Há alguns dias, a americana Lynne Polvino postou em seu Facebook a foto do dever de casa de sua filha, Hazel, de 6 anos. Ele consistia basicamente em um texto com lacunas as quais a criança deveria completar com algumas palavras listadas ao lado.
Back to Work (De volta ao trabalho, em inglês), o título do texto, conta a história de Lisa, uma menina que teve uma manhã péssima em casa e um dia terrível na escola porque sua mãe voltou a trabalhar. Essa atividade chamou a atenção de Polvino e ela resolveu mudar os rumos dessa narrativa.
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“Lisa não estava feliz. Sua mãe voltou a trabalhar”, começa o texto. Por conta da mudança da rotina na casa dessa família, o pai foi escalado para fazer o café da manhã, o qual, segundo a menina, não estava muito bom. Depois de ir para a escola, no entanto, Lisa fica feliz porque o trabalho de sua mãe permite que ela chegue mais cedo em casa para ficar com a filha.
“Isso trouxe muitos pensamentos à tona e a cada frase ia ficando pior. Meu choque e desânimo se transformaram rapidamente em repulsa. Afinal, em que década estamos? Hoje em dia, nós ainda falaremos para crianças que mães que trabalham fora de casa fazem com que suas famílias fiquem tristes? Ou ainda que pais normalmente não lavam a louça ou cozinham?”, disse Polvino ao Today.
Indignada com as mensagens que a história passava, a mãe resolveu reescrevê-la de uma maneira que pudesse refletir a vida que ela quer para seus filhos. A nova versão traduz as lutas por igualdade de gênero e o desejo de uma sociedade livre de misoginia e papéis de gênero pré-estabelecidos.
“Lisa estava feliz. Sua mãe estava de volta ao trabalho”, diz a primeira linha do texto renovado de Polvino. “Lisa precisava chegar em tempo na escola. Sua mãe precisava chegar em tempo no trabalho. Seu pai estava em casa em sua licença-paternidade, cuidando do irmão mais novo de Lisa e contribuindo igualmente para o bom funcionamento da casa. Ninguém estava correndo porque o pai tinha tudo sob controle”, continua a história.
Ela ainda traz pontos importantes, como a divisão justa de tarefas da casa, a licença-maternidade mais longa – com quase um ano – e horários flexíveis no retorno da mãe ao trabalho, entre outros. O texto foi compartilhado em seu Facebook no fim de maio e já tem mais de 3 mil curtidas, além de 1,5 mil compartilhamentos.
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Ela explicou que sua versão do texto não foi uma crítica à professora de Hazel e sim um alerta para a sociedade. “Nós sabemos que as escolas públicas encaram muitos desafios, os quais incluem pouco investimento em materiais atualizados. Eu admiro e aprecio todo o bom trabalho que os professores e administradores fazem”, escreveu a mãe.
Apesar de não ter encaminhado o seu texto para a escola, ela enviou um e-mail para a professora para expressar suas preocupações com a tarefa. A professora a agradeceu por levantar essas questões, disse que concordava com a mãe e prometeu revisar os futuros deveres antes de enviá-los para casa. Além disso, ela também se desculpou pelo transtorno e confirmou que o texto estava em um livro didático desatualizado.
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Lynne concluiu a publicação com uma mensagem especial para todas as mulheres trabalhadoras que atuaram antes dela. “Um muito obrigada e todo respeito as mães de gerações passadas que tiveram que lidar com esse tipo de porcaria”, escreveu.
Confira a publicação de Polvino e, em seguida, a tradução dos textos:
Versão original
De volta ao trabalho
Lisa não estava feliz. Sua mãe voltou a trabalhar.
Antes de Lisa nascer, sua mãe trabalhava em um grande escritório. Ontem, ela disse a Lisa que ela estava voltando a trabalhar.
A manhã foi terrível. Lisa precisava que chegar na escola em tempo. Seu pai precisava chegar ao trabalho em tempo. E, agora, sua mãe também estava na correria.
O pai de Lisa fez o café da manhã. Não estava muito bom. E ele pediu que Lisa lavasse a louça. Isso não foi muito bom também.
Lisa não gostou de seu dia na escola. No caminha para casa, ela pensou sobre isso. “Queria saber a que horas minha mamãe chegará para casa. Ficarei solitária em casa.”
Porém, quando Lisa chegou em casa, lá estava sua mãe. “Eu sai mais cedo do escritório para que pudéssemos ficar juntas depois da escola”, disse ela.
Lisa se sente bem agora.
Fim
Versão de Lynne Polvino
De volta ao trabalho
Lisa estava feliz. Sua mãe voltou ao trabalho.
Antes de Lisa nascer, sua mãe trabalhava em um grande escritório. Porque a empresa valorizava suas importantes contribuições, seu chefe ofereceu quase um ano de licença-maternidade paga e tempo flexível no seu retorno.
A manhã foi incrível. Lisa precisava chegar em tempo na escola. Sua mãe precisava chegar em tempo no trabalho. Seu pai estava em casa em sua licença-paternidade, cuidando do irmão mais novo de Lisa e contribuindo igualmente para o bom funcionamento da casa. Ninguém estava correndo porque o pai tinha tudo sob controle.
O pai de Lisa fez o café da manhã. Estava muito bom. E ele fez com que Lisa lavasse a louça porque qualquer ser humano funcional deve aprender a limpar sua bagunça e a ajudar os outros.
Lisa gostou de seu dia na escola. Ela gostou da aprendizagem baseada em jogos e da relação estreita entre alunos e professores em sua sala de aula da escola pública de última geração. Seus professores eram bem pagos e felizes. No caminho para casa, ela pensou sobre isso. “Eu me pergunto se me tornarei uma engenheira como a mamãe quando eu crescer, ou uma professora, ou outra coisa. Posso fazer qualquer coisa!”
Quando Lisa chegou em casa, lá estava sua mãe. Lisa passou a tarde no programa de aprofundamento escolar gratuito do governo federal, onde eles oferecem aulas de robótica com Lego e de pintura, e agora toda sua família estava reunida em casa. Lisa estava orgulhosa por estar crescendo em uma sociedade livre de papéis de gênero pré-estabelecidos e de misoginia.
Lisa se sente bem agora.
Fim