população vive na pobreza.
E por que a guerra?
O país está lutando por democracia desde 2011. Eles querem a saída de Bashar Al-Assad. O ditador, que está há mais de 13 anos no poder e recebeu o cargo de seu pai – que ficou mais de 30 anos no comando. O combustível para essa briga foi que ela deixou de ser política e o governo atacou usando o exército. Foi assim que a oposição também se armou e a guerra eclodiu.
Damasco, Síria.
Mas e o Estado Islâmico, o que ele tem a ver com isso?
O Estado Islâmico, também conhecido como EI ou Isis (em inglês), é um grupo terrorista que busca conquistar um território e se estabelecer como país. Eles iniciaram seus ataques no Iraque e na Síria, a partir de uma visão extremista do Islã. E, em busca de seus objetivos, desde 2013, eles funcionam como uma união terrorista.
Ainda não entendi, o que eles tem a ver com a Síria?
Além da guerra civil, o EI invadiu algumas cidades sírias trazendo mais medo e terror para a população. E as pessoas, com o receio de serem mortas ou presas por eles, têm fugido cada vez mais.
E por que a Europa?
Primeiro pela proximidade e, segundo, pela esperança de uma maior qualidade de vida.
E o garotinho sírio, o que aconteceu com ele?
Aylan Kurdi, de três anos, tentava fugir com a sua família em direção à Europa em um barco precário. A embarcação afundou e dezenas de pessoas morreram, assim como o pequeno sírio. “O que Aylan seria, então? No mínimo, um símbolo da falência da ONU, da diplomacia internacional, dos governos que enxotam, descumprindo a Convenção Internacional sobre o Estatuto dos Refugiados”, disse a nossa editora Patrícia Zaidan em sua coluna.
Além da Síria, existem mais refugiados?
Dentre os principais grupos que chegam atualmente à Europa estão sírios, afegãos, iraquianos, paquistaneses, eritreus, somalianos e nigerianos. Todos eles estão fugindo de guerras, pobreza extrema e violência. A travessia clandestina é arriscada: centenas já morreram tentando chegar à Europa. Traficantes de pessoas chegam a cobrar mais de R$ 10 mil por indíviduo para realizar a rota pelo mar em condições precárias. E, mesmo em solo europeu, eles estão marginalizados. Alguns tentam seguir para a Grã-Bretanha pelo Eurotúnel, mas são retidos nos países por falta de documentação ou correm risco de deportação.
Mapa com destaque para o países com alto fluxo de refugiados.
O que causou a crise?
Nos últimos meses, milhares de refugiados chegaram à Europa vindos da África e do Oriente Médio em busca de asilo e refúgio. O número de pessoas que chegou ao continente este ano por meios considerados irregulares foi estimado em 340 mil. Além da crise de imigração, alguns países europeus também enfrentam uma crise econômica, como é o caso da Grécia que, sozinha, já recebeu, em 2015, cerca de 160 mil imigrantes. A situação gera instabilidade, pois falta de acomodações e desespero são agora cenário em locais como a cidade francesa de Calais, na fronteira com o Reino Unido, em Lampedusa, na Itália, nas ilhas gregas de Kos e Lesbos e, mais recentemente, em Budapeste, na Hungria, onde imigrantes acampam nas proximidades da principal estação de trem da cidade, a espera do embarque rumo ao norte, em direção à Alemanha e aos países nórdicos.
Qual é o resultado disso?
As autoridades europeias têm sido acusadas de não apresentarem soluções eficazes para concessão de asilos políticos. Entre elas, está a tentativa de impedir a chegada dos refugiados no território europeu e a redução de resgates no Mediterrâneo. O resultado foi um aumento no número de fatalidades. E, segundo estimativas da Organização Internacional para Migração (IOM, em sua sigla em inglês), contabiliza-se hoje mais de 5 mil mortes.
O que pode ser feito?
A ONU já afirmou que essa é uma das maiores crises humanitárias da história, em que o fluxo migratório já ultrapassou os números da Segunda Guerra Mundial. Agora, cabe a eles e à União Europeia aumentar o número de caminhos legais. O Diretor Executivo da Human Rights Watch (HRW), Kenneth Roth, escreveu em um artigo que esta é uma crise política, acima de tudo. “Trata-se de um desafio que requer liderança política como resposta – e não uma questão de capacidade de absorver os imigrantes recentes”, completa ele.
As coisas vão melhorar?
A Alemanha, por exemplo, cedeu 6 bilhões de euros no começo do mês para abrigar refugiados. O país também prometeu registrar mais de 800 mil pedidos de asilo até o fim deste ano. Basta esperar que outros países adotem atitudes como essa.
Doações chegam na estação ferroviária de Dortmund, na Alemanha.
Por que é importante saber disso?
Além de ser uma das maiores tragédias da humanidade, nos faz refletir até que ponto existe a globalização. O prometido “mundo sem fronteiras” é para todos? Um vídeo, muito forte, mostra um grupo de refugiados recebendo alimentos como animais. Enquanto uns jogavam lanches, outros lutavam pela comida. Se você estiver preparada, clique aqui e assista.
Como o Brasil pode ajudar?
A presidente Dilma disse no dia 7 deste mês que nosso país poderia abrigar mais refugiados e anunciou que deve flexibilizar o ingresso dos sírios por razões humanitárias. Hoje, há cerca de 2 mil refugiados vindos da Síria no Brasil, o que corresponde a quase 25% do total de 8,4 mil asilados em território nacional.
Como ajudar?
Veja abaixo uma lista de instituições que trabalham nessa área e por meio das quais é possível ajudar com doações ou voluntariado:
ADUS – Instituto de Reintegração do Refugiado
Núcleo Islâmico – katibbr@gmail.com
Missão Paz – SP – (11) 3340.6950
UNI – União Nacional Islâmica – (11) 3326.4040
Mesquita Brasil – falecom@mesquitabrasil.com.br
Caritas Arquidiocesana de São Paulo