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Elizabeth Gilbert abre mão de best-sellers autobiográficos e lança livro de ficção

Defensora de que mudar é sempre possível, a autora do best-seller Comer, Rezar, Amar, se arrisca em novo gênero literário.

Por Mariane Morisawa (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 03h08 - Publicado em 21 jul 2014, 22h00
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  • Elizabeth Gilbert ficou famosa no mundo inteiro ao contar a própria jornada de autoconhecimento em Comer, Rezar, Amar, livro de 2006 convertido em filme estrelado por Julia Roberts. Em Comprometida, o título seguinte, a escritora americana se baseou mais uma vez em vivência pessoal: quando viu o parceiro, o brasileiro José Lauro Nunes (chamado de Felipe em Comer, Rezar, Amar), ser preso pelo departamento de imigração dos Estados Unidos e deportado, a solução de emergência foi casar oficialmente, em 2007 – e hoje eles vivem felizes em Nova Jérsei.

    Depois dos dois livros, ela se sentiu livre para se afastar do umbigo e provar outro gênero. Seu novo A Assinatura de Todas as Coisas (Alfaguara) é pura ficção. Ela só reincide ao eleger para protagonista outra mulher: agora uma botânica do século 19. Aos 44 anos, Elizabeth falou a CLAUDIA sobre vida, obra e desafios.

    Elizabeth Gilbert abre mão de best-sellers autobiográficos e lança livro de ficção

    A Assinatura de Todas as Coisas (Alfaguara), a esteia de Elizabeth Gilbert na ficção
    Foto: Divulgação

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    Como lidou com o fato de Comer, Rezar, Amar ser visto como um livro de autoajuda?

    Não tenho problema com isso. Sempre tentamos rotular as coisas; as pessoas se sentem mais confortáveis. Não tenho medo da palavra autoajuda ou da ideia de aperfeiçoamento. Todos nós deveríamos nos autoajudar (risos). Não quer dizer que queira escrever livros do gênero pelo resto da vida, mas fiquei feliz de fazer aquele.

    Acha que as pessoas podem se transformar?

    A mudança é sempre possível. Acredito nisso porque vivi isso. Houve momentos em que me vi empacada e fui capaz de mudar. Odeio ver gente desistir de seus sonhos ou de sua felicidade em nome de outra pessoa. O que me deixou feliz com Comer, Rezar, Amar é que parece ter dado permissão a muitas mulheres para questionar a vida e a felicidade delas e enxergar possibilidades de transformação.

    Pelo visto, você tem uma visão positiva da vida, não é?

    Trabalho constantemente nisso! Você não alcança esse otimismo automaticamente, tem de lutar contra o lado sombrio, as vozes que dizem não haver esperança, que acabou. Chamo tais vozes de terroristas e não negocio com os terroristas que vivem dentro do meu cérebro (risos).

    Por que decidiu fazer algo totalmente diferente do que já tinha feito ao escrever A Assinatura de Todas as Coisas?

    Quando terminei Comprometida, me sentia completamente liberada para fazer o que quisesse. E o que eu queria era escrever o maior e mais ambicioso livro “antigo” que eu pudesse. Tinha tempo e dinheiro para isso.

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    Foi um desafio que você se impôs?

    Adoro desafios! Queria manter a mente entretida e escrever algo para o próprio prazer – e para o prazer do leitor também, espero.

    Por que costuma escrever sobre mulheres?

    Eu me declaro feminista, palavra que não usamos tanto quanto deveríamos. Todas as coisas boas da minha vida aconteceram por causa de conquistas feministas: o fato de eu ser educada, de ter controle sobre meu dinheiro e meu corpo, de não ter tido de me casar aos 15 anos, de poder escrever livros e publicar, tudo isso é conquista.

    Sinto-me na obrigação de avançar nessa discussão para ajudar as mulheres a conquistar tanto mais liberdade quanto possível. Porque a luta ainda não terminou.

    Como as mulheres de sua vida a influenciaram?

    Minha mãe criou as duas filhas para ser independentes e ter voz própria, sem medo. Um dos problemas que vejo hoje nas jovens é o perfeccionismo. Elas têm medo de mostrar seu trabalho ou fazer sua voz ser ouvida até alcançar o que acreditam ser a perfeição. Só que a perfeição não existe! Sou feliz por ter tido uma mãe que dizia que 90% era suficientemente bom.

    O fato de ter marido brasileiro fez diferença em sua vida?

    A diferença é ter esse homem em particular. Afinal, é o único brasileiro com quem me casei (risos). Temos muitas diferenças, da idade (ele é 17 anos mais velho) à cultura. Mas ele é viajado, saiu do Brasil aos 22 e viveu em outros países. Aprendi com ele a relaxar e não me preocupar tanto.

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    Não sei se isso tem a ver com o fato de ser mais velho e ter visto muitas coisas por aí ou se é uma característica brasileira. Ele não tenta controlar nada, e eu tenho o costume de querer controlar tudo (risos).

    Como foi enfrentar a imigração do seu país?

    Foi difícil e um grande teste para o nosso amor. Até hoje ele diz que ficou muito surpreso de eu ter ficado a seu lado (risos). Ele achou que eu desistiria. Mas não queria perdê-lo. Então, foi complicado, mas, ao mesmo tempo, muito simples. É só se perguntar: “Quero ficar com essa pessoa?” Se a resposta for sim, tudo fica fácil e você faz o que for preciso. Se for não ou não sei, aí é que complica.

    Acha que se casar mais velha torna tudo mais fácil?

    É estatística, não é uma opinião minha. Quem se casa mais velho tem uma união mais feliz. A razão é óbvia: toda decisão que você toma quando é mais velho é melhor do que qualquer decisão de quando é mais jovem.

    O casamento é um bom negócio para a mulher de hoje?

    Você precisa se casar com alguém que veja o casamento como uma parceria, não com quem quer uma mãe. Historicamente, é a mulher quem cuida. Fico triste ao ver aquelas que se desesperam para ter um homem para cuidar delas.

    A realidade é que você vai cuidar dele! Por isso, homens casados são mais felizes que os solteiros, e mulheres casadas são mais infelizes que as solteiras. Só agora está começando a mudar.

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    É essencial encontrar alguém disposto a devotar sua vida a você, assim como está disposta a devotar sua vida a ele. Parte do sucesso do meu casamento, além do fato de ele ser excelente cozinheiro e um homem doce, é que, já no começo, José disse: “Você tem ambições na carreira, é mais jovem e está no pico da sua criatividade. Vou ser a pessoa que dará o apoio”.

    E seu marido faz comida brasileira para você?

    A feijoada dele é a melhor do mundo. Mas só consigo convencê-lo duas ou três vezes por ano, porque dá muito trabalho (risos). Mas, quando ele faz, é tão bom!

    Você não quis ter filhos. É difícil ter tudo?

    Eu, pessoalmente, vi que não podia ter tudo. Você tem de se perguntar: sou capaz de fazer isso? No meu primeiro casamento, me perguntei e vi que não era capaz de ser a mulher daquele homem que queria e precisava ser cuidado, ter filhos e ainda construir uma carreira e manter uma casa. Mas há um modo de conseguir ter tudo: estar com alguém que seja realmente parceiro.
     

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